PiFan 2006 10th Puchon International Fantastic Film Festival
부천국제판타스틱영화제 2006
Ani-Francesca,
Bardo,
Beneath the Cogon,
Black Kiss,
Clay Fear,
The Curse of Nobohiro-san,
Flower and Snake,
Forbidden Floor,
Ghost of Mae Nak,
Ghost Son,
Imprint,
The Maid,
Maternity Blue,
Midnight Ballad for Ghost Theater,
Never Belongs to Me,
Noriko's Dinner Table,
Tears of Kali,
The Torturer,
Shinobi,
Strip Mind,
Under the Same Moon,
Unholy Women |
O Puchon International Fantastic Film Festival nasceu há 10 anos, inspirado nos festivais de cinema fantástico europeus, como Sitges e o Fantasporto. O PiFan é parceiro da Federação Europeia de Festivais de Cinema Fantástico.
Em 2005, o Presidente do Comité Organizativo do PiFan e Presidente da Câmara de Bucheon (1), Hong Geun-pyo, decidiu usar o seu poder político para afastar o Director do Festival, Kim Hong-jun, seguindo-se, dias depois, a equipa de programadores (2).
Este ano, a nova equipa, liderada por Lee Chang-ho, tinha por missão fazer esquecer a crise e caminhar em frente, reatando os laços com uma indústria que havia acabado por boicotar o festival. Desta vez, não terá havido boicote oficial de nenhuma instituição ou associação de cineastas, mas houve quem o tenha feito, ainda que a título individual.
A 10ª edição do PiFan realizou-se entre 13 e 22 de Julho de 2006.
I — Introdução
Fãs de longa data de cinema de género, horror e fantástico, não podíamos evitar ter grandes expectativas quando à nossa primeira visita ao PiFan, o terceiro mais importante festival sul-coreano, depois do PIFF de Busan e do JIFF de Jeonju.
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Duas das salas do PiFan: o Boksagol Cultural Center (em cima, exterior e hall) e a Câmara Municipal. |
Bucheon fica situada a cerca de uma hora do centro de Seoul, pelo que não pareceu fazer sentido procurar alojamento na cidade. Tal implicou evitar filmes longos na sessão das 21h00 — não fosse o metropolitano parar pelo caminho —, mas ainda sobravam quatro sessões por dia.
A cidade não tem grandes atractivos “turísticos”; é basicamente constituída por prédios de habitação, comércio e grandes centros comerciais e armazéns, onde não falta um Wall Mart.
A nossa primeira visita a Bucheon não será tão lembrada pela arquitectura quanto por falhas de comunicação e erros no guia que afiançavam que praticamente todos os filmes tinham legendas em inglês, quando tal não corresponderia à realidade.
| Programação |
As secções competitivas agrupavam-se sob a designação Puchon Choice. Aí se incluíam dez longas e dez curtas-metragens. As longas a concurso eram: «Adam's Apples» (Dinamarca), «Apartment» (Coreia do Sul), «Dark Remains» (EUA), «Frostbite» (Suécia), «Ghost of Valentine» (Tailândia), «The Maid» (Singapura), «Never Belongs to Me» (Coreia do Sul), «Noriko's Dinner Table» (Japão), «Severance» (Reino Unido) e «Storm» (Suécia).
Fora de competição, em World Fantastic Cinema, apresentaram-se quase 70 longas-metragens (aí se incluindo os 13 títulos da série "Masters of Horror") e um vasto número de curtas, em doze sessões (cerca de 85 filmes, quatro dezenas made in Korea).
A Forbidden Zone seleccionou cinco títulos para “maiores de 19 anos”: «Bardo» (Taiwan), «Tears of Kali» (Alemanha), «Flower and Snake» (Japão), «Destricted» (EUA/RU) e «Reeker» (EUA).
No campo oposto, em relação à audiência visada, a Family Section agrupava os filmes favoritos do Mayor de Bucheon. Crianças e animais de estimação, cavalos, elefantes e gatos, um musical indo-britânico («Beyond Love») e ainda «Midsummer Dream», animação digital espanhola (tecnicamente, uma pequena fatia portuguesa também, com um modesto contributo do ICAM, mas a referência não chegou no catálogo). Adicionaram-se quatro curtas de animação sob a designação Kid's Fanta.
