Banchikwang [The Foul King] [en]
반칙왕
반칙왕, 반칙 1
Realizado por Kim Ji-un [Kim Ji-woon, Kim Jee-woon]
Coreia do Sul, 2000 Cor – 112 min.
Com: Song Kang-ho, Jang Jin-yeong, Jang Hang-seon, Park Sang-myeon, Lee Won-jong, Shin Gu, Song Yeong-chang, Jeong Ung-in, Kim Seung-uk, Kim Su-ro
drama comédia
Capa DVD
Im Dae-ho (Song) é um bancário que vive com o pai. A exigência da gerência do banco por resultados torna o seu dia-a-dia num inferno. A sua falta de pontualidade não o ajuda em nada. Um dia, depois de sair do emprego, passa por um ginásio de "pro wrestling" e decide entrar. Fã da modalidade e com vontade de aprender a libertar-se do head-lock com que o chefe o gosta de submeter, convence o dono — uma “estrela” de outros tempos — a deixá-lo treinar e a entrar em competições.

«The Foul King» é um dos títulos sobre o qual o realizador Kim Ji-un construiu a reputação de um dos mais interessantes autores do cinema coreano moderno. Este retrato de um empregado bancário, que se torna lutador de wrestling nos tempos livres, foi igualmente um dos filmes mais bem sucedidos nas bilheteiras locais, em 2000.

Song Kang-ho participou num punhado de filmes a partir de meados da década de 90, como a anterior obra de Kim, «The Quiet Family» (1998), seguindo-se a «No. 3» (1997) e precedendo o mega-sucesso «Swiri» (1999). Nos dois primeiros filmes, Song foi um no meio de um vasto elenco e em «Swiri» o polícia “sidekick” de Han Seok-gyu, mas em «The Foul King» teve a oportunidade de ser protagonista, abrindo caminho para se tornar um dos mais importantes actores a trabalhar actualmente na Coreia do Sul. «Joint Security Area» (2000), onde o actor interpreta um soldado norte-coreano, estrearia alguns meses mais tarde e seria um sucesso comercial de outra dimensão.

Apesar de formalmente uma comédia, com momentos de humor a acertar no alvo, «The Foul King» pretende, antes de mais, apresentar um retrato sério de um trabalhador de escritório, menosprezado em casa e no local de trabalho, que encontra no wrestling uma válvula de escape e, quem sabe, uma armadura, na forma de uma nova identidade, que lhe poderá permitir vencer “lá fora”, num mundo muito competitivo onde, como lhe afiança o chefe, “só os mais fortes sobrevivem”.

A vida de Dae-so (Song Kang-ho) já corre mal quando não se cruza com marginais. Cameo de Shin Ha-gyun, à direita.

O paralelo com o universo dos super-heróis não será coincidente e o “desporto” que serve como pano de fundo inspira-se aí, em certa medida: criam-se personagens, uniformes, escrevem-se diálogos, etc.

A divisão de personalidades não serve a mesma função da ficção de super-heróis — proteger uma identidade, enquanto a outra luta contra ao crime —, mas Kim não deixa de jogar com os referidos conceitos, algo que é ilustrado na cena em que o “herói” decide voltar para confrontar um grupo de rufias adolescentes com o seu uniforme de combate — oportunidade para as participações especiais de Shin Ha-gyun e de Go Ho-kyeong, a Mi-na de «The Quiet Family». De igual modo, o chefe de Dae-ho surge como uma espécie de “arqui-inimigo”.

Min-yeon (Jang Jin-yeong), também sabe alguns golpes. Combate com Yubiho (Kim Su-ro, de «Volcano High»).

A função dos combates de wrestling na narrativa acaba por ser limitada. Até certo ponto como que estamos num filme sobre a modalidade, de onde saímos sem que cheguem alguns dos desenvolvimentos que somos levados a esperar. Mas tal acaba por fazer sentido, já que se trata de uma fuga da vida normal do protagonista.

Ao vestir a roupa ou assumir a identidade do “Rei dos Truques Sujos”, Dae-ho pode sentir um reforço da sua auto-confiança e força interior, mas tal, por si só, não é garantia que a sua vida sentimental ou laboral deixem de ser um caos. Na sua pele, Song Kang-ho traz-nos um trabalho que é digno de mérito também pela componente física: o próprio actor treinou e executou alguns movimentos aparatosos, que facilmente poderiam trazer consequências nefastas.

Ainda que não tão bem sucedido como os títulos precedente e subsequente de Kim Ji-un, «The Foul King» reafirma a proficiência do realizador no campo do cinema de género, conseguindo gerir habilidosamente as transições entre várias linguagens, da comédia ao filme de desporto, com momentos que remetem para o horror, pelo modo como se usa a câmara e a banda sonora (mas sem entrar no campo do spoof, note-se). O segmento apresentado como “headlock of horror” parece remeter para uma qualquer cena de «Ju-on», e tal faria sentido não tivesse o filme japonês a dois anos de estrear.

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(1) O título original tem duas formas alternativas de registo, que podem ser encontradas, por exemplo, nos posters. A última sílaba, “wang” ("rei"), surge em hangeul (왕) e no caracter chinês correspondente (王). O caracter chinês surge tanto como “extra” ou em substituição do coreano.

Editado na Coreia do Sul (Spectrum, R0) num DVD cuja transferência vídeo está longe da perfeição (a compressão tem alguns limites, apesar da imagem ter boa definição), que hoje em dia se encontra no mercado a preço relativamente baixo. Som 5.1 e 2.0. Incluído também num pack de três filmes destinado a promover o cinema sul-coreano no estrangeiro — “The Varied Colors of Korean Cinema” —, editado com o apoio do Ministério da Cultura e do Turismo e da Korean Film Commission, e que inclui também «My Heart» e «Nowhere to Hide».

Os DVDs serão iguais aos que se vendem em separado, com a adição de faixas de legendagem extra: além de coreano e inglês, incluem chinês, japonês, francês e espanhol. As línguas latinas deverão derivar do inglês, a julgar pelo facto de manterem a “tradução” dos nomes de celebridades coreanas: Go So-yeong, Jeon Do-yeon e Shim Eun-ha, surgem como Julia Roberts, Demi Moore e Sharon Stone. Os extras, onde se inclui comentário áudio, imagens dos bastidores e entrevistas, continuam a não ser legendados. A edição limitada original incluía uma reprodução da máscara usada por Song Kang-ho em forma de touca para natação.

publicado online em 21/11/05

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