Byeong-gu (Shin) rapta Kang Man-sik (Baek), presidente de uma grande empresa de produtos químicos. A polícia procura pistas e aguarda um pedido de resgate, mas as intenções do raptor são outras, mais altruístas: impedir a invasão do planeta por forças alienígenas de Andrómeda. Byeong-gu vive com a namorada, Sun-i (Hwang), que a ele se juntou na exigente tarefa de protecção do planeta. O perfil do "herói" é lentamente traçado, ressaltando um passado tumultuoso e traumático, conducente a episódios de distúrbios mentais.
«Save the Green Planet» revelou o realizador Jang Jun-hwan — autor de uma curta-metragem que deu nas vistas, chamada «2001: Imagine» (1994) e co-argumentista com Bong Jun-ho de «Phantom the Submarine», de Min Byeong-cheon — com a vitória no Festival de Cinema Fantástico de Bucheon. Foi posteriormente apresentado em vários festivais internacionais, incluindo Sitges, onde tivemos oportunidade de vê-lo, recolhendo mais alguns prémios, local e internacionalmente, incluindo o Corvo de Ouro no Festival Internacional de Cinema Fantástico de Bruxelas (BIFFF). Infelizmente, apesar do filme funcionar muito bem perante audiências de festivais de cinema, os resultados de bilheteira na Coreia do Sul estiveram muito longe de ser famosos.
«Jikureul Jekyeora!», como outros filmes difíceis de categorizar num género dominante, pagou nas bilheteiras a factura de recorrer a uma linguagem não linear, que exige uma abertura de espírito por parte do espectador ao desrespeito pelas “normas” de género. É uma obra melhor apreciada por quem tem apetites cinéfilos pela descoberta de caminhos que levam a destinos desconhecidos.
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Byeong-gu (Shin Ha-gyun) e Sun-i (Hwang Jeong-min) tentam levar Kang (Baek Yun-sik, à direita) a admitir que é um alien. |
Dois elementos destacam-se no reforço da atipicidade de «Save the Green Planet!»: o modo como transita de registo, passível de provocar confusão nas reacções emocionais por parte de um espectador que procure usar um de vários filtros para receber o filme (horror, comédia, drama, horror, ficção científica? — mas, de que se trata afinal?) e as condições mentais e o comportamento da personagem central, facilmente apontado como um psicótico perigoso: recolhe obsessivamente informação sobre vida extra-terrestre, armazena dados pessoais daqueles que suspeita fazerem parte de uma rede avançada para obter informações sobre o planeta e os seus habitantes, preparando a invasão; rapta, tortura e conforma-se com a morte eventual dos eventuais alienígenas.
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O Detective Chu (Lee Jae-yong) faz uma investigação paralela. Sun-i tem dúvidas sobre a missão de Byeong-gu. |
A figura central de Shin Ha-gyun («JSA», «Sympathy for Mr. Vengeance»), vestindo um uniforme feito à medida, pouco mais que uma gabardina adornada por objectos encontrados no lixo e um capacete de mineiro — um dos flashbacks mostra que essa era a profissão do pai — sugere uma comédia tola. Algum spoof e referências a filmes de ficção científica parecem assegurar-nos que estamos no âmbito de num género familiar, bem delimitado. Mas o tom muda radicalmente quando o cenário é a cave bafienta e suja onde Byeong-gu guarda os registos da sua pesquisa, interroga e/ou procura neutralizar os suspeitos. A personagem é boa, má, louca? Uma resposta clara (ou talvez nem por isso) só surge durante a conclusão, de contornos melodramáticos (algo não exactamente invulgar no cinema coreano). A transição de registo e de tom funciona surpreendentemente bem — há método na loucura.
Se me perguntarem se este é um filme destinado a agradar aos fãs de ficção científica, a resposta não poderá ser directa. Digamos que é preferível não procurar ver o filme para saciar uma vontade de ver ficção científica. O elemento está lá, a nível conceptual, mas o modo como a narrativa é construída ignora o "género". Trata-se, em certa medida, de um thriller de mistério sobre a mente perturbada de um homem, onde a verdade flutua consoante o ponto de vista. A conclusão pode não explicar tudo o que motiva e o que se passa dentro da mente de Byeong-gu, mas certamente permite entender aquilo que o tornou um dedicado defensor da Terra contra uma suposta invasão de extra-terrestres.
Com uma notável riqueza dramática e grande complexidade da sua personagem central, um clímax de grande impacto emocional que, apesar de desenvolvimentos menos previsíveis, não se deixa levar pela necessidade de surpreender o espectador a qualquer custo, mesmo sacrificando a coerência interna, «Save the Green Planet!», já marcou a sua posição como um dos títulos máximos do cinema moderno sul-coreano. Não se trata de boa comédia, boa ficção científica ou bom horror, mas tão só bom cinema.
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