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Jeonju Internacional Film Festival 2006
2006 전주국제영화제

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Poster JIFF7 I — Introdução

II — Filmes
--1. Coreia
--2. Japão
--3. China
--4. Filipinas
--5. Outros
--6. Curtas
------6.1 Animação
------6.2 Imagem Real

III — Palmarés

All for Love, B420, Blossom Again, Don't Look Back, Digital Shorts by Three Filmmakers, Familia, The First on the Moon, Haze, Heavenly Path, If You Were Me 3, Inner Circle Line, Magicians, The Masseur, Mrs., Offside, Princess Aurora, Reason, Debate and a Story, Riding Alone for Thousands of Miles, Romance, A Spring for the Thirsty, Who's Camus Anyway?


I — Introdução


| 1. Preliminares |
O Festival Internacional de Cinema de Jeonju (JIFF) realizou este ano a sua 7ª edição, entre 27 de Abril e 5 de Maio. A cidade de Jeonju, célebre pelo fabrico de papel e pela gastronomia, é a capital de Jeollabuk-do (Província de Jeolla Norte), ficando situada 250 Km a sul de Seul.

O festival tem crescido em dimensão nos últimos anos, passando por redefinições do foco das secções principais, mas concentrando-se sempre no cinema independente. Até há pouco referido como sendo o terceiro maior festival de cinema sul-coreano, o JIFF foi este ano considerado num artigo da Variety, assinado por Darcy Paquet, o mais importante evento cinematográfico do país depois de Busan (PIFF), trocando-o, assim, de posição com o Bucheon International Fantasy Film Festival (PiFan), que no ano passado atravessou uma séria crise.

| 2. Programa |
O JIFF é constituído por duas secções principais, Indie Vision — que inclui um conjunto de primeiras ou segundas obras — e Digital Spectrum — dedicado a filmes que recorrem aos suportes digitais para “descobrir novos caminhos na estética cinematográfica”. Cada uma destas secções incluiu doze filmes provenientes da Ásia, Europa e Américas.

A animação na rua principal do "Cinema District" de Jeonju incluía espancar o Super-Homem.
Projecção ao ar livre e JIFF Center.
Academy e CGV, dois dos cinemas do festival, situados em frente ao JIFF Center).
Interior de uma das salas Megabox. Sete dos dez ecrãs do multiplex estiveram ao serviço do festival.
Um dos pontos altos do festival é o projecto Digital Short Films by Three Filmmakers, que existe desde a primeira edição do JIFF. O festival suporta curtas-metragens de três realizadores asiáticos convidados, que serão estreadas em Jeonju. Estas obras têm posteriormente sido apresentadas noutros festivais; este ano anunciava-se o convite por parte do Festival de Locarno para exibir o último tríptico.

O Festival de Jeonju tem uma oferta de filmes diversificada, que não se confina ao cinema de arte e ensaio e independente. A secção Cinemascape apresenta um naipe de títulos que reflecte as tendências do cinema internacional, de «Espelho Mágico», de Manoel de Oliveira, a «House of Bugs», de Kurosawa Kiyoshi, passando por «Homecoming», o episódio de “Masters of Horror” dirigido por Joe Dante. Esta secção incluía também curtas-metragens, divididas tematicamente em quatro sessões e onde se projectou a animação portuguesa de Regina Pessoa «História Trágica com Final Feliz». O outro filme português que pôde ser visto no JIFF foi «Douro, Faina Fluvial» (1931) de Oliveira, integrado numa sessão sob o tópico Labor: Past and Present.

O cinema coreano tem direito a um destaque especial, programado em duas secções principais: Korean Cinema on the Move (filmes independentes) e Korean Cinema Showcase (cinema mais comercial), além de várias sessões de curtas-metragens.

Quando a retrospectivas, este ano as escolhas recaíram no cinema do indiano Ritwik Ghatak e Filmes Proibidos da União Soviética (Rússia, Ucrânia, Geórgia e Turquemenistão).

Nos primeiros dias do festival, realizaram-se três Midnight Obsessions — sessões de cinema que se prolongavam noite fora, com três ou quatro filmes seguidos. David Cronenberg: The Early History of Violence (quatro filmes do período inicial do realizador canadiano), The Music Lovers (três filmes com temática musical: «20 Centímetros», «Brothers of the Head» e «Habana Blues») e In the Mouth of Madness («The Piano Tuner of Earthquakes», «Lunacy», do checo Jan Svankmajer e «Rampo Noir», horror japonês em segmentos), constituíram essas obsessões.

