Num liceu feminino, já depois do fim das aulas, Yeong-eun (Kim Ok-bin) permanece numa sala a ensaiar canto. Seon-min (Seo), a melhor amiga, vem chamá-la para se irem embora, mas ela prefere ficar a praticar um pouco mais. Quando ouve outra voz feminina a cantar e sente uma presença ameaçadora, foge, em pânico. No dia seguinte acorda, na sala de ensaios, e tenta entender os acontecimentos da noite anterior. Quando caminha nos corredores constata, para sua surpresa, que ninguém a consegue ver ou ouvir.
«Voice» é o quarto tomo da série «Yeogogoedam», iniciada com «Whispering Corridors» em 1998. As histórias são narrativamente independentes, tendo como ponto de ligação o cenário (um liceu feminino), o título e o facto de envolverem fantasmas.
Primeira longa-metragem de Choe Ik-hwan (também autor do argumento), depois de ter dirigido curtas e assistido Park Ki-hyeong na direcção de «Whispering Corridors», «Moksori» é um filme mais bem sucedido que a tentativa anterior na série — o redundante «Wishing Stairs» —, ainda que não se chegue a aproximar de «Memento Mori» (1999), com o qual tem semelhanças notórias, como a relação muito próxima entre as raparigas e o modo especial, exclusivo, como comunicam.
Choe preocupa-se em construir o drama e em traçar relações sólidas entre as personagens principais — ainda que estas sejam excessivamente tipificadas —, e não tanto em seguir regras e clichés do filme de horror. A premissa surge em muitos filmes bem intencionados, mas pouco imaginativos, como a surpresa final: a heroína afinal está morta (ou não) — aqui, tal é-nos exposto nos primeiros minutos do filme.
|
|
Depois de atacada por uma misteriosa figura, Yeong-eun (Kim Ok-bin) vê-se confinada à escola e só a amiga Seon-min (Seo Ji-hye) reconhece a sua presença. |
«Voice» consegue ser interessante durante cerca de metade da sua duração. Yeong-eun voga pela escola — espaço ao qual está confinada — e só consegue comunicar com Seon-min, com quem mantinha uma ligação forte o suficiente para suster o diálogo post-mortem. Em vez de um fantasma vingativo, e de um tradicional body count, temos uma personagem amargurada e que se recusa a aceitar que está morta.
Um dos problemas com muitos dos filmes de horror coreanos é investirem demasiado num pretenso mistério e na sua investigação. Há algo escondido, guardado para o fim, que é suposto justificar a nossa espera ao longo de 90 minutos, em substituição das emoções e da tensão que poderíamos esperar do género. O realizador parece não querer ir por esse caminho, mas não consegue resistir a outra fragilidade, que é desencantar uma surpresa final a todo o custo, mesmo sacrificando o equilíbrio do texto.
|
|
A professora de música (Kim Seo-hyeong) e Cho-a poderão saber algo sobre o que sucedeu a Yeong-eun. |
Mas o que se revela quando o filme está para terminar é tal e qual o que outros argumentistas também pensaram ser muito original quando escreveram o texto de outras produções coreanas recentes. Podia citar dois exemplos do último par de anos (de entre muitas outras opções) mas não o posso fazer, para não “arruinar” as “surpresas” de três filmes de uma só vez.
Hoje em dia, é quase inevitável pensar, assim que começamos a ver uma obra de horror, se a “surpresa” que nos espera no final não voltará a ser a mesma. Surpresos ficamos quando deparamos com um texto sólido, com boas personagens, tensão e atmosfera envolvente, mas também coerência até ao final.
Não é que Choe não entenda a relevância do equilíbrio dos ingredientes para um bom filme. Foi ele que escreveu as frases que a professora de música, a certa altura, profere: “se as notas não se harmonizam umas com as outras, não passam de ruído; se tal sucede, resulta uma bela melodia.”
(1) O design do título original nos posters do filme joga com o caracter chinês de “morte” (死), cuja pronúncia é a mesma do número quatro. |