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JIFF 2006

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| 6. Curtas-metragens |

| 6.1 Animação |

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O JIFF mostrou um grande número de curtas-metragens, onde foi possível estar atento a possíveis talentos emergentes. Muitas obras estavam mais próximas de projectos de estudante, por maturar ou sem orçamento que possibilitasse chegar mais longe, outras destacavam-se pela destreza na direcção e solidez no trabalho dos actores.

As curtas não são só meios de “estágio” para futuros realizadores de cinema de longa-metragem, mas também formas alternativas de expressão, que permitem outro tipo de abordagem. No caso da animação, devido aos elevados custos de produção, por vezes faz mais sentido ir fazendo algumas curtas, do que passar anos a tentar reunir condições financeiras para uma longa.

Em termos comparativos, a qualidade média dos títulos de animação foi superior às curtas de imagem real. Isso explica-se pelo que foi referido atrás: na animação será mais frequente que não estejamos perante trabalhos de escola ou de início de carreira.

O JIFF apresentou uma sessão com nove títulos de animação coreana, com as mais variadas técnicas e propostas gráficas, mas também com linguagens narrativas radicalmente distintas.

Quatro curtas recorreram ao 3D, que hoje em dia é usado para os mais diferentes resultados, incluindo a simulação de animação tradicional 2D ou de recortes, como foi o caso de «Dream Tapir» («Komdokaepi», 10') , filme de final de curso de Lee Yeong-seok, estudante da Korean National University of Arts, sobre uma criança cujos pesadelos são combatidos por um tapir.

«Dirty Popin» («Geoji Popin», 7') lembra o estilo de animação e de humor da Pixar. É uma história curta, com uma animação razoável e com piada. Em «The Chamber» («Cheimbeo», na fonética hangeul, 5') um velho interage com um modelo de uma sala e coisas estranhas começam a acontecer. Um jogo mental interessante que precisava de um final mais forte.

Ainda em 3D, «BULLET» (ou «Beullit», 7') foi o pior dos títulos apresentados; uma história parecida com o sketch dos espermatozóides de «Everything You Wanted to Know About Sex...», de Woody Allen — aqui, uma bala recusa-se a ser disparada —, num 3D de plástico, por trabalhar.

De registar uma boa participação de realizadoras, sem necessidade de quotas. A sensibilidade feminina deu bons frutos na utilização de técnicas de 2D. Um dos melhores títulos foi «Mom and Me» («Eommahago Nahago», 7'), de Lee Hyo-jeong, em plasticina/claymation. Simples e divertido, mostra uma mãe que tenta ensinar/obrigar o filho a encaixar as formas correctas na respectiva caixa. A realizadora usou uma voz em alemão (não traduzido) para reforçar o tom autoritário.

«My Small Dollhouse» («Naeui Jakeun Inhyeongsangja», 8') é também assinado por uma realizadora (esperavam que homens fizessem filmes sobre casas de bonecas?), Jeong Yu-mi, sendo o seu filme de final de curso, apesar de ser já o segundo. O traço retro ajusta-se a uma atmosfera algo surreal, evocando o isolamento da personagem.

Shin Yeong-jae (Deborah Younjae Shin) assina o poético «Lost and Found» («Loseuteu en Paundeu», em caracteres coreanos, 10'), “a história de uma mulher, o seu guarda-chuva e o comprimento de onda que flúi entre eles”. Traço a lápis, esboçado, que é um prazer ver, de vez em quando, no meio de uma certa saturação digital. É já o quarto filme da autora.

«The Stranger» («Deo Seuteureinjyeo», novamente hangeul a reproduzir inglês, 6') vale mais pela técnica (preto e branco pincelado) do que pelo ensaio pouco sugestivo de um homem que corta uma árvore e cria uma mulher, que prefere voltar para a natureza (assim como se Eva insistisse em ser uma costela de novo).

