Kurenai no Buta [Porco Rosso]
VHS nacional, dobrado em português: O Porquinho Voador
紅の豚
Realizado por Miyazaki Hayao
Japão, 1992 Cor – 93 min.
Com as vozes de Moriyama Shuichiro, Kato Tokiko, Katsura Sanshi, Kamijô Tsunehiko, Okamura Akemi, Otsuka Akio, Seki Hiroko
drama comédia acção anime animação
Capa DVD
Na Itália entre as duas guerras, caçadores de prémios ganham a vida a lutar contra so piratas do ar que aterrorizam o Mar Adriático. Um deles é Marco Porcellino (Moriyama), mais conhecido por Porco Rosso. Gina (Kato), cantora e proprietária do Hotel Adriano, situado numa pequena ilha, não desiste de tentar convencê-lo de que vale a pena procurar a humanidade, mas Porco resiste a falar do passado e detesta o único vestígio desses tempos – uma fotografia que mostra o seu rosto antes de assumir os agora característicos contornos porcinos. Gina e Marco conhecem-se desde muito jovens, e ela foi também a mulher de um amigo falecido.

Fartos das investidas de Porco Rosso, vários grupos de piratas do ar, incluindo os “terríveis” Mamma Aiuto, reúnem-se e decidem contratar os serviços do ás de aviação americano Donald Curtis (Otsuda) para um duelo aéreo contra o caçador de recompensas. Entretanto, o aviador rosado tem também de fugir das autoridades fascistas que o perseguem e, depois de um combate não muito bem sucedido, tem de fazer uma paragem nas oficinas do amigo Piccolo (Katsura), onde conhece a jovem mecânica Fio (Okamura), que irá pôr à prova as suas atitudes de porco machista.

No Hotal Adriano, Porco Rosso e Curtis ouvem Gina cantar "Le Temps des Cerises".

«Porco Rosso» foi concebido sem apontar para um público-alvo particular, constituindo o filme que, na época, Miyazaki Hayao quis fazer “para si mesmo”. A família de Miyazaki esteve ligada à construção de aeronaves, sendo proprietária de uma construtora de peças activa durante a 2ª Guerra Mundial e o realizador sempre revelou uma grande paixão por máquinas aéreas e pela sua mecânica, do mesmo modo que tem o porco como seu animal favorito ou, pelo menos, um dos seus animais favoritos (não a excluindo, não se trata de uma preferência gastronómica). Ainda que nem todos os aviões presentes no filme sejam modelos reais, a mecânica dos seus controles ou das armas a eles acopladas foi concebida e desenhada de um modo que denota atenção ao detalhe e transmite um grande realismo. O mesmo pode ser dito dos cenários e da arquitectura, nascidos das varias viagens que Miyazaki fez à Europa para efectuar pesquisa gráfica para diversos projectos, desde logo a série televisiva “Marco” (“Haha o Tazunete Sansen-Ri”, 1976). O facto do nome dos protagonistas deste filme e da referida série dos anos 70 ser igual não é uma simples coincidência.

Marco e Curtis lutam no ar e em terra (ou melhor, no mar)

Como a generalidade dos filmes de Miyazaki, «Kurenai no Buta» não possui um vilão típico, ainda que os seus traços fisionómicos não estejam distantes dos do Conde Cagliostro de «Lupin III: The Castle of Cagliostro» (1979), ao estilo de um “galã” do cinema americano clássico, tipo Errol Flynn ou Clark Gable (a referência é directa em «Porco Rosso», como o leitor poderá constatar). Este comentário contra a exacerbação das aparências e dos conceitos de beleza tradicionais, tem paralelo no filme a que Porco assiste quando encontra o seu amigo Feralin. No ecrã vemos um porco mau da fita, a ser enfrentado e batido pelo herói “clássico”, que salva o dia e conquista a donzela.

Gina, tal como a jovem Fio, rejeitam Curtis, pela sua falta de carácter, constituindo, por este prisma, o oposto de Porco Rosso, que personifica os ideais de honra e bravura do cavaleiro. A sua armadura é o seu avião. Curtis poderá parecer um dos tais heróis tradicionais, mas na realidade não passa de um lacaio dos piratas, ainda que, tal como eles, acabe por ser inofensivo. Como, aliás, todos os candidatos a “maus” da fita, que se acabam sempre por derreter e revelar coração mole, na presença de criancinhas ou de uma das protagonistas. Se há um verdadeiro vilão neste filme, ele está nas sombras e acaba por se manter secundário: o Fascismo, que se prepara para acabar com as réstias de liberdade que, entre outras coisas, permitiam as actividades dos aventureiros dos ares.

Em «Porco Rosso», Miyazaki lida com ingredientes diversificados e gere mudanças de ritmo e de registo. É uma comédia, um filme de aventuras e também um romance. Aqui e ali é trespassado por fortes laivos de melancolia, que lutam para conseguir dominar o filme, não sendo claro se o conseguem fazer. Há muito para nos fazer sorrir, mas o epílogo é dominado por um tom mais sério, que não será esperado por quem esteja à espera de um filme para crianças. Existem excelentes momentos de comédia ligeira, que revelam imaginação visual e um grande sentido de ritmo, como toda a sequência do rapto (?) das 15 menininhas, com a tripulação do barco a dar instruções por todas as formas e feitios, e um mapa animado a apresentar o percurso da perseguição. Os combates aéreos, as perseguições e o duelo final fornecem acção q.b. para todos os que procurem “apenas” entretenimento, de modo que é o filme tem potencial para agradar a uma grande diversidade de públicos.

4
Disponível em DVD de Hong Kong (IVL, R3), com as características habituais das edições Ghibli: anamórfico, dois discos, extras interessantes, mas não particularmente extensos, sendo o mais relevante todo o filme apresentado com storyboards (para esta opção apenas existe som em cantonês). Som Dolby 2.0 para a versão original (5.1 em cantonês). DVD nacional pela New Age Entertainment sem data definida.

publicado online em 4/03/03

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