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SICAF 2006 - 10th Seoul International Cartoon & Animation Festival
서울국제만화에니메이션페스티벌

Poster SICAF I — Introdução

II — Filmes

--1. Longas
---1.1 Competição
---1.2 Fora de Competição

--2. Curtas
---2.1 Profissional
---2.2 Escolas
---2.3 Panorama International
---2.4 Siggraph Best 2005
---2.5 Jiří Trnka
---2.6 Best of SICAF

III — Palmarés


I — Introdução


| Preliminares |
O Festival Internacional de Cartoon e Animação de Seul realizou a sua 10ª edição no mês de Maio, de 24 a 28, antecipando as datas em relação aos anos anteriores, quando o evento decorria em Agosto.

O SICAF é um dos mais importantes festivais de animação realizados na Ásia, incluindo uma vasta e diversificada selecção de curtas-metragens, algumas longas em competição, diversas retrospectivas e masterclasses com cineastas internacionalmente reputados.

Exterior da Estação de Yongsan, junto aos acessos ao I'Park Mall (esquerda) e o Digital Park (direita).
Área sobre a Estação de Yongsan. O edifício à direita, com três faixas azuladas, é o local onde se situa o multiplex CGV. Clique na imagem para um ângulo alternativo
(vista do interior do Digital Park).
Corredor de acesso a uma área exterior e saída de salas, decorado com vários posters autografados.
Acesso do 6º para o 7º andar. À direita é visível um poster do filme «City of Violence», de Ryu Seung-wan, que estrearia alguns dias depois.
Entrada para as salas CGV.
| Salas e Generalidades |
O festival realizou-se em três salas do complexo CGV situado no I'Park Mall, junto à estação de comboios e metropolitano de Yongsan. Apenas duas sessões, ao ar livre, decorreram no Seoul Trade Exhibition Center (SETEC), local onde estiveram patentes, paralelamente e em complemento das projecções, exposições sobre banda desenhada (manhwa) e animação.

O I'Park Mall é uma zona comercial e de restauração, com ligação ao Digital Park, um edifício com vários andares dedicados a fotografia, vídeo, jogos de computador, telemóveis e outros produtos de electrónica.

O CGV situa-se no piso 6 e 7. O primeiro tem um hall espaçoso onde se encontram as bilheteiras e se vende pipocas e outros produtos alimentares para consumir nas salas. Existem também terminais de computador para compra de bilhetes, para quem preferir e, na altura, encontravam-se à disposição meia dúzia de postos para quem quisesse experimentar a nova XBox 360, metade dos quais em confortáveis sofás.

O acesso às 10 salas do complexo — o SICAF usou a 7, 9 e 10 — fazia-se por uma mesma entrada, onde por vezes se geravam algumas filas e onde o público do festival se mostrava indistinto do público de «O Código Da Vinci» ou «Missão: Impossível 3».

O CGV apresentou seis sessões por dia, iniciando-se a primeira às 11 horas e a última às 21. No sábado, 27, efectuaram-se duas sessões à meia-noite, que se prolongaram até cerca das 6 da manhã, com um conjunto de filmes, longas e curtas, que poderiam também ser vistos nas sessões regulares.

Algumas curtas tinham legendas apenas em coreano. Uma delas era brasileira, pelo que só podemos sentir pena pelos restantes espectadores internacionais. As restantes eram um par de filmes em francês (com que normalmente não lidamos mal, dependendo da pronúncia) um da Letónia, um russo e os clássicos do checo Jiří Trnka.

| Programação |
As secções competitivas principais englobavam cinco longas-metragens e perto de 40 curtas. Na secção School/Graduation integravam-me 60 curtas-metragens. Somava-se ainda uma vintena de filmes feitos para televisão, uns 30 por encomenda e uma dúzia de curtas para Internet.

Fora de competição, apresentou-se uma sessão sob a epígrafe Korean Panorama, com um total de 12 obras, e duas sessões no âmbito do International Panorama, com perto de 20 títulos.

