Jozee to Tora to Sakanatachi [Josée, the Tiger and the Fish] [en]
ジョゼと虎と魚たち
Realizado por Inudo Isshin
Japão, 2003 Cor – 116 min.
Com: Tsumabuki Satoshi, Ikewaki Chizuru, Shinya Eiko, Ueno Juri, Arai Hirofumi
drama romance
Tsuneo (Tsumabuki), estudante universitário, trabalha em part-time num salão de mahjong, onde ouve falar de uma velha misteriosa que costuma ser vista de madrugada a empurrar um carrinho de bebé coberto. Os jogadores partilham rumores sobre o conteúdo, havendo até quem sugira que a idosa é um correio da yakuza, transportando armas ou droga. O jovem acaba por conhecer a mulher e a sua neta, Kumiko (Ikewari), a qual passa a maior parte do tempo isolada em casa, a ler e a cozinhar.

Inudo Isshin é um conhecido realizador independente japonês, que começou a sua carreira no mundo da publicidade. «Two People Talking» (1995) ganhou o Grande Prémio do Sundance Film Festival in Tokyo. «Across a Gold Prairie» (2000), sobre um homem de 80 anos que acordou uma manhã a julgar que era ainda um jovem de 20, foi exibido no Forum da Berlinale.

Inudo, que assinou também alguns argumentos levados a bom termo por outros realizadores — «Osaka Stories» para Ichikawa Jun e «Yomigaeri» para Shinoda Akihiko — criou, em 2005, «All About my Dog», um filme em segmentos, co-dirigido com vários realizadores, e «Himiko's House», protagonizado por Shibasaki Kou, com base na relação entre uma jovem e o pai gay.

«Jozee to Tora to Sakanatachi» é um drama romântico com dois protagonistas atípicos. Ele, Tsuneo, é um jovem hedonista, que dá pouca importância às relações com o sexo oposto, para lá da componente física. Ela, Kumiko, vive à margem da sociedade; não só por ser pobre, mas sobretudo por ser deficiente motora, confinada ao espaço exíguo da casa que partilha com a avó.

À primeira vista, a história pode parecer banal e mais adequada a ser transformada num “caso da vida”. Na realidade, as personagens são desenvolvidas independentemente do que esperaríamos dos seus tipos, i.e., “estudante universitário” e “rapariga pobre e deficiente”. Tsuneo pode aproximar-se do tipo referido, mas não necessariamente do modo como o mesmo costuma ser utilizado no cinema.

Ikewaki Tsumabuki

Kumiko, que se apresenta como Josée, um nome que adoptou a partir de uma personagem da escritora francesa Françoise Sagan (1935-2004), tem pouco contacto com o mundo exterior mas nutre uma grande paixão pela leitura. Os livros que lê são recolhidos pela avó, no meio do lixo da vizinhança. Tsuneo cruza-se com ela por acidente e aproxima-se — primeiro, por curiosidade; depois, por constatar que a rapariga é uma excelente cozinheira.

Kana (interpretada por Ueno Juri) surge na narrativa como a menina bonita e perfeita, para contrastar com Kumiko. A formar-se em segurança social, parece natural que queira ajudar Kumiko e a avó a pedido de Tsuneo, mas gera-se uma tensão passível de provocar rupturas, à medida que se forma uma triangulação de sentimentos.

Tsumabuki, Ikewaki Ueno

A personagem mais interessante não poderá deixar de ser Kumiko/Josée, mas mesmo os secundários estão muito bem delineados. O amigo de Josée surge a início como comic relief, um weirdo que poderíamos esperar encontrar num filme de Imamura, mas a sua presença acaba por se revelar importante para melhor a conhecermos a ela.

Kana é essencial para forçar Tsuneo a uma escolha e é um tipo de personagem que normalmente seria "subescrita" — usada e dispensada mal cumprisse a sua função. Não é o caso; ainda que secundária, é igualmente credível e fortemente humanizada, com todas as suas forças e as suas fragilidades.

Josée/Kumiko Josée/Kumiko

«Jozee to Tora to Sakanatchi» sustém-se mais nas personagens do que no texto. A força que delas advém traz-nos essa rara sensação de nos olvidarmos da construção ficcionada e de simplesmente seguirmos o seu percurso, ao ponto de não questionarmos opções do argumento, mas sim das pessoas que vemos no ecrã. É uma das sensações mais satisfatórias que podemos ter ao ver um filme.

5

Udine 2004. Custa a acreditar que «Taegeukgi» tenha conseguido mais votos nessa edição do FEFF. O DVD que conhecemos é a edição sul-coreana (Marvel Entertainment, codificado R3), que inclui num segundo disco um extenso documentário não legendado. No topo da página pode ver a slip-case de cartão e a capa propriamente dita (passando com o rato sobre a imagem).

publicado online em 15/9/05

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