Gostava que falasse sobre os seus métodos de dirigir actores, sobretudo no que toca às diferenças no modo como trabalhou com actrizes estreantes em «Memento Mori» e com o elenco experiente de «Family Ties».
Penso que o modo como dirijo actores assenta muito no diálogo e que tal decorre do facto de ter começado no cinema como co-realizador, precisando de discutir tudo com o meu colega, Min Gyu-dong.
Os actores querem que o realizador saiba exactamente aquilo que quer ou esperam que tenha respostas para tudo. Mas há momentos em que não temos a certeza do que procuramos. Mesmo nesses casos podemos levar a nossa avante, com base na autoridade do realizador, sem que se levante qualquer tipo de oposição, alguém que diga “oh penso que isso não está certo”.
Quando somos co-realizadores, precisamos de saber em detalhe aquilo que queremos realmente, para podermos convencer o nosso colega. Se dirigimos sozinhos, é a nossa decisão que conta, mas se co-realizamos ele pergunta “porquê?” e precisamos de persuadi-lo com toda a nossa convicção, com o coração. Desse modo podemos ser mais honestos e expor a nossa visão para persuadi-lo. Tal faz-nos também pensar naquilo que realmente procuramos para o filme. Não podemos deixar nada para trás, porque co-realizando temos de convencer o nosso colega a prosseguir.
Kim Tae-yong
김태용
[Gim Tae-yong]
Filmografia
Longas-metragens:
Family Ties (Gajokui Tanseng 가족의 탄생) (2006)
On the Road, Two (온 더 로드, 투) (2005)
Twentidentity (Igong 이공 / 異共) (2004) (1)
Memento Mori (Yeogogoedam Du Beonjae Iyagi 여고괴담 두번째 이야기) (1999) (2)
Curtas-metragens:
Pale Blue Dot (Changbaekhan Pureun Jeom 창백한 푸른 점) (1998) (2)
Seventeen (Yeolilgop 열일곱) (1997) (2)
Im Jang-chun de Haenam (Haenam Im Jang-chun 해남 임장춘) (1996) (3)
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(1) Filme digital com 20 segmentos por 20 realizadores, incluindo Min Gyu-dong, Heo Ji-ho e Bong Jun-ho.
(2) Co-realizados com Min Gyu-dong.
(3) Não terá título inglês oficial. |
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Há uma situação similar com os actores. Com actores jovens, como em «Memento Mori», eles não participam realmente no processo. Se lhes damos direcções, eles seguem-nas. Actores experientes precisam de ser persuadidos do que o realizador quer. Qualquer que seja o meio pelo qual o façamos, eles precisam de entender porquê. É por isso que dirigir um filme é fundamentalmente persuadir alguém. No meu caso, não costumo dar direcções muito específicas, preferindo explicar a atmosfera geral aos actores e depois permitindo-lhes que desenvolvam o seu trabalho.
Apesar de se tratarem de obras muito diversas, há algumas semelhanças temáticas entre «Memento Mori» e «Family Ties». No primeiro, as personagens masculinas são secundárias, surgem como representações de figuras de autoridade; em «Family Ties» todas as personagens masculinas são muito fracas a todas as femininas são fortes. Pode comentar este aspecto?
Talvez porque eu próprio não seja muito forte... Tipos fortes, personagens masculinas fortes, não me dizem muito. É provavelmente por isso que optei por esse tipo de homens fracos e irresponsáveis. Também não considero muito interessante uma personagem forte exteriormente. Ele pode ser forte ou fraco no seu interior. Isso também não me interessa. Mas se tivermos alguém que parece ter uma personalidade muito fraca mas revele características internas fortes isso parece-me mais interessante.
Hwang Hei-rim: Não será também por estar rodeado de mulheres fortes?
Talvez... [Risos]
É usual que um filme introduza personagens no contexto de uma família, como ponto de partida. O seu filme mostra o nascimento de um tipo de família diferente. Estava conscientemente a tentar dizer algo sobre a família enquanto instituição?
Não é exactamente o caso. O filme partiu mais de uma curiosidade. O que faz de vós uma família? O que se sente enquanto parte de uma família? Não há uma objecção forte ao papel da família tradicional. Normalmente as famílias são tomadas como algo certo, definido. Nascemos numa família, normalmente não a escolhemos.
Por isso parti do princípio de que a característica essencial não é que os membros de uma família podem contar uns com os outros, mas o oposto; se podemos contar com alguém, então essa pessoa faz parte da família. Foi o ponto de partida do filme.
Não estou certo de que seja realmente positivo que numa família se possa contar ou depender uns dos outros ou se se trata realmente da característica essencial da família. Continuo curioso sobre o significado de “ser uma família”. Por vezes usamos a expressão “como uma família”. Estou ainda à procura do significado dessa expressão.
Não sei se o depender uns dos outros é algo positivo, pois, tal como sucede no filme, as pessoas magoam-se muito umas às outras, com base nessa premissa.
Uma vez que tem um interesse especial em música, gostava de perguntar-lhe as razões para a escolha do compositor Cho Sung-woo [Jo Seong-u]. Foi por já o conhecer de «Memento Mori» ou com base no seu currículo? (1)
Quis trabalhar com ele desde o início por já termos trabalhado juntos em «Memento Mori» e já nos conhecermos muito bem. Mas sucedeu também que o director musical acabou por ser uma espécie de produtor, contribuindo muito para que o filme pudesse ser terminado.
Quando me encontrei primeiro com o director musical para discutir música, ele leu o guião e gostou muito. A produtora era para ser a Cheongeoram, que, entretanto, abandonou o projecto. Cho Seong-woo gostou do script ao ponto de mostrá-lo à Blue Storm, que viria a produzi-lo.
Na altura ninguém queria fazer este filme. Ele tentou reunir o financiamento e então não pude rejeitar a música. [Risos]
Mas está satisfeito com o resultado?
Sim, muito.
A finalizar a entrevista, perguntámos a Kim Tae-yong sobre projectos futuros. O realizador disse estar a trabalhar em dois conceitos: um filme sobre relações familiares, que valeu o comentário daqueles a quem o descreveu que se trataria de "Family Ties 2", e um filme de acção e ficção científica. Este último assenta no cruzamento entre duas linhas temporais, envolvendo também uma história de amor. De forma bem-humorada, Mr. Kim disse que iria ser "talvez ao estilo The Matrix".
Os títulos provisórios dos dois filmes são similares: «She's Gone» (o filme de acção) e «Kid's Gone» (o filme com tópico familiar), o que nos levou a comentar: “Que deprimente, foram-se todos embora.”
7/11/06
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Entrevista a Moon So-ri