2. Hong Kong

Hong Kong continua longe dos tempo áureos da década de 80, mas vão-se produzindo alguns filmes que rivalizam nas bilheteiras com Hollywood. Stephen Chow Sing-chi continua a dominar o box-office, com dois records consecutivos: «Shaolin Soccer» (2001) e «Kung Fu Hustle» (2004). A Columbia preferiu não mostrar este último no FEFF, com estreia pan-europeia programada para o início de Junho.

A cantora italiana Gianna Nannini, foi convidada especial do FEFF e esteve presente na projecção de «Beyond Our Ken» (primeira imagem, com Gilliam Chung), que inclui uma canção sua na banda sonora. A acompanhar o realizador Pang Ho-cheung (à esquerda) esteve também o actor Derek Tsang, do outro filme de Pang exibido no festival, «AV».

Johnnie To Kei-fung a rodar «Yesterday Once More» na Praça Matteoti, em Udine, com Andy Lau Tak-wah a seu lado. (Foto dossier imprensa FEFF.)

«McDull, Prince de la Bun», sequela de «My Life as McDull».

Pang Ho-cheung é um dos habitués de Udine e este ano pudemos assistir a duas das suas obras. Mas se alguma expectativa havia quanto a «Gung Chu Fook Chau Gei» [«Beyond our Ken»], por ser mais negro e mais maduro, não esperávamos surpresas de «AV», onde um grupo de jovens decide pôr em prática um plano elaboradíssimo para passarem por produtores de filmes pornográficos, com vista a contratarem a estrela japonesa Amamiya Manami (a interpretar-se a ela mesma). Não chega a ser "chunga", apenas infantil.

Se sobram dois ou três gags em «AV», onde se inclui uma divertida referência ao FEFF, «Beyond our Ken» perde-se na vacuidade. O filme desenvolve situações de suspense baseadas na necessidade extrema de uma jovem (Gillian Chung, do duo pop Twins) entrar no apartamento do ex-namorado para "recuperar" fotografias dos dois nus, depois de uma ter sido distribuída na Internet. A reacção de uma pessoa normal seria confrontar directamente o indivíduo de imediato, mas o filme força a premissa em que as duas personagens femininas tentam entrar à socapa na casa do exibicionista. O verdadeiro mal já estava feito (uma foto online) e, tendo em conta tratar-se de uma imagem em formato digital, não seria difícil de prever a existência de cópias em vários locais e suportes. Vencendo o aborrecimento, não pudemos deixar de pensar, ao longo do filme, que tudo estava a ser demasiado directo, e que tinha de surgir certo twist... O qual, inevitavelmente, acabaria por se materializar.

Mais interessante, na selecção de Hong Kong, foram os thrillers policiais apresentados. «Love Battlefield» e «One Nite in Mongkok», já comentados nestas páginas, trazem duas propostas modernas e díspares de abordagem do género. «Baau Lit Diy Shut» [«Explosive City»], por outro lado, poderia ser uma produção dos anos 80: sem artifícios, sem relações amorosas, restringe-se à acção, enquanto um polícia rebelde procura retaliar contra uma mente criminosa, um japonês que controla um grupo de assassinos, recrutados quando crianças (daí ser tratado afectuosamente por Otosan). O vilão é interpretado por Sonny Chiba, num elenco encabeçado por Alex Fong Chung-sun e Simon Yam Tat-wah. Entretém, mas, em última análise, o texto é supérfluo e com pouco sentido.

A única entrada de animação do festival foi «Mak Dau Boh Loh Yau Wong Ji» [«McDull, Prince de la Bun»], sequela do popular filme de 2001, novamente realizado por Toe Yuen, desta vez abordando a história dos pais do porquinho McDull. O estilo de humor e um certo surrealismo que rejeita uma continuidade narrativa mantêm-se, bem como a dificuldade em seguir os diálogos a 100 à hora via legendagem (a senhora responsável pela tradução simultânea para italiano deve ter-se divertido muito com algumas sequências verdadeiramente metralhadas). Muito do humor assenta na repetição de palavras e frases, algo que nunca resulta em gargalhadas, mas apenas em sorrisos. Os filmes assentam muito na cultura de Hong Kong e serão melhor apreciados — e entendidos — pelos nativos e residentes no território.

Continua

3ª Parte: Japão

5/06/05

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