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Donggapnaegi Gwahoehagi [My Tutor Friend]
동갑내기 과외하기
Realizado por Kim Kyeong-hyeong
Coreia do Sul, 2003 Cor – 115 min.
Com: Kim Ha-neul, Kwon Sang-wu, Kim Ji-wu, Gong Yu, Kim Sa-ok, Baek Il-seop, Lee Seong-jin
comédia romântica acção
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Su-wan (Kim Ha-neul, de «Ditto»), universitária, trabalha para a casa de frangos da mãe e dá explicações nos tempos livres a estudantes do liceu. Ji-hun (Kwon, de «Volcano High»), pertence a uma família rica e, apesar de ter a mesma idade que Su-wan, está ainda a acabar os estudos secundários. Como as mães dos dois são ex-colegas, Su-wan é contratada para dar explicações a Ji-hun. Ele não está interessado em melhorar as notas e trata a explicadora miseravelmente. A popularidade de Ji-hun na escola dá origem a conflitos que chegam a envolver elementos da máfia.
«My Tutor Friend» surgiu numa altura em que adaptações de histórias escritas para a Internet estavam na berra na Coreia do Sul. Depois de «My Sassy Girl» (2001), parecia inevitável que se produzissem mais alguns filmes com origem nesse formato. Mas argumento original, adaptação de um livro ou de contos publicados na Internet não são, naturalmente, garantia da qualidade de um filme ou do seu sucesso comercial.
Em relação a resultados nas bilheteiras, a aposta funcionou: «My Tutor Friend» foi o 3º filme coreano mais lucrativo nas bilheteiras locais, num ano em que só dois títulos americanos entraram no top 10: «O Regresso do Rei» (2º, abaixo de «Silmido») e «The Matrix Reloaded» (5º).
Em relação à qualidade, não se pode dizer o mesmo. O conceito é relativo, e perante uma comédia comercial que funciona perante o grande público e faz rir a maior parte das pessoas que o vêem (?),não será difícil reconhecer as suas inegáveis "qualidades". Mas não é nosso intuito tecer apreciações qualitativas em relação à eficácia do produto no seu mercado.
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Su-wan (Kim Ha-neul) tem de suportar a má educação de Ji-hun (Kwon Sang-wu) e os ciúmes da namorada dele. |
«My Tutor Friend» tem elementos que remeterão para «My Sassy Girl», o que não facilita a sua ingestão (pense num prato que não aprecia nada, acompanhado por algo que costuma associar à sua comida favorita). Como no filme de Kwak Jae-yong, a personagem feminina passa o filme a fazer caretas, há discussões sobre as idades e o respeito que daí deve decorrer e há uma cena em que alguém se "sente mal", mas, ao contrário de «My Sassy Girl», não há nada sob a superfície.
As posições de torturador-vítima invertem-se, pois aqui é o rapaz que faz a rapariga passar um mau bocado. A inversão faz sentido, pois este texto é escrito por “ela”, Choi Su-wan, enquanto o outro era escrito por “ele”. Também é ele que declara, desde logo, não ter nenhum interesse numa relação com uma "galinha do campo feia”. Alguém se surpreende que antes do filme acabar o rapaz pense de forma diversa?
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Ji-hun não evita nenhuma oportunidade de se meter em sarilhos. |
Faltam ideias mas também piadas que façam rir. A construção do filme é feita com base na acumulação de situações levadas ao exagero e de personagens extravagantes apenas porque sim. Tal não chega para ter graça, mas a atitude é essa: ser cute e "muita maluco" a torto e a direito, há-de acabar por ter piada. As personagens não nos seduzem, porque nunca crescem nem se desenvolvem; não passam de um acumular de trejeitos, esgares e de "atitudes".
«My Tutor Friend» arranca com uma overdose de "estilo", num segmento em que o "herói" luta num ginásio contra um grupo de estudantes que vêem o poder ameaçado. A cena parece filmada como um spot publicitário para desodorizante ou after-shave. Ele, em slow-motion, sem perder a compostura, é observado pelas miúdas que chegam e o olham languidamente.
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Quando as coisas não correm bem, virar algumas garrafas de soju é sempre uma opção. |
Há um contraste curioso entre o plástico cute teen, onde se insere a pose de herói de spot comercial ou o coro de “bonecas”, formado pela namorada e pelas amigas, e alguma da violência decorrente das frequentes cenas de acção. O investimento nas coreografias de acção é notório, mas, infelizmente, misturam-se tão bem com a "comédia", como azeite em água.
Não podemos deixar de recordar o hilariante filme-dentro-do-filme de «Someone Special» (2004) 1 e o comentário da personagem de Jeong Jae-yeong, referindo-se ao absurdo do drama que no final se transforma num action movie, sem razão aparente. «Someone Special» tem sentido de ironia, mas também tem personagens e alma, nada que se encontre em «My Tutor Friend».
A piorar, não podia deixar de ser mais um filme coreano de género que não se podia ficar pelos 90 minutos. Não, tinha de chegar quase às duas horas. Neste caso, ficamos satisfeitos com o facto de ninguém se ter lembrado de montar um director's cut ou uma versão longa.
1 Vd. análise ao FEFF de 2005.
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Edição especial limitada (variante molho picante). |
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A embalagem exclusiva inclui uma grande variedade de acessórios. Em pormenor: os três autocolantes e uma das dez imagens promocionais. Clique aqui para ampliar a caixa. |
O DVD Starmax/CJ Entertainment (R3 na caixa, R0 de facto) foi inicialmente parte de uma edição limitada repleta de acessórios curiosos. Desde logo, a caixa de cartão, por referência à ocupação da personagem de Kim Ha-neul, replicava uma embalagem de frango take-away — e podia-se escolher entre regular (caixa amarela) ou com molho picante (caixa vermelha). Lá dentro: caixa com dois DVDs, CD com a BSO, um livrete a cores, 2 mini-posters, 2 cartazes de oferta de emprego (?), 10 fotos promocionais, 3 autocolantes, 2 abre-latas circulares com íman para colar no frigorífico, um saco de plástico, adequado para transportar alguns DVDs, e um certificado de autenticidade, que diz que apenas 5000 cópias foram produzidas. Excelente embalagem, filme medíocre. Como é usual, o segundo disco está recheado de extras não legendados: entrevistas, material de bastidores, cenas apagadas, trailers, vídeos musicais, etc. A transferência é aceitável, mas nota-se particularmente bem um defeito presente em muitas edições sul-coreanas: um wobble, agitação na imagem em cada mudança de plano (como que uma súbita ligeira compressão e descompressão na imagem no momento das transições).
publicado online em 09/10/05
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cinedie asia © copyright Luis Canau. |
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