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O Túmulo dos Pirilampos/Hotaru no Haka [en]
Grave of the Fireflies, Tombstone for Fireflies
火垂るの墓
Realizado por Takahata Isao
Japão, 1988 Cor – 88 min.
Com as vozes de: Tatsumi Tsutomu, Shiraishi Ayano, Shinohara Yoshiko, Yamaguchi Akemi
drama guerra animação anime
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“21 de Setembro de 1945, foi a noite em que eu morri” — assim se inicia a narração de Seita (Tatsumi), 14 anos. Momentos depois, o espírito do rapaz reúne-se com o da irmã, a pequena Setsuko (Shiraishi), de 4 anos. Em flashback, Seita revive os últimos dias de vida dos dois irmãos, no final da Segunda Guerra Mundial. Na eminência de mais um bombardeamento em Kobe, a mãe dos miúdos (Shinohara) dirige-se primeiro para o abrigo, esperando reencontrar-se pouco depois com eles. Mas tal não virá a suceder.
A esta distância, poderá não ser muito fácil conceber que «Grave of the Fireflies» foi produzido pelo Studio Ghibili lado a lado com «Totoro», para uma estreia em sessão dupla em Abril de 1988. Trata-se de duas obras emocionais, cada uma à sua maneira, mas o filme de Miyazaki Hayao é uma celebração do imaginário infantil e o de Takahata Isao um relato realista da crueldade da guerra, impossível de vender a uma audiência sequiosa por entretenimento.
De acordo com o realizador, na entrevista disponível no DVD Central Park Media [pormenores abaixo], a sessão dupla não se realizou sempre com a mesma ordem de filmes. Quando era primeiro mostrado «Totoro» poucos teriam disposição para «Grave of the Fireflies», mas na situação inversa o público saía satisfeito da sala. Não deixa de ser curioso que na época o título visto como um “risco” foi «Totoro», dado que o filme de Takahata era a adaptação de um livro conhecido e com relevância histórico-social.
Roger Ebert, que a Central Park Media usou e “abusou” para promover «Hotaru no Haka», não teve receio em afirmar que o filme de Takahata deve ser incluído em qualquer lista dos melhores filmes de guerra jamais feitos. É, de facto, uma obra com uma invulgar força dramática, enquanto retrato contundente dos bastidores de um conflito que devastou nações e ceifou a vida a milhares de pessoas.
É difícil estar preparado para a intensidade de «Grave of the Fireflies», tratando-se de “um filme de animação com miúdos”, mas a introdução, revelando desde logo a morte das duas crianças, quebra as ilusões. O texto desenrola-se ao longo de um flashback que começa com um raid aéreo e a separação da mãe, seguindo-se racionamentos, fome e desespero. As crianças são acolhidas por uma tia afastada, mas a relação entre ela e as crianças é tensa.
O filme vive de pormenores e dos pequenos momentos de interacção entre Seita e Setsuko, as suas rotinas diárias, adaptadas e condicionadas às dificuldades decorrentes dos bombardeamentos. A arte é simples, ainda que Takahata tivesse tido intenções de experimentar no que diz respeito ao design gráfico. Mas a data de estreia estava marcada e a necessidade de cumprir prazos levou à opção por um estilo simples de personagens e animação funcional — que em nada diminuem a força desta obra ímpar.
Adaptado de uma novela de 1967 de Nosaka Akiyuki, onde o autor insere elementos autobiográficos (1), com direcção de animação do falecido Kondo Yoshifumi (também co-autor dos storyboards), que viria a assinar «Mimi wo Sumaseba» [«Whisper of the Heart»], em 1995.
(1) O sempre recomendável site Nausicaa.net reproduz uma entrevista com Nosaka onde ele refere que perdeu a irmã no final da guerra de modo similar aquele que descreveu no livro. Nosaka é também autor do livro que deu origem a «The Pornographers» (1966), de Imamura Shohei. |
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Disponível em Portugal desde Maio de de 2006 (New Age Entertainment). Em japonês, Dolby 2.0, formato 1.85:1 anamórfico. Extras: Peça Promocional da Época, Entrevista com Isao Takahata, Trailer Original de Cinema, Galeria de Imagens, Biografia de Isao Takahata, Recomendamos, Livrete Exclusivo sobre o Filme.
Editado duas vezes em DVD nos EUA pela Central Park Media (primeira edição R0, segunda R1). A edição mais recente tem uma transferência melhorada, mantendo a versão inglesa e a legendada em japonês. A versão inglesa arranca por default, infelizmente.
O disco de extras inclui entrevistas com Takahata Isao e o crítico Roger Ebert (12'), biografia do realizador e do autor da história original, “Original Japanese Promo” (6'35) uma perspectiva histórica pelos escritores Theodore e Haruko Taya Cook (12'20), “DVNR Featurette” (4'23) — uma peça sobre o restauro da imagem e redução de ruído —, “Locations, Then and Now” — comparação dos cenários do filme com fotos recentes dos locais representados (2'34) —, storyboards de cenas não usadas, galeria artística, trailers, original e americano.
Ainda que Ebert teça comentários interessantes não deixa de ser desproporcionado o destaque que se dá à peça onde intervêm, acedida directamente do menu principal, enquanto a entrevista a Takahata está “escondida” dentro do submenu “Production Extras”. Ainda que a capa refira uma entrevista com o autor Nosaka, o mesmo apenas surge a dizer algumas frases no contexto da breve peça promocional da época.
Opções DVD-Rom: Script inglês (texto em modo gráfico, lido apenas ao executar a aplicação), galeria de imagens, links, prémios e excertos de críticas e créditos. O disco 1 contém todo o filme em storyboards (multiângulo).
A edição francesa («Le Tombeau des Lucioles») parece ser também uma boa opção. No entanto é mais cara e não tem legendas em inglês.
publicado online em 23/12/05
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