Oi Zok Zin/Love Battlefield/Ai Zuozhan
愛·作戰 (ài zuò zhàn)
Realizado por Soi Cheang Pou-soi
Hong Kong/China, 2004 Cor – 96 min.
Com: Eason Chan Yik-shun, Niki Chow Lai-kei, Wang Zhiwen, Qin Hailu, Raymond Wong Ho-yin, Kenny Kwan Chi-bun, Carl Ng Ka-lung
drama crime romance
Capa DVD
Prólogo: Yui (Chan) e Ching (Chow) conhecem-se durante as férias e partilham uma bicicleta. Minutos depois, vemo-los em Hong Kong, como um casal que atravessa uma crise. Uma viagem à Europa pode ajudar a combater a fase negativa, mas, quando as coisas pareciam começar a correr pelo melhor, o carro de Yui é roubado e ele acaba por se ver à mercê de um bando de criminosos do continente chinês. Ching procura a ajuda da polícia mas não consegue convencer as autoridades que o namorado foi raptado.

«Love Battlefield» marca uma viragem de Cheang Pou-soi, que se afasta do género onde se tornou conhecido: o horror. Assinou «New Blood» (2002), exibido em Sitges, com o qual demonstrou as suas capacidades na manipulação da linguagem cinematográfica ao serviço das necessidades do horror atmosférico, seguindo-se um título mais comercial, a servir o dueto das estrelas do cantopop Twins — «The Death Curse» (2003).

Cheang continua a exibir uma predilecção por um modo de filmar profundamente estilizado que, de um modo geral, se afere adequado ao material, mas que, em algumas ocasiões, se arrisca resvalar para o campo da redundância formal. Aqui e ali parece fazer-se sentir que o realizador está demasiado preocupado com aspectos formais e coloca os actores de parte. Em todo o caso, ainda que não estejamos exactamente na presença de interpretações surpreendentes, cada actor lida com competência com uma personagem minimamente bem definida, sem cair em estereótipos gritantes.

Chan, Chow
Wang
Chan, Qin
?, Chow
Temos dois campos em oposição: os criminosos do continente e o casal de Hong Kong que se vê envolvido com eles. A polícia não entra na equação, um sinal que não estamos no âmbito do tradicional policial feito em Hong Kong (1). O equilíbrio ou oposição começa, desde logo, no título chinês que se apresenta com um ponto a dividir dois verbos: 愛/amar, 作戰/lutar. Não há um paralelismo necessário com os “bons” e os “maus”, uns representando o amor que tenta sobreviver contra a opressão dos criminosos; pelo contrário, as duas vertentes trespassam ambos os casais, uma vez que o filme dá iguais oportunidades às personagens, permitindo-nos entender os pontos de vista dos criminosos.

A montagem quebra a regular cronologia dos acontecimentos, com saltos elípticos ocasionais, deixando para um momento imediatamente seguinte a ilustração do que sucedeu ou, inversamente, rumando brevemente ao futuro para mostrar o que vai suceder. Estes flashforwards funcionam particularmente bem no momento em que fotos de uma cena do crime irrompem no meio de uma cena de tensão; sustemos a respiração apesar de sermos informados previamente do que irá suceder nos próximos segundos.

O final é algo protelado — podia ser mais curto — mas há aí uma clara intenção de suspender o momento, ilustrado por uma frase no ecrã, que desenvolve a bipolarização do título, mas que, infelizmente, não é traduzida no DVD visionado (2). Com algum risco de afogar as personagens num melodrama forçado, Cheang consegue prender o espectador ao desenlace, com momentos dramáticos, a serem servidos a posteriori, em coerência com a narrativa fraccionada.

4

(1) Veja também o comentário a «One Nite in Mongkok».

(2) O site Cinemasie oferece uma tradução. O texto em chinês é:
愛若是一生相隨
但愿能作戰到底

DVD de Hong Kong (Mei Ah, R0). Caixa normal em slip-case de cartão. Transferência anamórfica, som DTS e Dolby 5.1. Making-of, cenas apagadas, vídeo musical (tema título interpretado por Niki Chow, com versão karaoke) e trailer. Apenas o trailer tem legendas em inglês. O making-of tem legendas impressas em chinês tradicional.

publicado online em 12/12/04

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