|
Yeoja, Jeong-hye [This Charming Girl]
여자, 정혜
Realizado por Lee Yun-gi
Coreia do Sul, 2004 Cor – 98 min.
Com: Kim Ji-su, Hwang Jeong-min, Kim Hye-ok, Lee Dae-won, Kim Mi-seong, Seo Dong-won
drama
|
Jeong-hye (Kim Ji-su) trabalha num posto dos correios e vive sozinha. O seu quotidiano é banal e repetitivo. Acorda à mesma hora, almoça no mesmo local, passa pelos mesmos trajectos, conversa com as mesmas pessoas. A sua reacção perante tudo o que a rodeia parece ser de indiferença e apatia. À medida que acompanhamos o seu dia-a-dia, vamos conhecendo melhor a história da jovem, através de flashbacks, progressivamente mais extensos e clarificantes.
«This Charming Girl» é um filme sul-coreano atípico; os ingredientes para o melodrama convencional estão todos lá, mas a linguagem e a estrutura fogem àquilo a que temos sido habituados. Ao invés da história em três actos de uma mulher solitária que ultrapassa tragédias ou vence fantasmas do passado, encontra o amor e quebra a carapaça do isolamento, é-nos dado apenas a observar o que ela observa e aquilo de que se vai recordando no momento presente.
A narrativa toma o seu tempo a desenrolar-se. Depois de meia hora de filme, ainda não sabemos de que se trata exactamente. Parece que os momentos da vida diária de Jeong-hye que nos são servidos não têm um propósito claro. Lee Yun-gi não facilita o trabalho de absorção à audiência — a manipulação melodramática está ausente.
Apesar de serem títulos diversos, anotamos semelhanças com «Anjos Caídos» de Wong Kar-wai, no modo como a câmara empatiza com a protagonista — Kim Mi-su aqui, Michelle Reis no filme de Wong. Em ambos os casos, estamos perante personagens isoladas, solitárias, enquadradas através de grandes angulares, com uma proximidade "excessiva" da câmara.
Esta questão formal separa «This Charming Girl» de outros títulos com uma aproximação mais estática, "imparcial", do material, preferindo o plano geral. Aqui, como em «Anjos Caídos», a câmara praticamente se encosta à actriz e a amplitude da lente permite situá-la no plano, sem desfocar o fundo. A presença da protagonista não é isolada do meio, apesar do seu estado psicológico o sugerir.
O formalismo "arthouse" reveste um drama intenso. A emotividade não tem origem na linguagem tradicional do género, requerendo um esforço de descodificação e o envolvimento activo por parte do espectador. «This Charming Girl» não é apropriado para quem apenas queira sentar-se e descontrair durante duas horas, mas quem apreciar filmes que exigem algo mais da audiência deverá sentir-se recompensado.
|
DVD Spectrum (R3) de qualidade aceitável, mas com tons negros muito carregados. Extras: comentário áudio, entrevistas, trailers, vídeo musical, comparações com os storyboards para algumas cenas, etc. Sem legendas, como é costume.
publicado online em 25/7/05
|
cinedie asia © copyright Luis Canau. |
|