Sitges 2007 40º Festival Internacional de Cinema de Catalunya
À L'Intérieur,
American Zombie,
Aparecidos,
Babysitter Wanted,
A Battle of Wits,
Black House,
Brave Story,
Bugmaster (Mushishi),
Confession of Pain,
La Crisis Carnívora,
Los Cronocrímenes,
Dai Nipponjin,
The Devil Dared Me to,
Diary of the Dead,
Frontière(s),
The Girl Next Door,
Glory to the Filmmaker! (Kantoku Banzai!),
Jack Brooks Monster Slayer,
Joshua,
Kaidan,
Kantoku Banzai! (Glory to the Filmmaker!) ,
Km.31,
Mad Detective,
Mushishi (Bugmaster),
Mister Lonely,
Nos Amis les Terriens,
El Rey de la Montaña,
Roman,
Rogue ,
Stuck,
Sukiyaki Western Django,
The Swordbearer,
Tales from Earthsea,
Teeth,
Tres Minutos,
Triangle,
Ugly Swans,
Waz |
Texto e fotos de Luis Canau, com contributos de Jordi Codó (texto), Catarina Ramalho e João Monteiro (fotos) 1 |
I — Introdução
O primeiro festival internacional dedicado ao cinema fantástico comemorou este ano o seu quadragésimo aniversário, numa edição cuja imagem gráfica integrou elementos de «Blade Runner», além da tradicional figura de King Kong. O fundamento foi a exibição da versão “definitiva” do filme de Riddley Scott (à terceira, supostamente, é de vez), mas, tendo em conta a elevada participação de filmes de zombies, em formato de ficção ou de pseudo-documentário, e a presença de George A. Romero como principal homenageado, bem que a inspiração poderia ter sido este subgénero cinematográfico.
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Vistas da vila de Sitges, na Catalunha e junto ao Mar Mediterrâneo, em Outubro de 2007. |
A qualidade das obras de terror apresentadas este ano foi tal que o editor sentiu vontade de se auto-flagelar por não regressar a Sitges desde 2003. Na verdade, surpreendi-me ao bater o meu recorde diário pessoal, conseguindo chegar aos oito filmes num mesmo dia, quase sem dar por isso. Desde há alguns anos que era raro ver mais de quatro num festival.
Sendo inegável que o cansaço impede a apreciação a 100% dos últimos filmes, a energia que possibilitou tal “feito” não adveio do café espanhol, mas tão só da supresa face a selecções de grande qualidade que apelaram para a overdose. Quando em quatro filmes seguidos não há nenhum de má qualidade ou até existe uma qualidade média alta, e o horário o permite, porque não prosseguir?
Noutros contextos, começando com dois filmes sem interesse ou que pareçam estar só a encher o horário, depressa deixamos de nos perguntar “o que é que virá a seguir?”, mas antes “onde é que vamos jantar?” A gastronomia de Sitges tem boas propostas para os visitantes, mas escusado será dizer que não sobrou muito tempo para essas actividades. Excepcionando algumas refeições mais calmas e bem deglutidas, tivemos uma semana repleta de bocadillos, em alguns casos (por preguiça) acompanhados por cerveja espanhola.2
Já em anos anteriores se realizavam sessões matinais – por volta das 11 e mais cedo, contando projecções de imprensa. Este ano, era possível entrar no Auditori do Hotel Meliá Sitges (a sala principal do festival), às 8 ou 8 e meia, mas as sessões regulares começavam por volta das 10. Três sessões da meia noite concorrentes complicavam pretensões madrugadoras, e das vezes em que comecei o dia por uma sessão das 10 não saí muito satisfeito – caso de «A Battle of Witts» e «Black House».
Em suma, mesmo que não quisesse, teria sido difícil não ter visto meia dúzia de filmes por dia. No entanto, o recorde global de 41 sessões num mesmo festival continuará por superar (Sitges 2003). Talvez não venha a suceder, mas houve quem pretendesse batê-lo, e se tal viesse de facto a acontecer teria de responder ao desafio.
Este ano, viajei com amigos (e colegas, poderei dizê-lo) do MOTELx – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, ainda que durante boa parte do festival tenhamos seguido, cada um, rumos e interesses distintos. Em mais do que uma mão cheia de bons filmes, no entanto, partilhámos o mesmo nível de entusiamo. Curiosamente, foi em Sitges, há uns anos, que as pessoas responsáveis pelos dois projectos – Cinedie e CTLX (entidade organizadora do MOTELx) se conheceram.
Além dos responsáveis pelo novo festival de terror de Lisboa, estiveram em Sitges também os representantes da geração anterior do fantástico português: Mário Dorminski e António Reis, da direcção do Fantasporto. Dorminski fez parte do júri Orient Express, que viria a premiar «Dororo» e «Mad Detective».