Já «The Life» (com o longuíssimo título original «Saneun Geot, Sandaneun Geot, Salagandaneun Geot», 5'), assente na utilização de lápis de cera, mas também algum 3D, funciona à conta da atmosfera que consegue criar, com base numa personagem que invoca memórias do passado. Segundo filme do realizador Ryu Jin-ho.

«Dream Tapir», «My Small Dollhouse», «BULLET», «The Life» e «Mom and Me» tiveram a sua estreia mundial no JIFF.

| 6.1 Imagem real |

As curtas-metragens coreanas foram divididas em cinco secções: 1 - Critic's Choice, 2 – To Be/a Woman, 3 – Politics/Performance, 4 – The Conclusion of Fantasy, 5 – The principle of Anxiety. As obras aqui brevemente comentadas correspondem às secções 1, 3 e 5, tendo sido rodadas em digital, excepto onde notado.

Num primeiro conjunto de títulos, a generalidade lida com guiões bem definidos, com uma história para contar, com excepção do muito curto «Trivial Feelings» («Nuguna Geureotdaneun», 6', 16mm), mais preocupado com a atmosfera e em tentar capturar introspecções de duas personagens.

«Seoul Ballad» (em cima) e «Excellent Work!».
«Gahee & B.W.» («Gaheeoa BH», 22”) tem um curioso ponto de partida, que pode não ser óbvio inicialmente: um rapaz volta a procurar uma rapariga que nunca correspondeu aos seus avanços românticos, para pedir de volta os presentes que lhe deu, para os destruir, por forma a eliminar as memórias.

«Seoul Ballad» («Seoul Balladeu», 25”) é uma comédia romântica convencional, com personagens com as quais é fácil empatizar, mas que acaba por ser apenas light. A acção decorre num comboio com destino a Seul e os diálogos entre um militar que quer ser cineasta e uma rapariga que vai para a capital para ser hair designer.

Em «Burning Coal on His Head» («Meori Uieo Sutbul», 50”), um taxista é morto por apanhar a “corrida” errada. O filho guia o táxi e começa a procurar o autor do crime. Haveria aqui material para um história de vingança em formato longa-metragem. Equilibrado.

A melhor das curtas projectada à minha frente foi «Excellent Work!» («Cham! Jalhaesseoyo», 20”, 35mm), com um look profissional, acima da média das restantes obras, para o que contribui não só ter sido rodado em película, mas também a direcção de actores — o trabalho das crianças é essencial para o filme funcionar —, e a qualidade técnica geral. As protagonistas são duas crianças cujos pais estão supostamente emigrados. Uma delas, mais velha, de escassa inteligência, vem a ser vítima de abusos. Passam alguns anos e reencontramo-las. Há um sentimento de desilusão e de amargura, que o filme trata com uma ironia desconcertante. É de aguardar pelo trabalho futuro da realizadora Jeong Da-mi.

Na parte política, vimos dois documentários e um filme mais experimental, «Party Politics Strike Back» («Jeongdang Jeongchi-eui Yeokseup», 25', 16mm). Humor surreal, demasiado longo e repetitivo, ainda que a ingenuidade construída tenha algum encanto. É a história de um cientista que transforma um macaco num homem (!) e se vê perseguido pelas forças do governo (?). Vêm em seu auxílio três mulheres armadas com armas de plástico. Pastiche sem diálogos.

«Party Politics Strike Back» (em cima) e
«We Are All Goo Bon-ju».
Os documentários foram «We Are All Goo Bon-ju» («Uri Moduga Gubonjuda», 24') e «The Structure of Goliath» («Golliat-eui Gujo», 27'). O primeiro relata o caso de um artista plástico que morreu num acidente automóvel e a companhia de seguros (Samsung Fire Insurance Co. Ltd.) usou expedientes legais para evitar pagar à viúva o que lhe competia. O filme faz contrastar o papel da empresa que surge como mecenas no campo das artes, com o modo como, na prática trata os artistas (a profissão foi um dos motivos para procurar atribuir uma indemnização ridícula). De acordo com o catálogo, para ser exibido na televisão era necessário que todas as referências à Samsung fossem censuradas.

