Em Macau, Michael (Lau) acaba de cumprir pena de prisão e procura reiniciar a sua vida criminosa de "Big Brother", reunindo ex-subordinados e cobrando dívidas antigas (incluindo da ex-mulher). Instala-se na "Residencial Internacional", dirigida por uma viúva, Siu (Wong), que trabalha arduamente para manter o negócio, ao mesmo tempo que tenta educar o filho pequeno. As dificuldades de Michael começam logo no momento da chegada à residencial, quando se envolve num confronto físico com um taxista que se vem a revelar irmão de um agente da Polícia Judiciária (Lai). Por seu lado, Siu vê a vida mais negra ao testemunhar que não foi Michael a começar o conflito.
«Where a Good Man Goes» surpreendeu-me em dois planos: primeiro, To Kei-fung é mais conhecido por filmes como «Dung Fong Saam Hap/Heroic Trio» (1992) e «Yin Doi Ho Hap Juen/Executioners» (1993), que primam pela acção e por algum melodrama quase sempre ligado a situações-choque resultantes de violência por vezes extrema (veja-se o segundo filme...); segundo, sendo integrado num conjunto de filmes que continuam a destilar o submundo do crime em Hong Kong (neste caso Macau, que para muitos dos habitantes da ex-colónia Inglesa é visto como uma espécie de subúrbio), reconduz-se a um melodrama romântico.
O crime é aqui quase incidental, mas é um elemento importante na caracterização do personagem de Lau face a Ruby Wong. A improbabilidade de uma relação entre os dois é sabiamente contornada, pouco a pouco, cena a cena. Enquanto ele desarruma, destrói e é rude e mal educado, ela é paciente, coloca cada objecto no sítio, persiste em dedicar-se ao seu trabalho e em respeitar quem não merece o seu respeito. Michael está mais acostumado a ter as suas fronteiras e a eliminar quem as atravessar ou, pelo menos, a usar da violência até que se corrijam as falhas. É desse modo indirecto que começa por defender a viúva e o filho do polícia moralmente corrupto (apesar de ter sobretudo de se defender a si próprio), acabando, sem que para isso existam muitas surpresas pelo caminho, por se ver com motivações diferentes das com que começou.
Pecando por um acto final algo déjà vu, «Where a Good Man Goes» mantém-se longe de outros clichés mais Ocidentais. O filme não parte da situação de um ex-condenado a tentar endireitar-se e não prega uma mensagem sociológica sobre o perdão e a remissão dos pecados; Michael sai o mesmo homem "mau" que era quando foi condenado e que agora quer apenas reconstruir a antiga vida (de crime). To evitou saídas mais fáceis para o impasse final, mas o filme funciona sobretudo porque os personagem estão bem construídos e os dois actores são óptimos.
Vd. Mostra de Cinema de HK, Lisboa 1999
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