Udine 2004
Incontri: Cinema Chinês
Com Zhou Xun, Li Shaohong (Xie Dong e Li Zhao). Quarta-feira, 28.
O segundo encontro com cineastas chineses contou com a presença da realizadora Li Shaohong e da popular actriz Zhou Xun, que se encontravam em Udine para apresentar o filme «Baober in Love». Estiveram também no Teatro Nuovo o realizador e o argumentista de «The Coldest Day», Xie Dong e Li Zhao. Como não pudemos assistir a este último filme e o tempo nesta quarta-feira foi limitado (a projecção do filme de Li decorreria minutos depois do final do encontro), estivemos apenas presentes para ouvir Li e Zhou falarem sobre «Baober in Love». Lamentamos esta limitação, sobretudo depois de ter sido inviável assistir ao primeiro encontro de cinema chinês (com o realizador Zhang Yuan e Chen Shaoyun, produtor de «Jiang Jie»).
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Zhou Xun (n. 1976) é actualmente uma das actrizes mais populares da China. Com uma carreira também na música pop, Zhou surgiu recentemente na sétima posição de uma lista publicada pela revista Forbes, com as mais “influentes" personalidades chinesas (nascidas no continente), ordenando-as com base nos rendimentos anuais e na popularidade. A primeira posição é ocupada pelo jogador de basquetebol Yao Ming, seguindo-se unicamente figuras do mundo do cinema: Zhang Ziyi, Zhao Wei, Wang Fei, Gong Li e Zhang Yimou. Sendo certo que algumas figuras (fora do top 10) afirmaram que a lista é um “perfeito disparate”, em todo o caso, foi fácil de constatar a popularidade da actriz, mesmo a milhares de quilómetros do seu país natal. Minutos antes do início do encontro, Zhou foi rodeada de fãs chineses, com solicitações para os autógrafos e fotos da praxe, com uma persistência tal que a actriz teve de se retirar, quase em fuga, escudando-se na sala de imprensa, antes de passar para a sala destinada ao encontro. Ainda assim, já o evento tinha começado quando um grupo desses fãs entrou ruidosamente sala adentro, interrompendo momentaneamente os cineastas e fazendo com que todos os presentes olhassem na direcção da entrada. Nem tudo são rosas na vida de uma estrela...
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Li Shaohong, realizadora de «Baober in Love». |
Li Shaohong apresentou «Baober in Love», descrevendo a concepção estética que lhe subjaz, recorrendo a termos e expressões como “romantismo” e “realismo mágico”. Afirmou tratar-se de um filme bastante original, no âmbito do cinema moderno chinês, devido ao seu aspecto visual e à utilização sem precedentes de efeitos visuais assentes em CGI.
“Nos últimos 20 anos houve muitas e radicais mudanças na China. Quem lá viveu nestas duas últimas décadas perdeu o fôlego a tentar acompanhar essas mudanças”, disse a realizadora. “Se estivermos dois ou três meses sem passar num qualquer lugar de Pequim, é provável que o mesmo esteja irreconhecível quando lá voltamos. Foi este sentimento, de um constante começar de novo, que quis transmitir no filme.” Li prosseguiu, referindo-se à actriz Zhou Xun como um produto da geração que cresceu neste cenário. A sua personagem, Baobei (ou Baober na romanização do título internacional) procura o amor verdadeiro, no meio destas mudanças constantes. “É uma rapariga com ideias próprias e com força para fazer frente a essas circunstâncias, uma heroína que luta com paixão por aquilo em que acredita”.
“No passado, o meu estilo era muito realista,” — prosseguiu a cineasta da 5ª Geração, contemporânea de Zhang Yimou e Cheng Kaige — “mas desta vez tentei algo completamente diferente, talvez porque me parece que se o mundo muda tão rapidamente não seria possível uma representação convencional dessa realidade.” As opções estéticas visaram também ilustrar o lado emocional da história e da personagem.
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Zhou Xun, antes do encontro. À esquerda, o realizador Xie Dong, que também pode ser visto na primeira foto, acima. |
Na filmografia de Zhou Xun incluem-se dois filmes estreados em Portugal, «Os Amantes do Rio/Suzhou He» (2000), de Lou Ye, e «Beijing Bycicle/Shiqi Sui de Danche» (2001), de Wang Xiaoshuai. Zhou aceitou encarnar Baober sobretudo devido à relação com a realizadora, com a qual já havia trabalhado em vários projectos desde 1998. Segundo a actriz, outra razão para ter querido trabalhar com Li foi o facto dela ajudar muito os actores, profissional e pessoalmente. “O filme fala sobre a minha geração”, disse Zhou. “Nasci no ambiente tradicional dos anos 80 (*) e, de um momento para o outro, encontrámo-nos nos anos 90, quando tudo começou a mudar muito rapidamente em nosso redor e sentimos a necessidade de responder a toda uma série de desafios. Ocupados com o crescimento e com a mudança, esquecemo-nos de parar para pensar e de nos perguntarmos: Estou a viver em função de quê? O que é que eu quero da vida? Esta é a história de Baober. Ela procura entender o que deseja, no fundo do seu coração, quais os sonhos que quer perseguir.” Zhou concluiu dizendo que se entregou completamente ao projecto durante quatro meses: “Tentei preencher o sonho de Baober”.
(*) Zhou nasceu no final dos anos 70, pelo que admitimos que a tradução tenha simplificado o discurso.
Fotos: Pedro Oliveira
24/05/2004
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