Seukaendeul — Joseon Namnyeo Sangyeol Ji Sa [Untold Scandal]
Scandal
스캔들 - 조선남녀상열지사
Realizado por E J-Yong [Lee Jae-yong]
Coreia do Sul, 2003 Cor – 124 min.
Com: Bae Yong-jun, Lee Mi-suk, Jeon Do-yeon, Jo Hyeon-jae, Lee So-yeon
drama de época erótico
Poster
Jo-weon (Bae) é um artista e bon vivant que se dedica a conquistar mulheres e a abandoná-las. A sua prima, Lady Cho (Lee Mi-suk), um espírito congénere, sugere-lhe que contribua para a sua pequena vingança: engravidar So-ok (Lee So-yeon), a nova concubina do marido. Jo-weon, no entanto, tem outra prioridade: seduzir Lady Suk (Jeon), uma viúva, convertida ao catolicismo e famosa pela sua castidade (o marido morreu antes de consumar o casamento), desafiando a prima a apostar no seu fracasso.

O romance “Les Liaisons Dangereuses”, de Choderlos de Laclos, tem algumas adaptações conhecidas do grande público: «Dangerous Liaisons» (1988), de Stephen Frears1 e «Valmont» (1989) de Milos Forman, além de «Cruel Intentions» (1999), uma conversão para os tempos modernos, como já havia sido a primeira adaptação, de 1960, por Roger Vadim, com Jeanne Moreau. E J-yong2 decidiu tentar uma outra aproximação ao mesmo material, transpondo a história para a dinastia coreana de Joseon3, no Séc. XVIII.

Numa entrevista a Darcy Paquet4, E afirma ter tido contacto primeiro com o filme de Frears, acabando por ler o livro mais tarde. O seu desejo de fazer um filme de época foi protelado devido às dificuldades em reunir os fundos, uma vez que o seu currículo não lhe garantia ainda o financiamento. Antes de «Scandal», o realizador assinou «An Affair» (1998) — já com a actriz Lee Mi-suk, num regresso ao grande ecrã depois de uma carreira de sucesso nos anos 80 —, e «Asako in Ruby Shoes» (2000).

Na mesma peça, o realizador refere-se ao intuito de quebrar uma “maldição” nas bilheteiras, que, supostamente, impediria que dramas de época, filmes sobre desporto ou animais pudessem triunfar comercialmente. «Scandal» acabaria por ser o quarto filme coreano mais bem sucedido nas bilheteiras locais.

Lee e Bae Lee Mi-suk
Os prazeres de Lady Cho (Lee Mi-suk) e Jo-weon (Bae Yon-jun) incluem destruir a inocência de terceiros.

Uma pergunta que o leitor poderá fazer perante a premissa deste filme é “será que eu quero ver outra adaptação das Ligações Perigosas?” Bom, se gosta da história e lhe apetece só mais uma variação, poderá certamente apreciá-lo. Se não conhece nenhuma das outras versões, poderá desfrutar melhor o enredo. Caso contrário, talvez seja difícil escapar a uma certa sensação de redundância.

No entanto, olhando para o copo meio cheio, em vez de meio vazio, concentremo-nos nos aspectos positivos. Os cenários da Coreia na Dinastia Joseon e os trajes de época são um valor acrescentado a ter em conta (ainda que o realizador admita que, por razões estéticas, respeitou o guarda-roupa tradicional, mas não as cores). O mesmo se diz do elenco, com destaque para as senhoras Lee Mi-suk e Jeon Do-yeon.

Jeon Do-yeon Lee So-yeon
Lady Suk (Jeon Do-yeon) resiste às investidas de Jo-weon. A ingénua So-ok (Lee So-yeon) acredita nas boas intenções dele.

O elenco por si só não chega para que as personagens sejam plenamente credíveis. Não fiquei convencido que a actuação de Jo-weon tivesse os resultados que teve perante Lady Suk5 e muito menos com os “twists” emocionais — se é que se pode usar tal termo neste contexto — que parecem ter sido reservados para todas as personagens nos últimos momentos do filme. Parece que o argumentista se lembrou, de súbito, que tinha de pensar em algo não só melodramático, mas também moral e moralizador.

Nos momentos finais, como se não bastasse o passeio na neve de Jeon Do-yeon, que me faz perguntar se havia necessidade, ainda temos de lidar com aquela “revelação” com Lady Cho, ilustrada por uma opção cénica próxima do kitsch (quando o drama não convence, o termos surge mais facilmente).

Untold Scandal
Ainda sobra com que encher o nosso copo até meio: a direcção sóbria, a recriação de época, as cores e os tons capturados por uma bela fotografia e a competência dos actores, dedicados de corpo e alma, à que será, provavelmente, a versão filmada mais elegante e, sobretudo, sensual de “Les Liaisons Dangereuses”.

3

1 O site oficial britânico oferece uma comparação gráfica entre as personagens e actores de «Ligações Perigosas» e «Untold Scandal».

2 A leitura de E é em inglês, ou seja, 'i'. Este apelido é comummente grafado Lee, mas a romanização moderna (de onde se excluíram modificações no registo dos apelidos) apontaria simplesmente para um “I” capital. “J”, no entanto, corresponde ao fonema “djé” (jae) e não à leitura anglófona “jay”.

3 Última dinastia coreana (1392-1910), interrompida com a ocupação japonesa. Também romanizado como Chosun. 조선 (joseon) baseia-se nos caracteres chineses 朝鮮 (chao xian), expressão ainda hoje usada como (uma) designação do(s) país(es): Nanchaoxian 南朝鮮 (Coreia do Sul), Beichaoxian 北朝鮮 (Coreia do Norte). A expressão figura actualmente na denominação oficial da Coreia do Norte (República Popular Democrática de Joseon [da Coreia]). Algumas sinopses referem que o filme se passa “no final da Dinastia Chosun”, o que não será incorrecto se por “final” se entender “nos últimos cento e tal anos”.

4 Ver a entrevista do realizador a Darcy Paquet

5 Note que a fonética de “suk” usada no texto não é em inglês. A romanização english-friendly é “sook”.

Edição especial limitada.
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A edição limitada do DVD coreano (CJ Entertainment, R3) era constituída por uma pequena embalagem de cartão púrpura, incluindo, no interior, uma caixa regular com dois DVDs, três reproduções de posters (13x18,5cm) e um livro com reproduções da arte erótica que figura no filme.

O segundo DVD inclui material de bastidores, entrevistas, cenas apagadas, trailer, spot de TV, “vídeo musical”, etc. Sem legendas.

A transferência anamórfica do filme é acompanhada por pistas dts e Dolby 5.1. A imagem é bem detalhada, com níveis de brilho e de negros que não parecem tão exagerados quanto os presentes noutros DVDs sul-coreanos.

publicado online em 3/10/05

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