Sarangni [Blossom Again]
사랑니
Realizado por Jeong Ji-u [Jung Ji-woo]
Coreia do Sul, 2005 Cor – 115 min.
Com: Kim Jeong-eun, Lee Tae-seong, Kim Yeong-jae, Jeong Yu-mi, Choi Ban-ya, Kim Jun-seong, Lee Ju-sil, Lee Haeng-seok
drama romance
Cho In-yeong (Kim Jeong-eun), uma professora de 30 anos de idade, sente-se atraída por Lee Seok (Lee Tae-seong), um aluno seu de 17. Lee tem o mesmo nome do primeiro amor de Cho, dos seus tempos de adolescente. Ela pensa também que os dois são parecidos, mas Jeong-u (Kim Young-jae), o amigo de longa data com o qual partilha uma casa, não concorda. Entretanto, In-yeong (Jeong), com 17 anos, apaixona-se por um colega chamado Lee Su (Lee Tae-seong). O filme acompanha as duas histórias.

«Blossom Again» é a longa-metragem do realizador Jeong Ji-u que se segue a «Happy End» (1999), depois de um hiato de seis anos. Entre os dois, Jeong dirigiu um segmento do projecto «If You Were Me 2» (2005), suportado pela Comissão dos Direitos Humanos da Coreia.

Numa primeira análise, «Blossom Again» insere-se numa linha de dramas cuja narrativa aloja elementos de fantasia, mas, ao contrário de «Il Mare» («Siworae», 2000) ou «Ditto» («Donggam», 2000), a realidade não é estabelecida claramente — estamos mais próximos da arte e ensaio do que do melodrama comercial apimentado pelo fantástico.

Outra obra que o filme de Jeong nos poderá fazer lembrar é «Green Chair» («Noksek Uija», 2004), de Park Cheol-su, assente na relação de uma mulher de 30 e poucos anos com um menor (de 19). Mas aqui não é feito um “caso” da diferença de idades entre os protagonistas — não da mesma forma em que tal é colocado no centro do filme de Park, que começa com a protagonista a ser detida por ter tido relações sexuais com o menor. Em «Blossom Again», a relação insere-se num contexto diverso, onde a mulher é elemento central, e tudo o resto existe por relação com ela; em «Green Chair» há um equilíbrio na exploração dos desejos e anseios das personagens — feminina e masculina —, ao mesmo tempo que se questiona a lei que estabelece a idade do consentimento nos 20 anos.

Blossom Again
O que liga Cho In-yeong a Lee Seok em «Blossom Again» não é uma relação sexual ou uma paixão, mas as memórias da adolescência da protagonista, que parece querer reviver o primeiro amor, apesar da diferença de idades poder sugerir falta de bom senso. Seria de esperar o recurso ao flashback, mas este é um caso particular em que é discutível se podemos falar na existência desse mecanismo. Não entrando em tentativas de descodificação da estrutura narrativa — que não será complexa, apenas intrigante a certa altura —, podemos dizer que sim e que não ao mesmo tempo. Para entrar noutros detalhes é necessário revelar o modo como a narrativa progride, pelo que se sugere ao leitor que não viu ainda o filme que ignore os dois parágrafos seguintes.

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Até cerca de metade de «Blossom Again», vemos In-yeong com 30 e com 17 anos. Ambas se envolvem com um rapaz chamado Lee Seok. (A adolescente começa por conhecer o irmão, de Lee Seok, Lee Su.) O “flashback” parece confirmar o que ela pensa em adulta: o rapaz é idêntico aquele pelo qual ela se sente atraída. No entanto, mais adiante, a In-yeong adolescente parte para Seul à procura dele, e encontra-o na escola onde a In-yeong adulta dá aulas. O Lee Seok de 17 anos é afinal a mesma personagem que interage com as duas In-yeong e o Lee Seok da adolescência da professora surgirá, mais tarde, também com 30 anos. A In-yeong adolescente tem também um amigo chamado Jeong-u (Lee Haeng-seok).

Num plano puramente “realista”, estamos perante uma grande coincidência ou um mistério que se requer entender? Procura-se dar espaço para que ambas as opções sejam possíveis. Por um lado, é difícil considerar normal que dois conjuntos distintos de personagens se relacionem da mesma forma, assumindo a mesma posição e nome num grupo paralelo; por outro, somos informados que o nome da protagonista é um nome feminino vulgar — "um cliché". Já próximo do final vemos In-yeong (17) depois de uma operação ao apêndice. Antes, o filme fez questão de mencionar que a professora tem uma cicatriz pela mesma razão. É a última “pista” que nos é dada, para frisar que o paralelismo entre personagens é perfeito, ainda que todas coexistam no tempo. Talvez seja de invocar a arquitectura de M.C. Esher como sucede em «Il Mare», sem nos preocuparmos em encontrar uma solução racional.

Blossom Again
«Blossom Again» é um caso em que a descodificação do “fantástico” não é relevante. A particularidade que caracteriza o guião constitui um processo ou exercício narrativo que se propõe analisar as ansiedades da adolescente e da mulher de 30 anos — ambas, de certa forma, em períodos de transição nas suas vidas (sarangni significa “dente do siso”) —, ao mesmo tempo que, tal como sucede em «Happy End», Jeong Ji-u (realizador e co-argumentista), desenvolve uma história sobre a afirmação da independência e autonomia sexual da protagonista feminina, um tema com maior ressonância no contexto da sociedade coreana, conservadora e de raiz confucionista.

JIFF 2006. Disponível em DVD na Coreia do Sul.

publicado online em 19/4/07

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