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Laat Sau San Taam/Hard Boiled
辣手神探 (là shŏu shén tàn)
Realizado por John Woo [Ng Yu-sam]
Hong Kong, 1992 Cor – 127 min.
Com: Chow Yun-Fat, Tony Leung Chiu-wai, Teresa Mo Sun-kwan, Phillip Chan Yan-kin, Anthony Wong Chau-sang, Bowie Lam Bo-yi, Philip Kwok Chun-fung, Cheung Jue-luh, Y. Yonemura, Kwan Hoi-san
géneros: drama crime heroic bloodshed
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O detective Yuen/Tequila (Chow) leva aos limites a sua dedicação a um caso de tráfico de armas, e num violento tiroteio assiste à morte de um colega e amigo, sem contar com as dezenas de inocentes, apanhados no fogo cruzado ou que simplesmente cometeram o erro de atrapalhar a saída dos criminosos. Uma guerra deflagra entre dois grupos rivais. O Boss Johnny Wong (Wong) tenta adquirir para as sua fileiras um homem de confiança do Boss Hui (Hoi-Shan). Tony (Leung) hesita em trair o seu patrão, em particular quando Wong insiste que seja ele próprio a abatê-lo. A polícia recebe mensagens codificadas em ramos de rosas, dirigidos à ex-namorada de Tequila (Mo), remetidas por um agente infiltrado nas tríades.
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Chow Yun-fat, como sempre, sem medo de se sujar. |
John Woo quintessencial, «Hard-Boiled» é o seu último filme antes de ser levado para os EUA para trabalhar para Jean-Claude Van Damme, em «Hard Target» (1993). Como é apanágio de Woo, os personagens centrais são unidos por regras de conduta moral muito bem definidas - sejam eles polícias ou criminosos -, e os sentimentos de amizade e camaradagem sobrepõe-se aos elementos pontuais de romance. Os personagens femininos são quase sempre elementos secundários, ao contrário de, por exemplo, os filmes de Tsui Hark. Como é natural, no meio de uma guerra não há muito espaço para o desenvolvimento de sentimentalismos. E as baixas no filme são equivalentes às de uma pequena guerra; as mortes vistas no écran ultrapassam provavelmente tudo o que já foi apresentado no grande écran. A coreografia da violência e a montagem (de John Woo e David Wu) deixam pouco tempo para tomadas de fôlego por parte do o espectador.
Woo proporciona a expiação dos sentimentos de culpa dos seus personagens em finais trágicos. Essa culpa vai sendo acumulada pelos resultados da "violência necessária" À prossecução de obrigações superiores, como o cumprimento da lei ou a defesa da honra. Nesse percurso, perante os olhos dos "heróis" caem inúmeros inocentes, cuja protecção se mostrou impossível. Os gangsters "maus" são viciosos, cruéis homicidas que não hesitarão em encher de balas duas ou três dezenas de doentes num hospital, e acidentes acontecem durante operações policiais. Os polícias nem sempre adivinham que é um colega que vai despontar na próxima esquina (um mecanismo por vezes irritante em muitos filmes do género), e o dedo reage mais depressa que a razão. Como sempre, há criminosos honrados e criminosos mais práticos e modernos que não ligam a essas coisas. O primeiro patrão de Tony tem dificuldade em vencer no mercado do tráfico de armas, porque insiste na honra e no respeito pelos adversários. É um homem respeitável, tanto quanto um traficante de armas o pode ser.
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Chow e Leung Chiu-wai |
«Hard Boiled» é quase uma longa sequência de acção, mas, isolando-o em segmentos, a parte final seria digna de figurar em qualquer antologia do género, onde se incluiria também o confronto inicial na casa de chá, os 10 minutos finais de «A Better Tomorrow II», o tiroteio no restaurante de «A Better Tomorrow» ou o conflito na igreja de «The Killer». Este filme é menos melodramático do que qualquer um dos outros de John Woo, apesar de nem ser dos mais curtos. A primazia é dada à acção e o desenvolvimento de personagens ocupa o tempo mínimo necessário. Não há muito para absorver por processos intelectuais; é entretenimento no seu estado puro. Como diz a publicidade no trailer, "Hard Boiled é melhor que uma dúzia de Die Hards" e, citando Sam Raimi, "John Woo está para a acção, como Hitchcock está para o suspense". Julgue você mesmo.
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Cópia VHS (Tartan Vídeo) em widescreen. Aprovado pelos censores com 5 seg. de cortes, adicionados aos 3 seg. previamente requeridos para exibição cinematográfica. Versões mais recentes sem cortes. DVD: Criterion (indisponível) e Fox Lorber (direitos caducados), nos EUA; Tartan no Reino Unido. Este último é anamórfico, ao contrário dos outros, mas a qualidade parece deixar muito a desejar. Os direitos nos EUA estão agora na posse da Disney, esperando-se uma versão censurada, pois a violência do filme não permitirá a classificação R, que a companhia do Rato Mickey exige.
publicado online em 19/01/99 (revisto)
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