SICAF Perspective englobava várias subsecções, onde se procurava apresentar as novas tendências no campo da animação e utilização de 3D. Era também aí que se incluía a selecção dedicada ao cinema de animação francês, com obras desde o início do Século XX.

A secção Inpiration of Asia reuniu quatro longas-metragens, do Japão («The Book of the Dead»), Coreia do Sul («If You Were Me: Anima Vision» e uma cópia restaurada de «Robot Taekwon V», de 1976 — esta sem legendas em inglês) e Índia («Hanuman»).

O SICAF apresentou também um conjunto de filmes destinados ao consumo familiar, agrupados na Family Square. Além de curtas de várias proveniências, projectou-se «Kiki's Delivery Service» de Miyazaki Hayao, «Pom Poko» e «Goshu, the Cellist», de Takahata Isao. Infelizmente, a legendagem foi apenas em coreano. (Ainda assim, não foi difícil apreciar «Goshu», sentir a atmosfera e entender os contornos gerais da história.)

O remanescente da vasta selecção do festival foi arrumado nas secção Jury Special Program, Retrospective & Flashback e Best of SICAF. A primeira incluía trabalhos dos membros do júri: Michael Dudok de Wit, Nishimoto Kiyoshi, Tamás Patrovits e Ferenc Cakó. Nas retrospectivas, destacavam-se os nomes de Jiří Trnka e Yuri Norstein.

As masterclasses foram digiridas por Ferenc Cakó, Takahata Isao, Michael Dudok de Wit, Kawamoto Kihachiro, John Finnegan e Florent Mounier. Cakó, Dudok de Wit e Finnegan faziam parte dos júris internacionais — os dois primeiros do de curtas, o último do de longas.


II — Filmes


Dado o grande número de obras visionadas — 8 longas-metragens, mas mais de 90 curtas — os comentários não são exaustivos, destacando-se aquelas que deixaram memórias mais sólidas. Por razões práticas, usamos neste texto apenas os títulos internacionais (em inglês, por norma). (Tal pode ser sujeito a revisão.)

| 1. Longas |

1.1 Competição

O Seoul International Cartoon & Animation Festival seleccionou cinco longas-metragens para a competição. «Fullmetal Alchemist the Movie – Conqueror of Shamballa» foi projectado sem legendas em inglês, pelo que o seu visionamento foi excluído.

Fire Ball
Fireball.
Pettson and Findus
Pettson and Findus.
Nitaboh
Nitaboh, the Founder of Tsugaru Shamisen.
«Fire Ball» (Taiwan), dirigido por Wang Toon, tem por base a história clássica chinesa “Viagem para o Oeste”. Aqui, o Rei Macaco é castigado pelos deuses e enviado para a Terra, onde deve acompanhar o Monge Tripitaka numa longa viagem em busca de escrituras budistas. O filme esforça-se por ser moderno, recorrendo a muitas piadas anacrónicas e, apesar do tópico profundamente enraizado na cultura chinesa, procura também ser comercial e internacional. Não copiará exactamente a estafada fórmula Disney, mas anda muito perto. Competente no que toca à animação.

Com vista a um público mais adulto, «Immigrants» (EUA), de Gabor Csupo, revelou-se um divertimento aceitável, mas com uma estrutura narrativa, com vários “episódios” isoláveis, que remete para a televisão (na origem, seria um piloto para uma série). O filme é maduro no tom e nos temas, mas com contenção, com um olho numa classificação etária aceitável e numa passagem televisiva sem problemas.

«Pettson and Findus – The Tomte Machine» (Suécia/Alemanha/Dinamarca), de Jørgen Lerdam e Anders Sørensen, também denota uma relação com o meio televisivo. As personagens, adaptadas de livros ilustrados do autor sueco Sven Nordqvist, são populares na televisão escandinava e este é já o terceiro filme produzido. Conto natalício, apto para consumo familiar, preocupado apenas em contar a história sem as concessões que por vezes se esperam de produtos comerciais. Animação tradicional capaz, mas pena que a projecção (vídeo) não tivesse sido perfeita: trata-se de uma produção vídeo em widescreen (16:9), mas a apresentação foi em 4:3 (comprimido, i.e., com distorção).

