Fung Wan Hung Ba Tin Ha/The Stormriders
風雲雄霸天下 (fēng yún xióng bà tiān xià)
Realizado por Andrew Lau Wai-keung
Hong Kong, 1998 Cor – 132 min. Anamórfico.
Com: Aaron Kwok Fu-sing, Ekin Cheng, Sonny Chiba, Kristy Yeung Gung-yue, Shu Qi, Michael Tse Tin-wah, Lai Yiu-cheung, Roy Cheung Yiu-yeung, Anthony Wong Chau-sang, Alex Fong Chung-sun
géneros: drama romance wuxia artes-marciais
Lord Conquer (Chiba) segue as orientações do vidente Buda de Lama (Lai) que profetiza que ele defrontará o seu maior inimigo, o Santo da Espada (Wong), apenas depois de 10 anos decorridos. Entretanto, ele deve encontrar duas crianças chamadas Nuvem (Kwok) e Vento (Cheng) e fazer deles seus discípulos. Ele assim faz, mas a profecia do Buda de Lama não é completa. A segunda parte só pode ser revelada no final dos 10 anos. Anos depois, a rivalidade entre Nuvem e Vento, ambos apaixonados pela filha de Conquer, Caridade (Yeung), desponta quando Conquer escolhe um deles para casar com ela. Voltando a falar com o vidente, Conquer recusa a parte negativa das profecias e decide que só as deve usar nos termos em que melhor o sirvam.

O maior sucesso de bilheteiras em Hong Kong, em 1998, «The Stormriders» representa um restabelecimento do wuxia, um género onde a acção se desenrola normalmente na China antiga, com frequente recurso a elementos históricos precisos, ou em terras mágicas, e por personagens que possuem todo um sortido de poderes, em que voar ou projectar raios de energia não é uma capacidade fora do comum. Ao mesmo tempo, o filme mostra que neste território também se consegue produzir um blockbuster de acção repleto de efeitos especiais digitais, que, por muito dominem o écran, são justificados pela trama.

Sendo baseado numa manga (banda desenhada) muito popular entre o público adolescente de Hong Kong, «The Stormriders» tinha à partida uma audiência potencial muito vasta. Do meio original projectam-se uma infinidade de personagens, dos quais uma grande parte tem intervenção reduzida na acção, pelo que a narrativa poderá tornar-se um pouco confusa para quem não esteja muito atento. Personagens novos desfilam no écran a todo o momento sendo introduzidos por uma legenda. Infelizmente, a cópia visionada - legendada em Castelhano - não fornecia tradução para esses nomes, do mesmo modo que falhou um par de vezes em que havia texto Chinês no écran sem tradução. A infinidade de personagens e os poderes mágicos característicos de cada guerreiro podem fazer recordar certos jogos de computador, mas a natureza do filme poderá ser melhor descrita enquanto um cruzamento entre um anime (animação Japonesa) muito movimentado e o wuxia pian moderno de Hong Kong, com pontos altos em filmes como «Sin Nui Yau Wan/A Chinese Ghost Story» (1987), «Siu Ngo Gong Woo Ji Dung Fong Bat Baai/Swordsman II» (1992) ou «Baak Faat Moh Nui Juen/The Bride with the White Hair» (1993).

Apesar dos efeitos visuais servirem o argumento, existem momentos em que escolhas específicas parecem ser sobretudo experimentais e onde o resultado final não é completamente satisfatório. Onde há demasiada distorção da imagem e onde as criações no computador abafam a presença dos homens sente-se que se foi longe demais. Onde se usa a técnica digital para esconder fios, para tornar convincentes cenas "simples" de voo ou lutas aparatosas em pleno ar, tudo parece mais natural e fluido. Há ainda um dragão, todo ele criado em computador que cumpre apenas a sua pequena parte do filme, cujo aspecto, não sendo deslumbrante, é satisfatório e integrado eficazmente com a imagem real.

Uma das coisas que também não existe no filme de Lau Wai-Keung, e que contribuía para a força de qualquer um dos três filmes supracitados, é um personagem feminino forte. Das duas presenças femininas no elenco, uma serve de mero catalisador da acção (Yeung) e a outra tem uma presença pouco mais do que decorativa (Hsu). Hsu é uma modelo e estrela de filmes soft-core muito conhecida na Ásia (introduzir "hsu chi" em qualquer motor de busca pode servir de ilustração), tendo feito a transição para o cinema mais "sério" com relativo sucesso. Aqui é uma jovem da aldeia que se deslumbra com a ostentação do palácio, e participa num par de cenas com algum relevo para a acção. A última, vital para o resultado de um combate, chega a ser um pouco irritante. Mas este é o ponto de vista de quem preferiria pelo menos um papel de uma mulher de armas, em vez de duas bonitinhas e desajeitadas.

3

Vd. Mostra de Cinema de HK, Lisboa 1999

DVDs em Hong Kong, França, Inglaterra, etc. Alguns contém a versão original e a versão internacional, mais curta. A edição francesa aparenta ser a melhor, de um modo geral (legendagem apenas em francês).

publicado online em 19/12/99

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