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Dip Huet Seung Hung/The Killer
喋血雙雄 (dié xiĕ shuāng xióng)
Realizado por John Woo [Ng Yu-sam]
Hong Kong, 1989 Cor – 110 min.
Com: Chow Yun-fat, Danny Lee Sau-yin, Paul Chu Kong, Kenneth Tsang Kong, Sally Yeh (Yip Sin-man), Shing Fui-on,Tommy Wong Kwong-leung, Parkman Wong Pak-man, Yip Wing-cho
géneros: drama crime heroic bloodshed acção
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Jeffery (Chow) é um assassino profissional que, no decurso de um tiroteio, cega acidentalmente Jenny (Yeh), uma cantora no clube onde o seu contrato tem de ser executado. Apesar de querer deixar a "profissão", ele decide aceitar um último trabalho para poder ajudar Jenny, pagando-lhe a operação que poderá constituir a última hipótese antes de perder completamente a vista. Sem que ela saiba que ele foi o responsável pelo seu infortúnio, Jeffery vai ouvi-la cantar regularmente até conseguir conhecê-la. Do outro lado da lei, o inspector Lee (Danny Lee) segue-lhe os movimentos e começa a suspeitar de que não está à procura de um "assassino vulgar". Jeffery vê-se encurralado entre a polícia e o "Boss" que o contratou para o seu último serviço que prefere eliminá-lo a pagar-lhe o preço devido.
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É apenas um emprego. |
As diversas marcas registradas de John Woo estão aqui patentes, ou não fosse este um dos seus filmes mais emblemáticos, e o primeiro a ter distribuição nos EUA, abrindo-lhe a porta para mais tarde começar a trabalhar em Hollywood. É também o cartão de apresentação para muitos dos fans deste género cinematográfico, sendo uma das mais frequentes primeiras referências nas listas de filmes que chamaram a atenção para o cinema de acção de Hong Kong. A forte relação que se estabelece entre personagens em campos opostos da lei, é um dos elementos mais característicos da cinematografia de Woo, que tem negado que qualquer subtexto homoerótico.
O chui começa a admirar o assassino à distância, quando percebe que ele coloca a própria vida em risco para proteger inocentes, i.e., aqueles que não estão marcados para ser abatidos pelo contrato, e que, no fundo, se limita a eliminar gangsters a mando de outros gangsters. Lee coloca-se na posição de Jeffery e tenta entrar na sua mente, para seguir os seus movimentos. Quando o ataque em larga escala do ex-patrão de Jeffery se inicia, polícia e assassino são forçados a lutar lado a lado.
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Amigos à queima-roupa. |
O "inocente" é uma figura recorrente nos filmes de John Woo. Simbolizará aquilo que já nem o polícia ou o assassino são, devido às consequências das suas actividades, mas cuja pureza e memória querem preservar a qualquer custo. O personagem tentará pois protegê-lo com risco da sua própria vida. Aqui e em «A Better Tomorrow II» (1987) é uma menina que se coloca defronte de uma chuva de balas, em «Hard Boiled» (1992) os pacientes de um hospital e os bebés, e em «Face/Off» (1997) o filho de Sascha (Gina Gershon)
Os heróis de Woo recorrem constantemente à utilização simultânea de duas armas não por mera opção "estética", mas como uma consequência necessária, decorrente do número de balas que têm de ser disparadas e do número avultado de cadáveres que as esperam impacientemente. O mesmo vale para os "uniformes" (vd. texto sobre «A Better Tomorrow II»). Aqui encontram-se alguns dos elementos visuais mais reutilizados por outros filmes, nomeadamente de Quentin Tarantino ou de Robert Rodriguez, cujo «Desperado» (1994) contém alguns planos praticamente iguais a outros de «The Killer». A "apropriação" funciona perfeitamente, e isso é o mais importante.
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Chow em acção.
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«The Killer» contém a verdadeira poesia da violência em movimento. E é um filme imperdível, a ver e a rever. Se tiver dúvidas existênciais sobre questões como violência "excessiva", "glamorizada" ou "justificada pelo guião", provavelmente mais vale abster-se.
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Há diversas edições em DVD. Nos EUA, a Criterion e a Fox Lorber lançaram o filme no formato digital. A primeira edição está há muito tempo indisponível, vendendo-se a preços absurdos em leilões. A segunda ainda se encontrará, mas os direitos cairam, entretanto, nas mãos da Disney, que, como é seu apanágio, se preparará para lançar o filme pela primeira vez em DVD censurado e dobrado. (O lançamento foi atrasado, o que pode querer dizer que estão a pensar muito sobre essa questão ou talvez apenas a extensão dos cortes a aplicar). Na Europa há a edição HKVideo, em França, que contém duas versões do filme, incluindo a montagem taiwanesa mais longa e, recentemente, saiu a edição HKL (Reino Unido), que será provavelmente a melhor, e inclui essas cenas separadas. Os DVDs americanos têm vantagens a nível de extras, sobretudo o da Criterion. O FL inclui um comentário de John Woo, gravado especialmente para essa edição. Este texto poderá ser revisto depois de um visionamento da edição da Hong Kong Legends.
publicado online em 10/01/00 (revisto)
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