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Tony (Kwok) é um praticante de judo cujo entusiasmo pela modalidade o leva a procurar Szeto (Koo), um lutador famoso, agora retirado e a gerir um bar nocturno, que passa a maior parte do tempo embriagado e a meter-se em sarilhos. Mona (Ying) quer ser cantora, ainda que tudo pareça indicar que não está fadada para triunfar sob os holofotes. Nem Mona nem Tony obtêm de Szeto o que procuram; ao invés, este arrasta-os para a cumplicidade de furtos destinados a pagar um perigoso vício do jogo.
Segundo filme de três dirigidos por To Kei-fung em 2004, «Throw Down» é também o mais bem sucedido do conjunto. «Breaking News» é um bom filme de polícias e ladrões, que sustém bem o exercício de estilo que lhe subjaz; «Yesterday Once More», o mais recente, é um produto comercial banal e preguiçoso.
Homenagem a Kurosawa Akira, «Throw Down» tem elementos familiares de obras anteriores de To, lembrando «The Odd One Dies» (1997), onde há uma personagem central, interpretada por Kaneshiro Takeshi, em muito similar à de Koo: ambos procuram sarilhos em casas de jogo, desiludidos com a vida, motivados por um imperscrutável desejo suicida; são personagens sem rumo, que poderão ser reencaminhadas por pessoas com quem se cruzam — Carmen Lee Yeuk-tung, em «The Odd One Dies», Cherrie Ying Cai'er e Aaron Kwok Fu-shing em «Throw Down».
A representação apática dos actores é similar nos dois filmes, mas há diferenças fulcrais no registo e no rumo narrativo (1). Em «The Odd One Dies» há uma componente de romance central, um ingrediente que aqui nem sequer é sugerido — algo raro no cinema contemporâneo. As três personagens são independentes e não se requer a criação de enlaces amorosos para satisfazer as expectativas por parte do público.
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| Protagonistas: Cherrie Ying, Louis Koo e Aaron Kwok. |
O investimento pessoal de To em «Throw Down» é notório a diversos níveis: a forte sustentabilidade dramática das personagens centrais e secundárias, a “mensagem” sobreposta à acção e ao humor, i.e., ao entretenimento, a homenagem a uma arte marcial e a um mestre do cinema.
«Running on Karma» (2003), co-dirigido com Wai Ka-fai, é um filme vincadamente budista. O budismo marca também «Throw Down», mas mais ao de leve, com a sobreposição de um conceito de “caminho” ou “via” — que importa encontrar e seguir — paralela ao percurso normal de personagens de ficção.
Nada é permanente e a persistência é essencial para nos melhorarmos e para a realização de sonhos ou objectivos. Todas as personagens insistem em algo, ao longo de todo o filme. Szeto, aparentemente, insiste na sua própria destruição, enquanto outros, como o seu mestre ou o oponente interpretado por Leung Ka-fai, insistem em tentar salvá-lo do caminho errado, recuperando-o para a prática do judo.
Mona repete ciclos de tentativa e falhanço, partindo para outro destino, depois de um fracasso, para tentar de novo a sua sorte no mundo do entretenimento. A personagem e sobretudo o seu nome chinês ilustram claramente os temas que trespassam esta obra de Johnnie To Kei-fung. (2)
(1) Tendo em conta que ambos se envolvem de forma obsessiva no jogo, em inglês funcionaria muito bem um trocadilho com a expressão “poker face”.
(2) A personagem é tratada originalmente por Siu Mung (小夢) — Xiao Meng em pinyin. Literalmente significa “pequeno sonho”, mas Xiao pode ser uma mera forma de tratamento (“Jovem”), paralela a Lao (“Velho”). |