Num parque de estacionamento convertido em sede do festival, montou-se um ecrã gigante, onde se realizaram projecções, gratuitas e ao ar livre, de filmes recentes. A maioria das obras eram coreanas, com as excepções de «Oliver Twist» (Reino Unido), «Initial D» (Hong Kong) e «La Maison de Himiko» (Japão). Os filmes coreanos tinham legendagem em inglês, os estrangeiros em coreano.

Realizaram-se seminários e duas masterclasses com actores; uma com o coreano Choi Min-sik e outra com o japonês Takenaka Naoko. Os programas ocupavam a maior parte do dia e incluíam a projecção de um filme («Failan», com Choi, e «Sayonara Color», com Takenaka).


| 3. Radiografia do Festival |
Nesta primeira visita à Coreia do Sul e a um festival de cinema local, não poderíamos deixar de tomar nota das características específicas do evento e em que medida se distingue dos festivais europeus que temos vindo a conhecer ao longo dos últimos anos e a registar em detalhe nestas páginas.

Salas. O JIFF usou catorze ecrãs, dos quais o Sori Arts Center (uma sala de grande dimensão, com plateia e dois balcões) foi apenas usado para as sessões de abertura e encerramento e o Centro Cultural da Universidade Nacional de Chonbuk recebeu um número limitado de sessões, bem como a Midnight Obsession.

Guias na retrete. O festival usava algumas formas invulgares de divulgar informação.
O multiplex Megabox formou o núcleo de projecções do festival, cedendo sete das suas dez salas (a marca Megabox foi um dos patrocinadores principais do festival). Os ecrãs complementares situam-se no mesmo quarteirão, uma zona conhecida como Cinema Street ou District: CGV 4, Academy Art Hall 2, Jeonju Cinema 1 e Primus 2. Todas as salas tinham boas condições de projecção e visionamento, mesmo as que se situavam em edifícios mais antigos.

Para ir ao Sori Arts Center ou à Universidade de Chonbuk era necessário recorrer ao táxi ou aos autocarros, mas apenas para a sessão de abertura foi necessário sair do Cinema District.

Público. As audiências coreanas poderão ser as melhores do mundo, para quem quer ver um filme sem constantes interferências em redor. A maioria das projecções decorreu em silêncio absoluto, aparte os (raros) episódios de telemóveis que tocam ou (menos raro) que se acendem.

As projecções arrancavam com uma introdução gravada com os dois embaixadores/relações públicas do festival, onde se solicitava que se desligassem os telemóveis e se entregassem câmaras e comes e bebes à entrada (o que nem sempre sucedeu, mas não ouvi ninguém a mastigar ao pé de mim). Diziam ainda: “talvez saiba que o filme decorre até aos créditos finais, mantenha-se no seu lugar com uma salva de palmas até que as luzes se acendam.”

Para a quase totalidade do público do festival, é normal assistir aos créditos até ao final, mesmo quando são numa língua estrangeira. Fica por constatar se o mesmo sucede em exibições comerciais ou se tal se limita aos festivais de cinema.

Sendo o aprazível silêncio norma, isso não significa que o público não reagisse aos filmes, de forma mais ou menos intensa, consoante o material em causa. O modo como muitos reagiam a certas cenas de tensão — com sonoros “ooooooooh”, quando alguém estava para cair do topo de um edifício, por exemplo —, reflecte uma concentração na obra projectada a que não estamos muito habituados, num contexto de comportamento de massas.

Outra característica da audiência é o facto de ser constituída maioritariamente por adolescentes. O facto de serem jovens não os impede de terem curiosidade por todos os géneros de filmes, locais e estrangeiros, seja um blockbuster coreano ou um filme russo dos anos 60.

No final de muitas das sessões havia participação de realizadores e actores, com intervenção da audiência. É também de registar o interesse que este público tão jovem denota pelo cinema e a pertinência das perguntas, referentes aos temas abordados ou técnicas utilizadas.

Animação. Além dos filmes, havia muita actividade em redor das salas onde decorria o festival, com espectáculos, demonstrações e performances de rua, além de concertos no mesmo local onde se efectuavam as projecções ao ar livre. Passaram por Jeonju bandas coreanas, como os Fortune Cookie, 3rd Line Butterfly e Sogyumo Acacia Band, mas também japonesas e até uma brasileira, chamada Sorri.

Organização, Guia e Catálogo. O processo para seleccionar filmes e levantar bilhetes é facilitado pela adequada organização das publicações do festival. Além do convencional catálogo, com informação detalhada, havia por toda a parte um guia gratuito, com sinopses mais breves e a calendarização de todas as sessões, contendo a informação essencial: título, duração, sala e página onde consultar os dados do filme. A cada sessão/filme era atribuído um número único, o que poupava interacção desnecessária com os voluntários/funcionários das bilheteiras.