Homenageados
Grande Prémio Honorífico: George A. Romero. Romero dirigiu o clássico «A Noite dos Mortos Vivos» (1968), considerado por muitos uma das grandes obras do cinema norte-americano, e continuou com «Dawn of the Dead» (1978) e «Day of the Dead» (1985), encerrando a célebre Trilogia dos Mortos Vivos. Apesar de ter assinado obras de outra natureza – mesmo fora do horror, como «Knightriders» (1981) – o seu nome ficará para sempre associado aos zombies. Regressaria ao sub-género com «Land of the Dead» (2005) e «Diary of the Dead» (2007), este último apresentado nesta edição do festival.
Maria Honorífica: Larry Fessenden (realizador, actor, produtor, etc.)
Prémio Máquina do Tempo: Robert Englund (actor), Jesús Franco (realizador), William Friedkin (realizador), Syd Mead (designer), Alex Proyas (realizador).
Todos os homenageados estiveram em Sitges, com excepção de Friedkin, que, no entanto, foi visitado em Los Angeles por Angél Sala, director do festival, que lhe entregou o prémio em mão.
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Convidados. A lista, como é natural, é demasiado longa para transcrever; a informação fornecida aponta para perto de 130 convidados, incluindo cineastas, actores e jurados, mas há sempre alguém que aparece a apresentar um filme sem estar listado. Dois realizadores coreanos estiveram em Sitges para apresentar os seus filmes: Ryu Seung-wan («The City of Violence») e Park Chan-uk («I'm a Cyborg, but that's OK»). Como seria de esperar, a maioria dos cineastas espanhóis eram convidados, mas estiveram também no festival Rutger Hauer, Mena Suvari, Angela Bettis, Ruggero Deodato, Enzo G. Castellari, Ken Foree, Robert Kurtzman, entre outros.
Masterclasses: Alex Proyas (realizador), Stuart Gordon (realizador), J.A. Bayona e equipa técnica de «El Orfanato», DDT (efeitos de maquilhagem), Tarsem Singh (realizador, «The Fall» ganharia o Grande Prémio), Douglas Trumbull (efeitos especiais), Syd Mead (director artístico), Jesús Franco (realizador). Realizaram-se ainda postscreenings (Q&A entre o público e os convidados) e debates. Como tinha de regressar no sábado, último dia do festival, não foi possível assistir ao debate com Park Chan-uk, Ryu Seung-wan e Yves Montmayeur, depois da projecção do documentário deste último, «Les Enragés du Cinema Coréen».
Secções. A selecção de Sitges tem-se dividido por um conjunto de secções que se têm mantido estáveis ao longo dos últimos anos, às quais se juntam retrospectivas e projecções especiais. O festival abriu com «El Orfanato» (Espanha) e fechou com «1408» (EUA). Na secção principal, Fantàstic, agruparam-se 24 títulos. A Secção Oficial Premiere apresentou 16 antestreias. A Noves Visions reúne títulos mais ousados no plano formal e narrativo, sem perder o pendor vincadamente fantástico. Aí se mostraram 11 títulos de ficção e quatro documentários (incluindo os falsos, como «American Zombie»). A Orient Express englobou 13 obras provenientes da Ásia e a Anima't dez (incluindo seis do Japão e duas da Coreia do Sul). Seven Chances é o nome da secção que procura recuperar alguns filmes ignorados pelo circuito comercial. Acrescem sessões especiais, meias-noites e a retro Sitges Classics. Fora do circuito “oficial” do festival, há ainda o Brigadoon, um espaço vídeo no interior de um pavilhão montado na Platja de la Fragata, junto à praia, e algumas projecções no jardim do El Retiro, as quais nem se listam no programa de bolso. Sim, toda a gente quer ser três pessoas em Sitges.
Salas e as Questões Técnicas do Costume
Mais breve do que nunca, em relação a esta temática. A sério.
As salas do festival já foram descritas na análise à edição de 2002, a primeira que efectuei para o Cinedie.com, não havendo muito a acrescentar quanto a isso. O Mercat Vell já não se usa e o então chamado Anima't a la Fresca (nos jardins do Retiro) já não se destina à programação complementar da competição de animação.
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O Hotel Meliá Sitges, o centro nevrálgico do festival. O Auditori, a sala principal, com quase 1400 lugares é o edifício mais baixo. A sala Tramuntana situa-se nas traseiras. |
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A via em frente ao Meliá é habitualmente montra para produções da Filmax. |
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Interior do Auditori, uma sala excelente para projecção de filmes, pecando, apenas e ocasionalmente, pelo som demasiado alto. |
Este ano, o festival introduziu um quarto ecrã principal, que se juntou aos do Auditori (1383 lugares), Retiro (650) e Casino Prado (450). A Sala Tramuntana, situada também no Hotel Meliá, era anteriormente utilizada para conferências de imprensa. O espaço foi redimensionado e cadeiras foram fixadas no chão. O ecrã não é dos maiores – e a imagem é ligeiramente reduzida para alojar as legendas electrónicas projectadas – mas não deixa de ser um local para visionar filmes em condições técnicas adequadas. Sobretudo na primeira fila. Cálculo “a olho”: perto de 400 lugares. A legendagem era projectada no topo da imagem para contornar as dificuldades de visionamento esperados de uma sala plana, adaptada para projecção de cinema. Foi uma boa opção. Não me recordo se as legendas alguma vez me foram úteis, pois costumava tratar-se de castelhano para filmes anglófonos. Filmes noutra língua que não o inglês (ou o francês, num bom dia), com legendas impressas na película, recomendavam estar na fila da frente ou estudar o campo de visão antes do início da sessão, para detectar indivíduos com altura não standard ou penteados intrusivos.
