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Bem vindo, Caro Leitor.

Cinedie Ásia germinou enquanto ramo do site Cinedie – pomposamente subtitulado “webzine de cinema” – que, em determinada altura, desejava fazer uma sombra bem maior, em seu redor, desenvolvendo várias secções: Secção DVD, Secção Cinema Asiático, Secção Cinema Europeu, Secção Filmes de Culto, Secção Bandas Sonoras... Um projecto, digamos, nem um pouco megalómano (eu poderia estar dentro de uma camisa de forças, a escrever com o nariz, mas tal acabou por não suceder). O ramo acabou por se tornar tão pesado que quase derrubava a árvore, de modo que de “secção” passou a site autónomo, em termos de conteúdo, estrutura e design. E aqui está ele.

Porquê cinema asiático? Porque não cinema asiático? As razões podem ser estatísticas: os filmes que mais prazer me têm dado têm vindo da Ásia ou, mais especificamente, da China e do tríptico da Ásia Oriental, Hong Kong, Japão e Coreia do Sul. Acrescentando-se também títulos da República Popular da China e de Taiwan. A produção nesses territórios é extensa (ridiculamente mal representada no Ocidente) e mais facilmente apresenta exemplos de filmes livres de amarras e condicionalismos de um mercado comercial que dispara quase todos os cartuchos na direcção de um único tipo de público – o tal jovem, do sexo masculino, 16-24, que joga muito na consola e cuja predilecção gastronómica é um hamburger e uma Coca-Cola fresca. Ou por aí. (Esse público-alvo, por muitos tiros na “mouche” que receba está sempre de pé, incólume; um mistério cuja análise está fora do âmbito deste texto) Nada contra. Há muitos públicos e também há muitas cinematografias. O cinema mais generalista continuará a ter lugar no site mãe (ou pai, é difícil ter a certeza); aqui é o Cinema Asiático que tem um espaço próprio.

Nesta primeira fase, os textos referem-se sobretudo a títulos de produção recente. Por um lado, escreve-se de memória fresca, por outro, são também aqueles que mais carecerão de atenção, sobretudo em língua portuguesa, pois em inglês já muito se tem escrito, ainda que em círculos algo restritos e especializados. Claro que clássicos não estão excluídos e irão sendo adicionados à medida que forem sendo vistos ou revistos, mas há material escrito e ciclos regulares a eles dedicados, sobretudo (ou exclusivamente?) a realizadores japoneses, consagrados pelo tempo, como Kurosawa, Ozu ou Mizoguchi, pelo que do prisma da utilidade ou oportunidade não faria muito sentido enveredar desde já por tal tarefa, alterando as prioridades.

A linha editorial do Cinedie Ásia em nada se afastará daquela que tem regido Cinedie.com, no que toca à atitude que preside à concepção de cada texto. Isto é, acredito que, para escrever sobre um filme, não só nunca será necessário descrever o final ou qualquer cena ou elemento construídos para chegarem ao espectador num determinado momento, como ainda se pode, ou deve, evitar permitir que o espaço de descrição da narrativa se sobreponha ao dedicado às opiniões e à análise propriamente ditas. Isto é partir do principio que há quem goste de ler sobre um filme antes de o visionar, por um prisma que considera um texto crítico (sobretudo) uma recomendação (ou um aviso) ao leitor e não necessariamente um ensaio sobre um momento de cinema. Obviamente que há lugar para todas as vertentes e não sou, certamente, a pessoa mais autorizada para discorrer sobre tais tipificações. De qualquer forma, os textos a publicar aqui não têm pretensões ensaístas, sem prejuízo, claro, de um ou outro querer ir um pouco mais longe na escala do pretensiosismo analítico.

Outra bandeira do site poder-se-á descrever de forma mais sucinta: um filme não é bom ou mau consoante a sua assinatura e, muito menos, devido ao “género”. Se não suporta o conceito de um filme de artes marciais – excepto, claro, clássicos de Kurosawa ou «O Tigre e o Dragão», porque se trata de “arte”... – está no seu plano direito, mas colocar um extenso conjunto de filmes dentro do mesmo saco, devido a uma questão formal, constitui um preconceito cultural que bloqueia o acesso a muitos bons filmes. Pode um filme de kung fu ou um wuxia, ser desinteressante só porque é, formalmente, kung fu ou wuxia? É a mesma coisa que desprezar todo e qualquer western ou todo e qualquer filme de temática sobrenatural, por exemplo. É, no fundo, ter uma visão de cinema muito limitada. “Não suporto quando se põem aos tiros!”, “Aquilo dos fantasmas, não faz sentido, é só fantasia!” Estas frases ouvem-se muito?

Assim, aqui não encontrará discriminação quanto a géneros: thrillers urbanos de John Woo (antes de emigrar) ou artes marciais de Sammo Hung ou Yuen Woo-ping, conviverão lado a lado com dramas ou horror atmosférico vindo do Japão, como as recentes obras de Nakata Hideo e Kurosawa Kyoshi, com comédias e melodramas coreanos ou com filmes aos quais ninguém se negará a apor o carimbo de “arte e ensaio”, digno-de-apreciação, como, por exemplo, as obras de Zhang Yimou situadas numa qualquer aldeia da China profunda.

好看的电影!
(Bons filmes!)

Luis Canau,
1/12/02

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