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O cinema coreano tem qualidade, entretenimento e diversidade
Uma conversa com Jay Jeon, por Blaž Križnik.

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Encontrámo-nos com o coreano Jay Jeon (Jeon Yang-jun) para uma breve conversa durante o Ljubljana International Film festival (LIFFe), em Novembro do ano passado. Ele foi um dos três membros do júri internacional, que no dia posterior ao nosso encontro, atribuiu à realizadora dinamarquesa Annet K. Olsen o Kingfisher Award. Mas Jay Jeon é mais conhecido como um dos fundadores e um dos quatro principais directores de programação do Busan International Film Festival (PIFF). Alguns reconhecê-lo-ão como produtor de duas obras-primas do cinema coreano: «Peppermint Candy» e «Oasis», ambas dirigidas por Lee Chang-dong.


Jay Jeon
Existe alguma semelhança entre o LIFFe e o PIFF?
Não creio que seja possível comparar os dois festivais. A escala é muito diferente e Busan foca-se em filmes asiáticos, enquanto Ljubljana se foca mais em filmes dos Balcãs.

Como se envolveu com o LIFFe?
Conheço Jelka Stergel [directora de programação do festival] desde há vários anos. No decurso do Festival de Cannes do ano passado, ela pediu-me para fazer parte do júri do LIFFe, Também conheci outros produtores e cineastas eslovenos em festivais noutras partes do mundo. Enquanto programador apresentei vários filmes eslovenos no PIFF. Desde 1999, apresentei exactamente um dos vossos filmes todos os anos. Filmes de Jan Cvitkoviè ou Damjan Kozole foram bem recebidos pela audiência coreana.

Quantos bilhetes se venderam em Busan este ano?
170 mil bilhetes...

… Enquanto em Ljubljana foram vendidos cerca de 50 mil bilhetes até hoje. Imagine a população de Busan e de Ljubljana e compare as diferenças na venda de bilhetes de ambos os festivais.
[Risos] Tem razão. A cidade de Busan é muito maior que Ljubljana. O LIFFe é melhor não apenas na região, mas também no mundo, se considerarmos o seu orçamento verdadeiramente diminuto.

O orçamento diminuto reflecte-se obviamente numa selecção limitada de filmes. A maioria dos filmes asiáticos, apresentados no LIFFe este ano, já foram anteriormente projectados em outros festivais.
Talvez Ljubljana pudesse aproveitar para aparesentar alguns filmes asiáticos ainda desconhecidos na Europa. Mas seleccionar filmes muito recentes e de qualidade custaria muito mais dinheiro.

No entanto, «The Host» foi mostrado em Ljubljana menos de quatro meses depois da sua estreia em Seoul.
A indústria cinematográfica coreana está a tornar-se mais interessada no mercado europeu. Para eles, o mercado europeu era muito pequeno durante os últimos dez anos. Penso que acabará por crescer nos próximos anos. Mas, neste momento, a indústria do cinema coreano ainda depende principalmente do mercado japonês, que representa mais de 80% [das vendas internacionais].

Como conheceu o realizador Lee Chang-dong?
Em 1998 estive no Thessaloniki Film Festival com o realizador Lee Gwang-mo. O seu filme «Spring in my Hometown» tinha sido apresentado na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cinema de Cannes algumas semanas antes. Ele apresentou-me a Myung Gae-nam [também parte do elenco de «Spring in my Hometown»], que nessa época tinha fundado uma produtora chamada East Films e decidido produzir um número de filmes de arte e ensaio com Lee Chang-dong... Assim Gae-nam pediu-me para trabalhar com ele e assim foi durante alguns anos.

Qual foi a sua impressão quando leu o guião de «Peppermint Candy»?
Percebi que iria ser uma obra-prima. Excepto quanto à sequência de abertura, que me pareceu demasiado longa. Recorda-se da sequência do piquenique? Lee Chang-dong queria sublinhar diversos aspectos do argumento na sequência de abertura, que acabou por se tornar mais longa. Mais tarde tentei incluir o filme na competição de Cannes, mas o comité de selecção não gostou da sequência inicial. Em consequência, «Peppermint Candy» acabaria por ser apresentado na secção Director Spotlight.

Moon So-ri era relativamente desconhecida na altura.
Eu não a conhecia. Lee Chang-dong escolheu-a.

Enquanto produtor, como encarou aceitar uma actriz desconhecida num papel principal? Poderia ter sido arriscado para vender o filme...
[Risos] Myung Gae-nam queria apenas fazer um filme excelente e estávamos livres de pressões financeiras. Mas o papel dela foi na verdade muito pequeno.

A sua opinião sobre Moon So-ri mudou depois de «Peppermint Candy» estar acabado?
Para falar a verdade, estava inseguro sobre as suas capacidades de representação depois de «Peppermint Candy». Ela representava de forma demasiado tímida. Não estávamos ainda muito seguros sobre ela... Mas Lee Chang-dong conhecia-a. Mais tarde, em «Oasis», ela foi maravilhosa. Todos ficaram muito chocados com o desempenho dela. Seol Gyeong-gu e Moon So-ri, os dois protagonistas, tornaram-se os nossos herói e heroína nacionais.

Ao lado do PIFF existem muitos outros festivais de cinema na Coreia. Alguns são muito pequenos e especializados. Como vê o futuro desses eventos?
No Japão, por exemplo, muitos festivais extinguiram-se. Algo que é triste. De um modo geral, os festivais de cinema da Ásia não estão bem, devido a dificuldades financeiras, mas também políticas. A maioria dos festivais na Ásia sofre com a censura. Em contraste com outros países asiáticos, os festivais de cinema coreanos estão actualmente a prosperar. Mas é muito difícil falar do futuro. Penso que os festivais deviam ter ajuda financeira do governo central e dos municípios... Na verdade, muitos festivais mais pequenos estão a enfrentar dificuldades para conseguirem atrair filmes coreanos. Busan é uma excepção, claro. Mas todos os produtores querem ir a Busan.

O que pensa da redução da quota de exibição? O governo coreano parece acreditar que a indústria local tem força suficiente para sobreviver num mercado livre.
Não partilho dessa opinião. O governo reduziu a quota de exibição para metade no dia 1 de Julho [de 2006]. Os filmes coreanos vão sobreviver, mas o novo sistema de quotas irá afectá-los no espaço de um ou dois anos. A situação vai tornar-se mais difícil.

O realizador Bong Jun-ho propôs recentemente algo como uma “quota para filmes menores”, que deveria encorajar os distribuidores a mostrarem filmes de arte e ensaio com menos apelo comercial.
Bem, em princípio a ideia parece possível. Mas na realidade, se não houver audiência, como podemos obrigar os distribuidores a projectar esses filmes? E como dizer às pessoas que filmes devem ver? Essa é a minha questão. Quando eu era novo, os filmes franceses, italianos ou de Hollywood eram muito populares na Coreia. Pelo contrário, os filmes coreanos eram de muito pobre qualidade. Ninguém queria vê-los. Agora a situação está invertida. O Mercado de cinema coreano é muito grande e produz-se cerca de uma centena de filmes por ano. Em termos mundiais, ocupa a 5ª posição e os coreanos vêem filmes nacionais porque são fortes e entretêm. E são muito diversificados... de «The Host» a «Oasis».


Análise ao Ljubljana International Film Festival 2006

(Original) English version

11/02/07

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