2.3 Panorama Internacional
O SICAF reuniu na secção Panorama uma grande diversidade de títulos, com elevada qualidade média, alguns dos quais não desdenharíamos ver em competição.
«At Home with Mrs. Hen» (Canadá, 7' 52”) funciona sobretudo pela caracterização dos bonecos (não tem diálogos), uma família de galinhas, onde a mãe têm de suportar um marido e um filho que passam o tempo a jogar Playstation, enquanto ela fica presa à lida da casa. Um dia, decide ripostar.
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Gustavo. |
«Barber Shop» (Irlanda, 2' 30”) é apenas um pequeno e divertido clip musical, com as várias personagens a cantarem, numa barbearia. «Emilia» parece uma personagem de Tim Burton: uma menina de 5 anos, fã de Marylin Manson e com poucos amigos na escola. Um final plano e simplista.
«The True Story of Sawney Bean» (Canadá, 10' 39”) relata, em forma de poesia, recitada pela narradora, a lenda de Sawney Bean, um famoso canibal escocês. A veracidade da história é discutível, mas os relatos abundam. Inspirou o filme «The Hills Have Eyes», de Wes Craven, e uma canção dark folk da banda Sol Invictus. A animação é curiosa: rabiscos sobrepostos que vão sendo apagados à medida que surgem novos desenhos.
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Black on White. |
«Black on White» (Bulgária, 4' 30”) é uma pequena gema sobre discriminação, onde a banda sonora tem um papel importante. Pássaros, pretos e brancos, com lista horizontais e verticais, etc.
«About a Goat and a Ram» (Rússia, 12' 50”) conta a história de dois caprinos que usam a sua verve para vencerem uma matilha de lobos.
Pequenos filmes com ideias à medida: «Gustavo» (Austrália, 3' 57”), uma personagem muito peluda, «Street» (Holanda, 1'), um homem tenta atravessar uma rua movimentada, «The Fountain» (Espanha, 2' 57”) uma simbiose forçada entre um menino e um pássaro. O último em 3D, os primeiros em 2D.
2.4 Siggraph Best 2005
Esta secção procurou mostrar o que de melhor se tem feito no âmbito das curtas em formato digital, com base em títulos seleccionados e/ou premiados pelo Siggraph 2005 — 32nd International Conference on Computer Graphics and Interactive Techniques.
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9. |
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Gopher Broke. |
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In the Rough. |
«Cubic Tragedy» (Taiwan, 3'30”) tem um conceito original e divertido. Em animação por polígonos, uma mulher maquilha-se usando ferramentas 3D. Mas as coisas não correm na perfeição. É um caso em que animação digital básica, que não passou da fase dos modelos, não só funciona como faz parte do conceito.
«9» (EUA, 10' 28”), de Shane Acker, é a curta que Tim Burton quer expandir para longa-metragem. A utilização do 3D é excelente, graças não só à técnica, mas também ao design das personagens, criaturas de pano, que vagueiam num mundo estranho, outrora dominado pelos humanos. Há um monstro mecânico à solta. Óptima atmosfera.
«Overtime» (França, 4' 55”), com algum humor negro, conta a história de bonecos de pano — uma espécie de Sapo Cocas, às dezenas — confrontados com a morte do criador. Ou talvez não entendam o conceito de morte. Estranho, poético, divertido, talvez macabro.
«Fallen Art» (Polónia, 5' 41”) mostra uma representação diferente dos horrores da guerra, onde ocorrem experiências artísticas limites e violentas. Também no campo humor/horror «East End Zombies» (Reino Unido, 3' 10”) foi uma proposta interessante. Ainda no âmbito divertido barra sangrento, foi possível ver o sarcástico «Learn Self Defense» (EUA, 5' 1”)
«In the Rough» (EUA, 4' 50”) é um divertido conto sobre um homem das cavernas que discute com a mulher. E as coisas não melhoram nem um pouco quando deambula pelo exterior. «Gopher Broke» (EUA, 3' 44”), também de bom humor e no estilo clean 3D norte-americano, mostra as tentativas de um roedor de se apropriar dos vegetais que passam nos camiões em circulação por uma acidentada estrada.
