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“Cherry Blossom Story” (桜花抄): Tono Takaki (Mizuhashi) e Shinohara Akari (Kondo) conheceram-se na escola primária e tornaram-se muito próximos. Mas ela, Akari, teve de se mudar com a família para uma região longe de Tóquio. Os dois continuam a trocar correspondência, e um dia é Takaki que se tem de mudar – para Tagoshima, uma ilha situada no Oeste do Japão. Takaki decidi ver Akari pela última vez, empreendendo uma longa viagem de comboio até Tochigi.
“Cosmonaut” (コスモナウト): Anos depois, em Kagoshima, Sumita Kanae (Hanamura) está apaixonada por Takaki, colega dela, mas este parece ter a mente sempre num local distante. Além de se sentir deprimida por não ser, aparentemente, correspondida, Kanae está indecisa em relação ao seu futuro, adiando a escolha do curso universitário.
“5 Centimeters per Second” (秒速5センチメートル): De volta a Tóquio, Takaki, agora adulto, debate-se com melancólicas memórias do passado e entra em ruptura com as suas relações sentimentais e laborais. Akari está em Tochigi e prepara-se para viajar. Poderão os dois voltar a encontrar-se em Tóquio?
Shinkai Makoto é um dos grandes nomes da nova geração de animadores e realizadores de animação do Japão. Numa conferência sobre anime que a prof. Suyama Kei ministrou recentemente em Portugal (Novembro de 2007), Shinkai e o seu último trabalho, este «5 Centimeters per Second», fizeram parte de um conjunto de cinco obras e autores seleccionados para ilustrar o melhor das novas tendências da animação japonesa. 1
O realizador, nascido em 1973, tornou-se conhecido quando animou e finalizou sozinho num computador a curta de 25 minutos «Voices from a Distant Star» («Hoshi no Koe», 2002). A primeira versão do filme continha inclusive as vozes de Shinkai e da namorada. Seguir-se-ia a longa-metragem «The Place Promised in Our Early Days» («Kumo no Muko, Yakusoku no Basho», 2004), produzida já numa estrutura profissional.
Apesar de dividido em histórias com autonomia narrativa, não definiria «5 Centimeters per Second» como um “filme por segmentos”, mas sim como longa-metragem 2 dividida em capítulos. Shinkai organiza e desenvolve a narrativa privilegiando a elipse e o flashback. Além dos saltos no tempo de segmento para segmento, a primeira parte, inclui, ela mesma, variações cronológicas, que se podem revelar desconcertantes por momentos.
Tal como as obras anteriores do realizador, «5 Centimeters» é vincadamente sentimental e melodramático. E, tal como nessas obras, as personagens centrais são crianças ou adolescentes. Aqui, mais do que apresentar personagens forçadas a amadurecer devido a acontecimentos bem definidos, assistimos a três momentos distintos, separados por vários anos, reflectindo o seu crescimento “natural”
A animação japonesa é conhecida por uma frequente economia de meios, o que leva muitos a minimizarem a sua qualidade. Mas, como é natural, não se pode presumir que métodos de trabalho e/ou técnicas sejam iguais em todas as produções japonesas. Podemos falar em “economia” ou talvez “racionalização” de animação em «5 Cm», mas tal não se prende com o recurso a soluções “limitadas” de animação. Existem sim muitos planos, que compõem a atmosfera geral do filme, que são meramente contemplativos, sobre cenários ou objectos, que transpiram a emoção das personagens.
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Shinkai é particularmente bem-sucedido nesse âmbito de criar uma atmosfera sentimental, reflexo de estados emocionais, pelo modo como enquadra e ilustra o espaço: ruas, escolas, estações de comboio. O primeiro segmento decorre, em boa parte, em comboios e em estações, acompanhando a viagem de Takaki. A viagem é longa e obriga a mudar várias vezes de comboio. As estações e o interior dos comboios são recriados com grande detalhe, e o filme captura o aborrecimento, o cansaço e a ansiedade que podem resultar de uma longa viagem.
Não precisamos de ler as notas de produção ou ver making-ofs para sabermos que houve um exaustivo trabalho de pesquisa, que incluiu milhares de fotografias de lugares reais, que estiveram na base dos cenários. O realismo (que não é exactamente “fotográfico”) é apenas limitado pela adulteração de marcas comerciais (restaurantes “McDonaldge”, café “Starberks”, relógios “Ocasi”, sistemas operativos “Vasta”, etc.)
O que se sobressai, no entanto, é a emotividade e a melancolia decorrentes das relações não concretizadas entre três personagens. O melodrama é o registo dominante, e o filme acaba, inclusive, numa nota de exultação do género, com um epílogo que se desenrola em formato de vídeo musical. Não se trata de uma figura de estilo; mas um video-clip de facto, com a animação e a montagem concebidas para acompanhar uma canção, que enquadra as movimentações das duas personagens principais, num percurso que poderá levar, ou não, ao reencontro.
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1Vd. o apontamento sobre a conferência de Lisboa aqui.
2A duração de 63 minutos está aquém do que normalmente esperamos de uma longa-metragem e suponho que o sistema de categorização de algumas entidades ou festivais de cinema poderá considerá-lo “média-metragem”.
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