Quanto às questões técnicas que mais nos chateiam a todos, pouco há a dizer. De um modo geral, projecta-se bem em todas as salas do festival. Não me canso de referir que passar a fronteira portuguesa traz uma grande descontração quanto a isso e escrevo isto dias depois de uma projecção de «Planeta Terror» em Lisboa a quatro perfurações de altura (1.37:1), com dois ou três micros à vista e mattes variáveis. Num local que afixa no foyer um diagrama a falar de formatos de projecção e a explicar ao espectador como se projecta.
No entanto, de referir algumas sessões do Auditori que tiveram o som demasiado alto e a ocasional focagem menos perfeita, mas nada de grave – sobretudo tendo em conta que se trataram de 35 sessões. O menos positivo prendeu-se com a projecção digital. Onde quer que vamos parece ser difícil lidar com projectores de vídeo digital, mas no caso de uma das sessões de curtas de animação, a complexidade é quase uma atenuante: uma dúzia de filmes a requerem ajustes de projecção ao vivo. Devia ser só 4:3 ou 16:9, em teoria, mas as opções dos aparelhos, com base numa infinidade de resoluções, complicam o trabalho. Em suma, algumas das curtas não estavam com as proporções correctas, mas isto é algo que em animação passa quase despercebido (se não virmos uma lua ou algo que seja suposto ser redondo e não oval).
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Entrada para o El Retiro. |
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Interior do Casino Prado (durante o Q&A com George Romero). |
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A Sala Tramuntana, situada no Meliá, nas traseiras do Auditori, foi usada este ano pela primeira vez. |
Horários. As sessões abertas ao público começavam às 10h00, em alguns casos às 09h15 ou 09h30. A última era normalmente à 01h00. De um modo geral, o Auditori, o Retiro e o Prado tinham oito sessões por dia, sendo que a primeira no Auditori (às 09h00 e, em duas ocasiões, às 08h30) estava apenas aberta à imprensa. A sala Tramuntana tinha menos sessões, até seis, e era o local onde se realizavam as masterclasses. Em alguns dias era muito prático ficar por ali, para as projecções alternativas e consecutivas dos filmes em competição.
Espaços de lazer. Lazer, qual lazer? A qualidade da oferta de cinema reflecte-se no pouco tempo para tomar refeições ditas normais, num restaurante. Dessa forma, acabámos por passar mais tempo em bares ou locais onde comer refeições rápidas. Há alguns bares simpáticos na Carrer de Parellades, como o Amsterdam, um local pequeno e acolhedor. Outro espaço de utilização recorrente durante o festival, além da tenda montada ao lado do Meliá, foi o bar do El Retiro, um local à moda antiga, entre o café e a tasca, frequentado tanto por locais, jovens e reformados, como por espectadores do cinema, e com funcionários prestáveis e atenciosos – mesmo a menina que, invariavelmente, deixava o café já tirado na máquina e voltava cinco minutos depois, pedindo desculpa. O café era normalmente mau, quando “sólo”, mas suponho que é por essa razão que alguém se lembrou de adicionar leite. Um dia, pedi aí que me colocassem queijo num croissant e olharam-me como se fosse louco.
Sitges tem uma grande oferta gastronómica, de preços variados, em média acima dos portugueses, mas talvez não muito se considerarmos que se trata de uma vila turistica. Desde os menús mais económicos – alguns abaixo dos €10, incluindo primero prato ou entrada, segundo, sobremesa, café, pan y vino – aos mais refinados, em alguns restaurantes virados para o mediterrâneo, como o El Velero, no Passeig de la Ribera, onde eu não me atreveria a entrar se tivesse de pagar a conta (mas recomendo a quem não tiver plafonds no orçamento).
A vida nocturna também é muito animada, sobretudo aos fins de semana. Nas ruas, estilos de vida “alternativos” passam despercebidos, tal a sua normalidade.
Passemos aos filmes.
A seguir: Fantástico em Espanhol
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1 Catarina Ramalho e João Monteiro surgem cortesia do MOTELx, Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. Jordi Codó é o editor de Cinema Kim.
2 Podemos não ter festivais tão bons, mas ganhamos na cerveja.
5/12/07
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