Eun-jin (Shin), também conhecida por Mantis, é o braço direito do líder de uma organização criminosa, reputada pela sua perícia no combate com duas letais lâminas gémeas. Enquanto o grupo se envolve numa disputa com um gang rival, Mantis encontra a irmã mais velha, da qual foi separada em criança, depois da morte dos pais. Infelizmente, Yu-jin está numa cama de hospital e padece de uma doença à qual poderá não sobreviver. Depois do reencontro e sentindo que a sua vida por ser curta, Yu-jin diz à irmã que gostaria de a ver casada. Eun-jin, habituada a lutar e a praguejar, mas pouco familiarizada com etiqueta e feminilidades, dá ordens aos seus homens para lhe encontrarem um marido.
«My Wife is a Gangster» foi um dos filmes mais bem sucedidos nas bilheteiras sul-coreanas no ano de 2001 (nº5 no top geral), sendo também muito popular fora do território. Tendo por base o típico filme de gangsters, subvertendo o género do “herói”, i.e., colocando uma mulher num papel normalmente masculino, Cho Jin-kyu desenvolve uma comédia de enganos, com algumas pinceladas de drama. O humor gera-se em redor de uma espécie de espécie de comédia de situação, explorando, em diversos episódios, a vida íntima de um casal pouco convencional, onde o interesse na união não é partilhado por ambos os cônjuges. A componente de acção engloba algumas violentas sequências, com coreografia de Kim Won-jin, célebre entre os entusiastas do cinema de artes marciais de Hong Kong, pela sua participação em «Hit Ji Chin Si/Operation Scorpio» (1992, também conhecido por «Scorpion King»).
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Para cumprir a vontade da irmã doente, Eun-jin casa com Soo-il, que desconhece o ramo de actividade da sua esposa.
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Não se pode dizer que os ingredientes de «Jopog Manura» se misturem na perfeição. Os desejos da irmã são cumpridos por Mantis a todo o custo, dando origem à relação com o recatado e conservador funcionário público Soo-il (Park), que julga que a esposa é uma simples dona de casa. A comédia nasce da ruptura com as fortes tradições, das investidas do marido para consumar o matrimónio e da tentativa de conciliar duas vidas, sem que uma colida com a outra (algo que, nada surpreendentemente, será difícil de suster). O tom dramático (a irmã moribunda) não convive muito bem com o humor que daí se gera. Do mesmo modo, as sequências de acção, onde se recorre inclusive a algum “wirework”, para maior espectacularidade, tendem a destacar-se como segmentos isolados, como se inseridos a posteriori depois do resto do filme estar concluído. Alguma brutalidade no último desses quadros poderá desagradar aos que esperavam uma comédia mais ligeira. Sendo certo que há ocasiões em que o humor funciona muito bem, as várias mudanças de registo e de ritmo revelam-se contraproducentes para o filme como um todo. Não há acção suficiente para que o apreciemos como filme de acção; a violência e os momentos mais dramáticos quebram o ritmo da comédia.
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Duas das cenas de acção coreografadas pelo "Rei Escorpião" Kim Won-jin.
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«My Wife is a Gangster» cria uma diversificada galeria de personagens, mais ou menos típicas, umas mais interessantes do que as outras. Tal contribui também para alguma dispersão da narrativa, ao enveredar-se por histórias paralelas que pouco ou nada adiantam (ainda que uma delas sirva para despoletar o clímax, lá se chegaria por outros meios). Por vezes a simplicidade é um trunfo; tais desenvolvimentos requereriam melhor trabalho na harmonização dos vários elementos. Pelo menos os cineastas não caíram na armadilha de adocicar o final ou de fazer cedência moralistas. Ou talvez o final já tivesse sido concebido com um olho na sequela, que deverá sair este ano. O remake americano deverá estar em preparação. Mal podemos esperar...
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