Kim Mun-hi (Seo) é detida, acusada de ter relações sexuais com um menor, Hyeon (Shim), sendo condenada a prestar serviços à comunidade num lar para idosos. Hyeon, espera-a à saída do estabelecimento prisional e leva-a para longe dos jornalistas, ávidos por “escândalos”. Faltam alguns dias para que ele atinja a idade do consentimento (20 anos) e Mun-hi resiste ao reatar da relação. Apesar do risco, os dois passam algum tempo num motel.
Park Cheol-su é autor de uma extensa filmografia que se estende até ao final dos anos 70. Entre os seus títulos mais conhecidos conta-se «301-302» (1995) e «Kazoku Cinema» (1998). Com a sua própria produtora, Park dirige também uma escola de cinema e organiza um festival em formato DV para dar oportunidade a jovens cineastas de mostrarem o seu trabalho.
Segundo o realizador afirmou durante o Far East Film Festival de Udine, «Green Chair» partiu do conselho de um amigo que lhe sugeriu fazer um filme que assentasse sobre algo que vende sempre bem — sexo. Talvez se trate de um comentário irónico por parte de alguém cujos filmes têm tido resultados limitados nas bilheteiras e que considera que o mercado sul-coreano resiste fortemente a obras fora do mainstream.
Impressão sua? O estúdio considerou que não existia potencial comercial e colocou o filme na prateleira durante um ano e meio. Só em meados de 2005, depois de passagens por festivais de cinema — Sundance, Berlim e Udine — é que «Green Chair» teria data de estreia marcada para salas de cinema na Coreia, vindo a ser, entretanto, também editado em DVD.
A diferença de idades entre os protagonistas de «Green Chair» é um ponto de partida, servindo para colocar as personagens “à margem”, por terem de lidar com uma relação proibida. O isolamento transitório é uma solução que parece ser incontornável; primeiro no motel, depois na casa de Su-jin (Oh), a amiga artista de Mun-hi. Com ela formam um núcleo familiar sui generis, que nos faz questionar se poderá perdurar.
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Ninguém poderia prever que tudo começaria com uma compilação de êxitos de Roy Orbison a precipitar-se no solo. |
O elemento idade potencia uma estrutura narrativa que conduz à sequência final, onde se reúnem todas as personagens relevantes do filme. Num espaço confinado, reproduzem-se as vozes da comunidade: pais, amigos, relações antigas, a própria Lei. A relação acaba por ser analisada, questionada ou sancionada, por esses elementos externos, os quais Mun-hi e Hyeon têm de enfrentar e vencer.
Há um humor mordaz ao longo de todo o filme, mas é no final que surgem os melhores momentos, com base na interacção entre as várias personagens. Os presentes têm uma função na narrativa na qual Park se foca, descartando o realismo com o iniciar da cena — não faz sentido que metade daquelas pessoas ali se encontrem. É como se tivessem sido convidadas pelo realizador Park Cheol-su e não pela dona da casa, Su-jin.
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Su-jin (Oh Yun-hong) recolhe os amantes em sua casa e é anfitriã da reunião onde todas as personagens se cruzam. |
Apesar da suspensão do realismo, há, neste segmento, uma estética documental, motivada pela necessidade de ouvir os “depoimentos” de algumas pessoas sobre a relação dos protagonistas. Dessa forma, ao invés de escrever diálogos e racionalizar a presença de todas as personagens, Park fá-las simplesmente abrir uma porta, entrar e partilhar as suas opiniões connosco. Aquelas que não conhecemos são-nos apresentadas, com a relação com os protagonistas a surgir no ecrã. Em alguns planos explicações são dadas directamente para a câmara, como se fôssemos também convidados e os presentes partilhassem connosco os seus pontos de vista.
Para que o filme funcione e não se sinta que a motivação primária é atrair público com base na (suposta) polémica relação entre uma mulher de 30 e poucos anos e um menor (ainda que praticamente com 20 anos) — e nas extensas cenas de sexo entre os dois —, Park conta com os bons desempenhos do elenco principal, liderado por Seo Jeong e pelo jovem Shim Ji-ho. Com a adição de Oh Yun-hong e de um conjunto de secundários com relevância funcional num texto sólido e maduro, as relações entre as personagens tornam-se plenamente credíveis.
Adicione-se ainda a excelente fotografia, sustentada em iluminação natural, composição e montagem eficazes e uma banda sonora sedutora, a completar uma proposta de bom cinema, que merece ser divulgado e apreciado por audiências mais vastas.
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