Quem frequenta festivais com mais de uma sala pode imaginar o prático que este sistema poderá ser, pois em vez de pedir x bilhetes para este filme, para aquela sala, à hora tal, só tem de preencher um pequeno rectângulo de papel com os números desejados e entregá-lo na bilheteira.

Com excepção das Midnight Obsessions, a última sessão do festival era às 20h00, sendo a primeira às 10h30 ou às 11h00 da manhã. Com outras sessões às 14h30 e às 17h00, era possível assistir a um máximo de quatro projecções por dia, com tempo disponível para as refeições ou para um café. Os horários permitiam também cerca de 20 minutos para as conversas com os cineastas, no final de algumas sessões. Alguns filmes tinham Guest Talk, um período alargado a uma hora de diálogo entre convidados e audiência, para o qual se instalava uma mesa e cadeiras defronte da plateia.

Na maioria das sessões havia um tradutor disponível, sendo solicitado aos estrangeiros que se juntassem na mesma área da sala. Em mais do que uma ocasião, houve alguém a traduzir apenas para mim, mas também houve casos em que a tradução não existiu — por exemplo, quando se traduzia de japonês para coreano — e outros em que não era necessária — quando os convidados usavam o inglês.

Quanto aos filmes, eram raros os que não possuíam legendagem em inglês, sendo tal afixado nos painéis informativos. O coreano (como o chinês e o japonês) é hoje escrito por norma da esquerda para a direita, mas pode também ser registado de cima para baixo (e da direita para a esquerda). A legendagem em coreano pode assim ser projectada num rectângulo vertical do lado direito do ecrã. Num filme no formato 1.85:1 o texto fica fora da imagem, sobrepondo-se a este no caso de se tratar de scope. Mesmo neste caso, a interferência com a imagem é mínima (não se nota o rectângulo excepto em cenas muito escuras), e o sistema permite o recurso a cópias internacionais com legendas impressas em inglês.

Para um mesmo horário, era possível escolher com base numa oferta que ia até nove sessões. Cada sessão era repetida duas ou três vezes, em horários alternativos.

O recurso a um verdadeiro exército de voluntários parece ser uma característica muito própria dos festivais coreanos. Os jovens de amarelo estão em toda a parte: nas bilheteiras, no exterior e no interior das salas, durante a projecção, e até a controlar o trânsito no quarteirão (a Cinema Street esteve encerrada ao trânsito durante o festival).

Há muitos jovens que querem ser voluntários, para o que precisam de passar por um processo de candidaturas e de se submeterem a entrevistas. Ao que parece, a concorrência é grande. Os voluntários estavam atentos às necessidades dos estrangeiros mais confusos. Sempre que necessário (sobretudo no primeiro dia) houve alguém disponível para nos guiar pessoalmente até à sala para onde pretendíamos ir ou mesmo para nos indicar o lugar, se nos sentissemos inseguros sobre o significado dos caracteres para “fila” e “cadeira”.

Números. O JIFF trabalhou com um orçamento de 2,350,000,000 de wons (perto de €2 milhões de euros) e exibiu 194 filmes de 42 países.

A taxa de ocupação das salas foi de 70%, menos do que os 79% do ano anterior, mas houve um acréscimo geral de público: 85 000 (dos quais 59 000 correspondem a bilhetes pagos), face aos 69 000 de 2005.

A imprensa internacional não tem ainda uma presença muito forte no festival: de entre os 693 jornalistas acreditados, apenas 43 eram estrangeiros.

O festival contou com a ajuda de 263 voluntários.

Sessão de Abertura

O JIFF foi inaugurado no dia 27, quinta-feira, com a projecção de «Offside», do iraniano Jafar Panahi. Cerca de 60 minutos antes da hora prevista para o filme se iniciar, uma multidão juntou-se para assistir à passagem dos convidados pela passadeira vermelha que conduzia à entrada do Sori Arts Center.

A assistência, maioritariamente jovem, presenteava com gritos, mais ou menos histéricos, a passagem de algumas das suas estrelas favoritas, sempre de telemóvel em riste, pronto para mais uma fotografia.

Entre alguns rostos familiares, destacou-se a passagem de Choi Min-sik (na foto) (esteve no JIFF para uma masterclass), que se virou para o grupo que protestava os Acordos de Comércio Livre (FTA) com os EUA, erguendo um punho em sinal de apoio. Choi tem estado na vanguarda da contestação contra a redução das quotas de exibição de cinema coreano de 146 para 73 dias por ano, que entrará em vigor a 1 de Julho.

A cerimónia incluíu números musicais e outras performances, antes da subida ao palco de Jafar Panahi, para introduzir «Offside». Não houve tradução para inglês do evento, de modo que não há mais a comentar.

18/05/06

(Continua)
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