Palwol-ui Keuliseumaseu [Christmas in August]
8월의 그리스마스
Realizado por Heo Jin-ho [Hur Jin-ho]
Coreia do Sul, 1998 Cor – 96 min.
Com: Han Seok-kyu, Shim Eun-ha, Shin Ku, Oh Ji-hye, Lee Han-wi, Jeon Mi-seon, Kwon Hye-won, Sohn Se-kwang, Choi Seon-jung, Kim Ae-ra
drama romance
Capa Dvd
Jung-won (Han) dirige um modesto estabelecimento de fotografia em Seoul. Morando com o pai, viúvo, leva um dia-a-dia simples, revelando fotografias e tirando retratos. Da-rim (Shim) trabalha na divisão de controle de tráfico e visita a loja de Jung-won regularmente, sempre com mais uma urgência. Os dois começam a ver-se com alguma frequência, mas ele, padecendo de uma doença que o obriga a deslocações regulares ao hospital, questiona as possibilidades de uma relação séria para o futuro.

«Christmas in August» é um drama romântico encenado através de um registo de extrema singeleza, recusando-se a chamar a atenção sobre si, sobre as suas personagens ou a fabricar situações que se destaquem pela sua força emocional. Opta-se por um conceito diferente, construindo um drama low-profile, com base num conjunto de pequenos momentos, que vão desfilando perante os nossos olhares. É como se nada realmente acontecesse, mas é o conjunto desses pequenos “nadas” que vão criar um retrato muito realista de uma (potencial) relação romântica entre as duas personagens principais.

O filme constrói-se sobre a rotina diária de Jung-won e Da-rim: ele tem de ser paciente com todas as exigências dos seus clientes, as suas “urgências”, os pedidos de miúdos para ampliarem as suas várias “namoradas” a partir de fotos de turma, as fotos de família; ela tem de lidar com os indisciplinados condutores de Seoul (a Coreia do Sul, surpreendentemente, parece vencer Portugal em número de acidentes rodoviários) e com o ódio que daí advém, por exemplo, por parte dos donos de restaurantes, cuja clientela tem de sair a correr sempre que se aproxima a fiscalização. Pouco a pouco, vão constatando que têm o suficiente em comum para que surja algo sólido entre os dois. Mas o destino (o que quer que isso seja) não parece estar do lado deles.

Shim Han Shim

«Christmas in August» poderá fazer lembrar a produção de Hong Kong «San Bat Liu Ching/C'Est la Vie, Mon Chéri» (1993), de Derek Yee Tung-sing, com Lau Ching-wan e Anita Yuen Wing-yee. Yee foca, de um modo igualmente subtil, a relação entre uma jovem de 20 e poucos anos e um homem um pouco mais velho. Mas o filme de Heo agarra mais cedo o pendor trágico da história, dedicando algum tempo mais à preparação para algo que parece ser inevitável, enquanto que em «C'Est la Vie, Mon Chéri» há mais tempo para as ilusões. De qualquer forma, ambos constituem boas propostas para quem esteja com a disposição adequada e estão longe de constituirem os filmes mais tristes dos anos 90.

Han Shim
A atitude narrativa, directa ao assunto, sem perder tempo com desvios, é um dos factores que contribui para a lenta sedução do espectador. Por outro lado, também é fácil que este filme deixe indiferentes todos os que esperem demasiado para que aconteçam “coisas”, durante a relativamente curta duração do filme. «Christmas in August» pode-nos tocar, de um ou outro modo, mas nunca tenta atirar-se ao nosso pescoço, ou às glândulas lacrimais, insistindo para que tomemos consciência das coisas tristes do mundo e que a elas reajamos. Aliás, o segmento final do filme é de uma simplicidade extrema que, se por um lado, nos sentimos um pouco deprimidos com os acontecimentos, por outro, quase nos sentimos defraudados com a falta dos mecanismos formais de “choque” a que estamos habituados. É de louvar que Heo Jin-ho consiga gerir tal material com tanta contenção, sem cair no “artificialismo do natural”, por onde andaram obras como «In the Bedroom», de Todd Field.

4

Disponível em DVDs de Hong Kong e da Coreia. O DVD de HK (Edko) é de boa qualidade, mas não anamórfico. A capa, com reprodução de fotos que lembra fotocópias a cores, tem dois dados errados: o disco não é Região 3, mas sim "Região 0", e o filme está em widescreen, não – felizmente – em fullscreen, como é referido. A edição coreana tem uma transferência anamórfica e uma primeira edição, que talvez já não se encontre no mercado, incluia a banda sonora original, além de um making of e um comentário do realizador (não legendados). A edição actual já não inclui o CD com a banda sonora, mas, pelo menos, poderá encontrar-se a preço promocional.

publicado online em 1/12/02

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