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O multiplex Primus situa-se entre o 8º e o 11º piso do edifício alaranjado. Os pisos inferiores estavam por ocupar na altura do festival. A Câmara Municipal fica próximo, à direita (virando à esquerda quando se sai do Primus). |
Special Programs era o título principal onde se agrupavam várias retrospectivas: Fantastic Shin Sang-ok, Wang Yu Specials, Korean Director's Cut, Ishii Teruo Specials, Italian Horror Gala, Modern Comedy of Jacques Tati, Fritz Lang Concert (filmes do realizador com música ao vivo), Audrey Hepburn Retrospective, New Zealand Specials e Open Cine Parade (três clássicos americanos, projectados ao ar livre).
O acesso aos programas especiais era limitado para os estrangeiros, pois, como se explicará em maior pormenor, as retrospectivas mais atractivas não tinham legendas em inglês (ainda que o programa exibisse o respectivo código).
O PiFan realizou três eventos musicais especiais no Citizen's Hall. As Cine Rock Nights incluíam projecção de filmes seguidas de concertos com bandas rock. Os filmes foram «The Long Season Revue» (Japão), «A Máquina» (Brasil) e «Schnitzel Paradise» (Holanda). Actuavam três bandas por noite e duas delas vieram do Japão: Non Troppo e Guitar Wolf. As restantes eram coreanas: Denci Hinji, Clear Cloud, Mongoose, Super Kidd, Strawberry TV Show, No Brain e Rock Tigers.
Para lá dos filmes e da música, realizaram-se encontros especiais com actores e cineastas e uma workshop de três dias, com Richard Taylor da empresa de efeitos especiais neozelandesa Weta Workshop (sim, uma workshop da Weta Workshop).
| Salas e transporte |
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Saindo da Câmara Municipal, chega-se em cerca de 5 minutos ao CGV, situado no interior do centro comercial Rodamco Plaza. Na primeira foto, é o segundo edifício a seguir ao Wal Mart, ligado ao Hyundai Department Store (clique para pormenor). A segunda foto apresenta o Hyundai Department Store num lado e a Rodamco Plaza no outro. Qual é qual é que é mais difícil de dizer... Em baixo, o Ojeong Art Hall, uma das salas fora de mão. |
As cinco sessões diárias tinham um intervalo entre elas de duas horas e meia, o que significava que vendo filmes de 90 minutos sobrava perto de uma hora para a viagem entre salas ou para uma refeição. As duas coisas juntas — sobretudo se o filme fosse mais longo — é que poderia não ser possível. Com sessões alternativas podia tentar-se fazer as escolhas com base em critérios práticos, reduzindo deslocações, sobretudo à hora de almoço.
Os autocarros ao serviço do festival organizavam-se em cinco percursos diferentes e revelaram-se práticos e eficientes. Em apenas uma ocasião perdi um autocarro por um minuto e tive de ir de táxi para a próxima sala.
Os dois percursos principais iniciavam-se e terminavam na Estação de Songnae, passando por cinco salas de cinema e pelos dois hotéis oficiais do festival. O percurso total, em forma quadrangular, demorava menos de uma hora, o que significa que, indo num ou noutro sentido, se demoraria perto de meia hora de Songnae até à sala mais distante.
Era possível escolher de entre oito a dez sessões num mesmo horário, em sete localizações diferentes: Citizen's Hall, City Hall, Boksagol Cultural Center, Sosa District Office, Ojeong Art Hall, CGV (duas salas) e Primus (três salas).
Nem sempre era necessário recorrer aos autocarros. O Boksagol Cultural Center fica a cerca de 10 minutos a pé da Estação de Songnae. A City Hall fica entre o CGV e o Primus, sendo possível fazer o percurso a pé entre os três locais. Nunca precisei de ir ao Sosa District Office, pelo que as deslocações mais demoradas seriam de e para o Citizen's Hall ou do Boksagol para as outras salas.
| Projecção |
Quem segue estas análises a festivais terá notado que por várias vezes referi que parece ser só no nosso país que os projeccionistas usam com frequência uma máscara fullframe (1.37:1 ou 4:3 no equivalente televisivo), se não têm a papinha toda feita, i.e., marcas ou mattes na película, a indicar o formato.