«The Structure of Goliath» aborda o caso de moradores de um bairro que resistem à demolição das suas casas depois de considerarem terem sido enganados nos contratos de realojamento. Mesmo a polícia está contra eles e a construtora usa tácticas violentas para procurar demovê-los.

Sob o mote do “Princípio da Ansiedade” reuniram-se quatro filmes que se poderiam classificar de “arte e ensaio”, focando relações de amor ou amizade, num âmbito de “realismo social”. De um modo geral, bem dirigidos. «Confession» («Gobaek», 35') sobre um casal que discute de forma violenta e parece ter dificuldade em comunicar, padece do mal de outras curtas menos curtas: prolonga-se para lá do necessário.

Os outros títulos desta sessão foram «Beyond the Pleasure Principle» («Goaerakwonchikeul Neomeoseo», 18'), em redor da relação de dois amigos durante uma viagem, «Waiting for Passion» («Uyeonhan Yeoljeongeuro Norae Bureuda Bomyeon», 19'), sobre uma rapariga à espera um encontro que nunca parece chegar, e «Period of Contraception» («Soseolga-eui Pi-im», 20'), onde um jovem casal tem de lidar com uma gravidez.

| 6.1.1 Cinema local |

Em termos de curtas-metragens foram ainda apresentados cinco filmes produzidos e rodados na cidade de Jeonju, seleccionados de entre os que foram recomendados por quatro festivais de cinema locais, numa secção que se inaugurou este ano: Local Cinema in Jeonju. Os filmes são dirigidos por realizadores que têm “trabalhado consistentemente” na cidade.

«Help Me» («Helpeu Mi», 14'), mistura ingredientes de género — o realizador Kim Mun-heom disse que pretendeu que fosse como o famoso prato local, bibimbap —, numa estrutura e com um certo twist que remete para alguns thrillers muito populares. Uma história de gangsters e de memórias do passado, com humor e até acção intensa em artes marciais.

Nos mais curtos, «Red-ripe Persimmon» («Hongsi», 10') ilustra as incertezas de uma rapariga grávida que pensa em abortar e «A Singer Josephina» («Gaju Yojepina-Hokeun Jui-eui Iljok», 6') é uma metáfora em formato de fantasia, numa sala de espectáculos para ratos (na verdade actores humanos, com uma longa cauda) fãs de ópera.

«What about Love?» («Na-eui Gajok», 16') deixou memórias mais definidas, com a sua história de uma rapariga adolescente, que vive numa cidade do interior, apaixonada pelo empregado de uma biblioteca.


Último dia do JIFF. Da esquerda para a direita: Yu Un-seong e Jeong Su-wan (programadores), Ming Byeong-rok (director do festival); Im Jae-cheol, Kim Yeong-nam, Kim Hye-na e Lee Sang-wu (produtor, realizador e actores de «Don't Look Back», o filme de encerramento).

III — Palmarés

Indie Vision – Woosuk Award: «Drifting States», Denis Côté
Menção Especial: «Smiling in a War Zone – The Art of Flying to Kabul», Magnus Bejmar e Simone Aaberg Kaern

Digital Spectrum – JJ-Star Award: «Stories from the North», Uruphong Raksasad
Menção Especial: «The White She-Camel», Xavier Christiaens, e «11,000km from New York», Orzu Sharipov

Cinemascape / Cinema Palace: JIFF Favorites: «Veer-Zaara», Yash Chopra

Korean Cinema on the Move: Audience Critics Award: «Shocking Family», Kyung-soon

CGV Korean Independent Feature Film Distribution Support Award: «Between», Lee Chang-jae


Agradecimentos à organização do JIFF,
em especial a Ms. Song Seung-min.


Korean Foundation
Com o apoio da Korea Foundation

17/05/06


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