O JIFF mostrou um grande número de curtas-metragens, onde foi possível estar atento a possíveis talentos emergentes. Muitas obras estavam mais próximas de projectos de estudante, por maturar ou sem orçamento que possibilitasse chegar mais longe, outras destacavam-se pela destreza na direcção e solidez no trabalho dos actores.
As curtas não são só meios de “estágio” para futuros realizadores de cinema de longa-metragem, mas também formas alternativas de expressão, que permitem outro tipo de abordagem. No caso da animação, devido aos elevados custos de produção, por vezes faz mais sentido ir fazendo algumas curtas, do que passar anos a tentar reunir condições financeiras para uma longa.
Em termos comparativos, a qualidade média dos títulos de animação foi superior às curtas de imagem real. Isso explica-se pelo que foi referido atrás: na animação será mais frequente que não estejamos perante trabalhos de escola ou de início de carreira.
O JIFF apresentou uma sessão com nove títulos de animação coreana, com as mais variadas técnicas e propostas gráficas, mas também com linguagens narrativas radicalmente distintas.
Quatro curtas recorreram ao 3D, que hoje em dia é usado para os mais diferentes resultados, incluindo a simulação de animação tradicional 2D ou de recortes, como foi o caso de «Dream Tapir» («Komdokaepi», 10') , filme de final de curso de Lee Yeong-seok, estudante da Korean National University of Arts, sobre uma criança cujos pesadelos são combatidos por um tapir.
«Dirty Popin» («Geoji Popin», 7') lembra o estilo de animação e de humor da Pixar. É uma história curta, com uma animação razoável e com piada. Em «The Chamber» («Cheimbeo», na fonética hangeul, 5') um velho interage com um modelo de uma sala e coisas estranhas começam a acontecer. Um jogo mental interessante que precisava de um final mais forte.
Ainda em 3D, «BULLET» (ou «Beullit», 7') foi o pior dos títulos apresentados; uma história parecida com o sketch dos espermatozóides de «Everything You Wanted to Know About Sex...», de Woody Allen — aqui, uma bala recusa-se a ser disparada —, num 3D de plástico, por trabalhar.
De registar uma boa participação de realizadoras, sem necessidade de quotas. A sensibilidade feminina deu bons frutos na utilização de técnicas de 2D. Um dos melhores títulos foi «Mom and Me» («Eommahago Nahago», 7'), de Lee Hyo-jeong, em plasticina/claymation. Simples e divertido, mostra uma mãe que tenta ensinar/obrigar o filho a encaixar as formas correctas na respectiva caixa. A realizadora usou uma voz em alemão (não traduzido) para reforçar o tom autoritário.
«My Small Dollhouse» («Naeui Jakeun Inhyeongsangja», 8') é também assinado por uma realizadora (esperavam que homens fizessem filmes sobre casas de bonecas?), Jeong Yu-mi, sendo o seu filme de final de curso, apesar de ser já o segundo. O traço retro ajusta-se a uma atmosfera algo surreal, evocando o isolamento da personagem.
Shin Yeong-jae (Deborah Younjae Shin) assina o poético «Lost and Found» («Loseuteu en Paundeu», em caracteres coreanos, 10'), “a história de uma mulher, o seu guarda-chuva e o comprimento de onda que flúi entre eles”. Traço a lápis, esboçado, que é um prazer ver, de vez em quando, no meio de uma certa saturação digital. É já o quarto filme da autora.
«The Stranger» («Deo Seuteureinjyeo», novamente hangeul a reproduzir inglês, 6') vale mais pela técnica (preto e branco pincelado) do que pelo ensaio pouco sugestivo de um homem que corta uma árvore e cria uma mulher, que prefere voltar para a natureza (assim como se Eva insistisse em ser uma costela de novo).
Já «The Life» (com o longuíssimo título original «Saneun Geot, Sandaneun Geot, Salagandaneun Geot», 5'), assente na utilização de lápis de cera, mas também algum 3D, funciona à conta da atmosfera que consegue criar, com base numa personagem que invoca memórias do passado. Segundo filme do realizador Ryu Jin-ho.
«Dream Tapir», «My Small Dollhouse», «BULLET», «The Life» e «Mom and Me» tiveram a sua estreia mundial no JIFF.