Pois bem, em Espanha, França, Itália, e nos outros três festivais sul-coreanos por onde passei, não houve caso algum em que um filme comercial fosse projectado num formato corrente em 1952, mas eis que no PiFan se projecta «Ghost of Mae Mak» em fullframe, com microfones visíveis ocasionalmente no topo da imagem. Pior do que isso é o facto de existirem mattes nos planos com efeitos visuais, de modo que sempre que surgia um “efeito letterbox” já se sabia que o fantasma ia aparecer no ecrã.
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Voluntárias nas bilheteiras do Ojeong Art Hall. |
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Autocarro de ligação entre salas, próximo da Estação de Songnae. |
A proliferação de projecção vídeo traz outro problema. E aqui o exclusivo não será do PiFan, pois registei um caso também no SICAF. O JIFF, no entanto, projectou digital sempre de forma exemplar.
Esse problema resulta da existência de dois formatos vídeo e a falta de sensibilidade por parte de público e técnicos perante imagem distorcida. Talvez a culpa deva ser repartida com quem envia as cópias que não marcará de forma bem visível o modo correcto de exibir o vídeo.
Detectei três casos de projecções vídeo distorcidas, em três salas diferentes: «Tears of Kali» (CGV), «Never Belongs to Me» (Boksagol Cultural Center) e a curta «Maternity Blues» (Citizen's Hall). Em todos os casos se trataria de uma fonte 4:3 (com imagem widescreen — i.e., letterbox — ou não) projectada em 16:9 (com extensão horizontal). A curta foi exibida logo a seguir a «Imprint» (em correcto 16:9) sem que a configuração do projector fosse mudada.
Durante a projecção de «Shinobi» eram visíveis algumas “manchas” vermelhas sobre a imagem, como se uma fonte de luz tivesse ficado ligada por esquecimento. Mas não desapareceram durante todo o filme (já não estavam lá noutras projecções). Nessa sessão havia também luz por debaixo do ecrã (menos forte ou quase inexistente noutras ocasiões).
Também anotei problemas de som, sobretudo em projecções vídeo, mas tal poderia decorrer de uma fonte low budget com má masterização. No entanto, o filme japonês «Under the Same Moon» apresentava notória distorção, inclusive em vozes. Em «Never Belongs to Me» o som parecia vir quase em exclusivo do lado direito da sala.
| Comunicação |
O PiFan teve sérias falhas no que toca à informação sobre a legendagem em inglês nos filmes, algo essencial para convidados e visitantes estrangeiros, que não devia ter sido descurado do modo como foi, levando a que entrássemos em sessões sem legendas em inglês ou que fossemos informados à entrada da sala que o filme não tinha legendagem.
Existiram outros problemas de comunicação e dada a extensão dos comentários sobre esse assunto, optámos por colocá-los numa página separada. [ver texto]
| Voluntariado |
Como temos referido em outros textos recentes, os festivais de cinema sul-coreanos recorrem a um grande número de jovens voluntários.
Apesar dos problemas com o PiFan, tenho de deixar uma palavra de louvor para todos os que se dedicam de tal forma, sem retribuição, a fazerem-nos sentir menos perdidos — nas bilheteiras, à entrada e no interior das salas, nas bancadas de souvenirs, na coordenação dos transportes. São simpáticas(os) e do mais prestável que se possa imaginar, por vezes levando o estrangeiro ao lugar, mesmo quando este já se consegue desenvencilhar sozinho (3).
Quando esperava informações sobre a legendagem, na sequência do fiasco do guia, perguntaram-me se queria um refrigerante. Noutra ocasião, ao comprar uns souvenirs (como se fosse possível esquecer-me deste festival), tive direito a umas rifas e as meninas ficaram tão chateadas com o facto de eu não ter ganho nada que insistiram em dar-me um prémio. Só consegui gaguejar um agradecimento.
(Consigo imaginar um sketch dos Monty Python em que uma vítima de tortura se comove quando alguém muito simpático passa por ali e lhe oferece chá e scones.)
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(1) A romanização oficial moderna do nome da cidade (부천) é Bucheon, substituindo a denominação anterior, Puchon. No clip de introdução do festival usava-se ainda um terceiro registo: Puchun.
(2) Em 2005, conversámos, no Porto, com duas das ex-programadoras do festival e com o então director substituto [Vd. texto].
(3) A numeração de algumas salas em secções (e não filas) 가 ga, 다 da, 나 na, em vez das habituais letras romanas não pôde deixar de geral alguma confusão no meu frágil cérebro. 4/08/06
Continua
Capítulo 1: Coreia do Sul
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