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Uma estudante universitária ouve uma estranha mensagem, seguindo o aviso de "chamada não atendida" no visor do telefone móvel. A gravação é da sua própria voz, aterrorizada, e tem uma data de três dias no futuro. Na hora marcada, a gravação confirma-se e ela morre. O pânico espalha-se pela universidade e o fenómeno atrai a atenção dos media. Vendo os amigos envolvidos, Yumi (Shibasaki), procura descobrir o que está a provocar as mortes em cadeia.
«One Missed Call» é referido como um dos títulos mais comerciais de Miike Takashi, um produto de estúdio formatado de acordo com ingredientes que o grande público espera de um filme de horror produzido numa altura em que o género é bastante popular, devido a filmes como «Ring» (1998) ou «Ju-on» (2002).
A actividade de Miike, que não tem dificuldade em dirigir meia dúzia de filmes por ano, tem abrangido vários géneros e vários registos. Tendo tal em atenção, já seria altura que se deixasse de esperar que qualquer novo filme de Miike tivesse obrigatoriamente de ser extravagante, hiperbólico e temperado por grandes níveis de gore ou sexploitation.
A estreia portuguesa de «Three: Extremes» (2004), onde se inclui um segmento assinado pelo realizador japonês, poderá contribuir para dissipar a concepção errónea de que ele se dedica exclusivamente a um tipo de cinema "extremo", com base no visionamento de dois ou três filmes mais acessíveis — por via de festivais de cinema, incluindo o Fantasporto, ou do mercado vídeo de importação —, como «Fudoh» (1996), «Audition» (1999) 2 ou «Ichi the Killer» (2001).
O texto publicado no jornal "Blitz" 3, por exemplo, conclui que Miike é apreciado no Ocidente pelo seu "exotismo oriental" (por qual razão o apreciarão no Oriente, onde já estarão habituados a tal "exotismo"?), e acaba por criticar negativamente o filme afirmando que o "sadismo de Miike pode ter tido melhores dias" (em qualidade ou em quantidade?).
«One Missed Call» (o título português falhou em reproduzir a mensagem mais vulgar no visor dos telemóveis, "1 chamada não atendida") não confirma nem nega nada que não soubéssemos do cinema de Miike Takashi, mesmo conhecendo apenas uma fracção da sua interminável produção: o realizador é extremamente eficaz e habilidoso a lidar com qualquer tema ou género cinematográfico.
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«One Missed Call» é protagonizado por Shibasaki Kou («Battle Royale», «Crying Out Love in the Center of the World»). |
Para realizar um filme como este «Chakushin Ari», não se requereria alguém com o perfil de Miike, de quem se poderia esperar improvisação e subversão dos clichés do género. Mas um filme de género para o grande público não resulta da mesma forma se for dirigido por um tarefeiro que se limita a "seguir os números" ou se tiver no leme um realizador experiente e habilidoso. O cineasta revela aqui um grande à-vontade com a linguagem clássica do filme de terror convencional e fá-la funcionar, assentando a tensão na gestão do suspense, interferindo com o sistema nervoso do espectador, envolvendo-o numa atmosfera bem construida ao invés de recorrer a sustos cíclicos — o “factor bu!”
Podemos não estar perante uma obra ao nível de «Ring» ou «Dark Water» (2002), de Nakata Hideo, mas «Uma Chamada Perdida» vale bem pelo que é: um filme de terror bem fabricado, com momentos arrepiantes e um argumento minimamente lógico, ainda que efeito secundário da necessidade de ligar uma sequência de eventos (mortes).
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Miike Takashi no cinema El Retiro, em Sitges, antes da projecção de «One Missed Call» (Dezembro de 2003). |
O que não vale a pena é partir para a projecção com a mente em algumas obsessões do realizador para depois sair decepcionado e penalizar o filme por não incluir lactação ou objectos práticos do dia-a-dia a serem forçados por onde o sol não brilha. Há por aí muitas opções com essa vertente de Miike. Resta saber que espaço existe no nosso mercado para elas.
Atente-se bem no final, um momento mais histriónico, onde poderíamos sentir que Miike pensou que era a última oportunidade de deixar uma marca pessoal bem vincada, antes de ter de sair dali para o set de outro filme. Pode rir ou pode ficar a matutar, tentando encontrar uma "explicação".
(1) Estreou no Japão em 2004, mas já passava por alguns festivais de cinema no final de 2003
(2) «Audition» foi exibido comercialmente em Portugal, distribuído pela Cinema Novo/Fantasporto.
(3) Blitz de 27/08/05
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