«Work in Progress» (França, 4' 17”) assenta na repetição e no ritmo da animação acentuada pela música. Um prédio em construção onde vão surgindo cada vez mais trabalhadores (por duplicação da mesma personagem).
Outros títulos ofereciam interessantes propostas visuais sem conteúdo narrativo particularmente importante, como «Dice» (Japão, 1' 56”), assente na animação de um único dado, repetido dezenas de vezes, em variadas composições e coreografias, «Helium» (França, 5' 15”) ou «La Migration Bigoudenn» (França, 2' 31”), com velhotas e crépes.
2.5 Jiří Trnka
Quem aprecia ou trabalha no campo da animação de modelos conhece o nome de Jiří Trnka (1912-1969) — mesmo que não saiba pronunciá-lo (não me perguntem).
O SICAF dedicou duas sessões ao realizador checo. Aquela a que assisti incluía um documentário, «Jiří Trnka: Pupper Animation Master» e quatro curtas-metragens — «Story of a Contrabass» (1949, 13'), «Merry Circus» (1951, 12'), «The Cybernetic Grandmother» (1962, 29') e «The Hand» (1965, 18').
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The Hand. |
O documentário estava legendado em inglês, mas não as curtas. Em todo o caso, algumas tinham muito poucos diálogos e, de um modo geral, o seu valor essencial residia nas técnicas de animação. Não deixa de surpreender que, há uns 50 anos, Trnka executasse complexos movimentos de câmara em stop-motion, muito antes de haver computadores para controlar os movimentos de câmara de modo a obter um fluir natural frame a frame. É certo que, por razões de economia, a animação por vezes pára para que a câmara avance, mas o resultado final retém, ainda assim, muita fluidez.
O destaque vai para a última obra do animador, «The Hand», uma parábola sobre a tirania e a censura. Um artista entretém-se a fazer vasos, mas é constantemente pressionado por uma mão que lhe entra pela casa adentro e o obriga a fazer estátuas dela. No fundo, um conceito que se pode aplicar à vida de muitos de nós, que nem vivemos sob regimes totalitários.
Na outra sessão foi projectada a longa-metragem «Prince Baya» (1950).
2.6 Best of SICAF
O festival apresentou três sessões com uma selecção dos melhores títulos de edições anteriores. Assisti a uma delas.
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A Fish with a Smile. |
«Gilbert & Sullivan: The Very Models» (RU, 1998, 16') é um musical sobre os famosos dramaturgos britânicos de finais do Século XIX, em animação stop-motion. A técnica é irrepreensível, mas admito algum problema com o inglês cantado, que estava a pedir umas legendazitas auxiliares. Pormenor curioso: a projecção (errada) em full-frame permitia vislumbrar alguns adereços “fora de cena”, como suportes e projectores.
«A Fish with a Smile» (Taiwan, 2005, 9' 40”) é um simpático pequeno filme animado, o primeiro adaptado do trabalho do cartoonista/ilustrador Jimmy — já haviam sido produzidas longas-metragens em imagem real a partir da sua obra, incluindo «Turn Left Turn Right» e «The Floating Landscape».
Já tinha visto «Fast Film» (Áustria/Luxemburgo, 2003, 14'), uma curiosa experiência com recortes de papel onde se projectam imagens de vários clássicos do cinema, nas mais diversas formas de interacção, mas quase sempre em jeito de perseguição. Apesar do título, não é um filme que se veja mais do que uma vez com prazer e o conceito cansa depois de alguns minutos.
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Eternal Gaze. |
«Eternal Gaze» (EUA, 2003, 15' 50”) inspira-se na vida (sobretudo na morte) e obra do escultor Alberto Giacometti. A animação 3D a preto e branco, premiada no Siggraph, evoca um ambiente negro e gótico e transmite grande expressividade com base nas formas alongadas da obra do escultor.
Outros títulos, também interessantes, sobretudo pelas técnicas de animação, foram «A Little Adventure» (France, 2001, 5' 30”), «Stormy Night» (Canadá, 2003, 9' 49”) e «L'Homme sans Ombre» (Suiça/Canadá, 2004, 9' 35”).
16/07/06
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