O Japão marcou presença com propostas bastante interessantes, começando por «Haze», de Tsukamoto Shinya, inicialmente integrado no projecto Digital Short Films de 2005, agora apresentado numa versão de 50 minutos — mais 20 do que a original. Tal como «Magicians», de Song Il-gon, com o qual foi exibido, «Haze» emprega o meio de forma esteticamente atraente, sem o look plano, frio e limpo, característico de muitas curtas-metragens rodadas em DV.
A sinopse do filme de Tsukamoto pode fazer lembrar «Cubo», de Vicenzo Natali, mas as semelhanças ficam-se pelo conceito do ponto de partida. Também arrancamos com alguém que desperta num espaço confinado e não se recorda como foi ali parar. O filme gera tensão e inquietação, à medida que a personagem principal (interpretada pelo próprio Tsukamoto), se arrasta, horizontal ou verticalmente, por entre estreitas paredes de cimento, ou tem de se suportar com os dentes num cano de metal e arrastar-se desse modo, sem poder assentar os pés no chão, coberto com arame farpado. Por vezes um ensaio sobre o sadismo, «Haze» desilude um pouco com um final que tenta dar respostas, algo que, creio, estava ausente da versão curta.
«Mrs.», de Zeze Takahisa, é um misto de drama familiar, thriller de mistério e sexploitation. Zeze é referenciado como autor de pinku eiga — cinema erótico com pouco pudor. O mesmo texto funcionaria sem a vertente carnal, mas assim torna-se mais colorido. Uma mulher entra num táxi, adormece e, quando acorda, está acorrentada. Uma série de flashbacks leva-nos a conhecer uma outra mulher e o seu drama: o desaparecimento do filho, que provoca o desagregar do casamento. A apimentar a narrativa, algumas cenas desinibidas de amor entre mulheres — e, surpresa, sem a costumeira censura óptica característica destas paragens.
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Zeze Takahise respondeu às perguntas da audiência sobre «Mrs.». |
A força do filme é a caracterização das personagens principais, a fraqueza o suporte DV pouco bonito. A imagem pareceu-me ligeiramente distorcida, ainda que, em termos gerais, a projecção digital durante o JIFF tenha sido excelente. (O problema, a havê-lo, estaria na fonte).
Yanagimashi Mitsuo dirigiu «Who's Camus Anyway?» («Camus Nante Shiranai»), um filme sobre um filme, cheio de referências a obras da 7ª Arte: abre com um longo plano-sequência em que se fala de filmes que abrem com planos-sequência («The Player», de Altman, «Touch of Evil», de Welles). Estudantes de cinema lutam contra as dificuldades em pôr de pé um thriller («The Bored Killer», na legendagem). Começa light, mas torna-se mordaz e profundo. O actor principal procura entender a motivação da personagem (há uma discussão intensa sobre isso). Coloca-se a pergunta: pode alguém matar apenas para saber como é matar alguém? O final, que se prolonga pelos créditos finais, é um tanto ou quanto dúbio, podendo desiludir quem espere resoluções definidas.