«Nitaboh, the Founder of Tsugaru Shamisen» (Japão), de Nishizawa Akio, ilustra a vida de um rapaz pobre que cresce para se tornar um mestre na arte de tocar shamisen, criando um novo estilo, perante a resistência dos mais conservadores. Uma boa história e mais um bom exemplo do domínio dos mecanismos dramáticos no cinema de animação japonês.

1.2 Fora de Competição

Final Fantasy VII
Final Fantasy VII: Advent Children.
«Final Fantasy VII: Advent Children» é uma sequela do jogo de computador “Final Fantasy”. Em termos de seguir o argumento e entender quem são todas aquelas personagens, será essencial conhecer os jogos, mas o filme não deixa de ter uma história com princípio, meio e fim. Mas ocuparia demasiado espaço a tentar resumi-la. A animação 3D tem grande qualidade e “realismo”, mas é pena que a fonte não fosse 35mm, aspecto que distrairá menos em DVD.

Ainda do Japão, mas num pólo oposto, low-tech e low-budget, puramente orgânico e “antiquado”, vimos «The Book of the Dead» — filme em marionetas do octogenário Kawamoto Kihachiro. Na época em que o 3D tende a dominar o mercado, esta obra tem um travo quase “exótico”. As técnicas são as mesmas de há décadas, a história é tradicional — sobre amor e devoção budista no Século VIII —, resultando num filme intemporal. Só a qualidade da película nos indica tratar-se de uma obra recente, pois formalmente poderia ter sido produzida há 10 ou há 40 anos.

Book of the Dead
Book of the Dead.
Em Jeonju, foi projectado o terceiro filme por segmentos produzido pela Comissão Nacional dos Direitos Humanos da Coreia do Sul, «If You Were Me 3». A série é constituída por curtas-metragens subordinadas ao tema da descriminação e, em 2005, surgiu um filme com os mesmos princípios mas em animação: «If You Were Me: Anima Vision».

«Anima Vision» engloba seis curtas-metragens: «Day Dream», «Animal Farm», «At Her House», «The Flesh and Bone», «Bicycle Trip» e «Be a Human Being». Os realizadores são dez, pois «At Her House» é assinado por um projecto de cinco pessoas.

«Bicycle Trip» é da autoria de Lee Seong-gang, realizador de «My Beautiful Girl, Mari» (2001). «Be a Human Being», uma crítica em forma de metáfora sobre o sistema educativo coreano (todos os jovens são macacos enquanto não terminarem a universidade) tem a assinatura de Park Jae-dong, também conhecido cartoonista, com o qual tivemos a oportunidade de conviver por breves momentos.

Numa sessão única matinal, foi projectada a primeira longa-metragem de produção indiana, grande sucesso no país de origem: «Hanuman», com base em lendas e tradições hindus. Hanuman é uma encarnação de Lorde Shiva, cuja missão é ajudar o Lorde Rama a lutar contra o Mal e a libertar a mulher deste das garras do demónio Pavana. Será certamente mais fácil de seguir por parte de quem tenha um conhecimento profundo da cultura e religião em causa, mas o realizador V.G. Samant procurou (surpresa!) um produto comercial, com um certo pendor internacional: o deus faz muitas tropelias enquanto criança e acaba por se assemelhar a um super-herói dos tempos modernos.

Em termos narrativos, é difícil de entender porque é que surgem tantas batalhas (algo sangrentas; nesse aspecto o conceito ocidental de animação infantil não é aplicado) e obstáculos, quando parece que os poderes das personagens poderiam resolver tudo com um estalar de dedos. A qualidade da animação é limitada, o que derivará do orçamento reduzido. Muito planos denotam uma forte cintilização (aliasing) das linhas, o que indica que não se trabalhou com um sistema vectorial e que muitos dos desenhos foram transpostos para o computador sem a resolução adequada.

16/07/06

(Continua)
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