[Nota: O texto poderá não ser recomendável a quem não viu o filme original]
Na prisão desde o final do filme original, Ho (Lung) recusa-se a ajudar a polícia a encurralar um amigo, Lung (Shek), mas acaba por ceder quando é informado que o seu irmão, Kit (Cheung), está a trabalhar infiltrado nesse mesmo caso. Enquanto a sua mulher está prestes a dar à luz, Kit, agora inspector de polícia, torna-se amigo da filha de Lung, por forma a poder espiar os seus negócios alegadamente ilegais. Lung é traído e implicado num crime, sendo forçado a fugir para Nova Iorque, mas a distância não o livra da vingança dos criminosos. Está, no entanto, próximo do irmão gémeo (pois…) de Mark Gor, Ken (Chow), o qual tem os seus próprios problemas: gangsters tentam forçá-lo a pagar dinheiro para a "protecção" do seu restaurante. A certa altura torna-se confuso saber se aqueles que perseguem Ken e Lung são enviados pelo Boss em HK ou se são membros do gang Americano, mas isso acaba por se tornar secundário. Eles são todos maus e têm de ser abatidos.
A «A Better Tomorrow II» atribui-se a inspiração para os uniformes preto e branco dos "coloridos" personagens de «Reservoir Dogs» (1991), e um excerto do filme integra «True Romance» (1993), dirigido por Tony Scott e escrito por Quentin Tarantino. O estilo de Woo continuava a aperfeiçoar-se, e esta obra contém sequências magistralmente filmadas e coreografadas. Mas existem fraquezas mais notórias aqui do que em qualquer dos outros títulos do realizador. Como se sabe, em HK não é nada difícil que um realizador seja obrigado a remontar o filme, além das frequentes contribuições espontâneas por parte de distribuidores ou produtores. ABT II denota uma montagem confusa e uma certa indecisão quanto ao rumo a tomar. A primeira metade do filme não flue muito bem, e pode custar um pouco a passar. Algumas sequências são difíceis de compreender, parecendo que faltam partes. À medida que nos aproximamos da conclusão, o filme melhora e a acção prepara-se para explodir.
Os dez minutos finais deste filme são uma longa cena de acção, e constituem o perfeito exemplo da necessidade de fatos iguais neste género cinematográfico. Em «Reservoir Dogs» podem ser usados a título de referência ou por razões estéticas, mas aqui pura e simplesmente existem demasiadas pessoas para abater, e temos que conseguir distinguir os heróis dos vilões. A violência é forte e ininterrupta, mas não necessariamente gráfica. Uma imagem típica durante o climax mostra um grupo de 6-10 vilões, atrapalhando-se uns aos outros, a serem abatidos por dois ou três dos heróis vingadores, enquanto jorros de sangue ondulam no ar. Outro momento clássico é a cena que mostra Chow Yun-fat, deitado, a escorregar por umas escadas abaixo, enquanto descarrega o seu par de pistolas.
«A Better Tomorrow II» tem a sua componente de drama. Tanto com o personagem de Dean Shek, incriminado pelo mau da fita, obrigado a fugir e a deixar a filha desprotegida, como com Leslie Cheung, que se tem de aproximar de outra mulher, enquanto a esposa está na maternidade. Mas estes elementos são, em parte, secundarizados pela montagem pouco equilibrada. À partida talvez não se devesse esperar muita complexidade, da forma como a presença de Chow Yun-fat é justificada neste filme (a parte III, dirigida por Tsui Hark, opta por ser uma prequela). Por outro lado, Woo nunca apreciou fazer sequelas, e o motivo que o levou a fazer este filme foi a má situação económica que o amigo Dean Shek atravessava. Ainda com todos os problemas que trespassam o filme, ABT II permanece um entretenimento agradável, e uma paragem essencial para quem queira acompanhar a evolução do estilo de John Woo, um dos mais influentes realizadores de cinema de acção do mundo.
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