DVD Mei Ah (Hong Kong).

Um dos melhores trabalhos realizados por Ching Siu-Tung e produzidos por Tsui Hark, a dupla responsável pela trilogia de «A Chinese Ghost Story», «Swordsman II», apesar da história que pode parecer confusa num primeiro visionamento, possui um elenco memorável – completamente novo em relação ao filme original, cujo visionamento não é essencial para a compreensão deste -, com destaque óbvio para os protagonistas Li e Lin, um excelente ritmo e cenas de acção de suspender a respiração, concretizadas através de efeitos tão imaginativos quanto "low-budget". A violência representada vai do cartoonesco, como quando pessoas e cavalos são cortados ao meio por golpes de energia (o resultado é o menos sangrento que se podia imaginar), ao grotesco, quando de um corpo jorra, em segundos, mais sangue do que alguma vez poderia conter.

Fong abraça a sua condição feminina.

A acção é estilizada e com forte recurso a "wirework", meios requeridos para ilustrar as capacidades de combate e os estilos diversos dos vários guerreiros, que incluem poderes sobrenaturais. Um personagem consegue absorver a energia dos seus oponentes, sugando literalmente os seus corpos, com as palmas da mão. Os guerreiros japoneses movimentam-se, voando, sobre pás giratórias, e emanam golpes energéticos letais, a partir das suas espadas. Neste filme, os vôos constituem os efeitos mais simples.

A intriga política desenvolve-se com relativa mestria, apesar de relegada para segundo plano, pela rapidez quase esquizofrénica com que se apresentam as cenas de acção. À medida que a narrativa se desenvolve, percebemos que os líderes das diversas facções mal se distinguem uns dos outros, ficando a pureza de sentimentos e a integridade moral guardada para os secundários e para os que são destruidos impiedosamente pelo desejo incontrolável de poder dos outros.

Exemplos da acção "wuxia" de «Swordsman II».

Uma das coisas que não funciona em pleno, na complexa estrutura de personagens, é a inflacção de interesses românticos do personagem de Jet Li; nada menos do que três, sendo Reis um nadinha irritante, num género de papel que não se afasta muito do de «A Chinese Ghost Story II»: "comic relief" por um lado, a desgraçadinha infeliz por ser a segunda preferência do protagonista (no referido filme concorria com Joey Wong Cho-Yin pela atenção de Leslie Cheung Kwok-Wing), por outro. A tensão libertada no confronto final poderia resultar melhor havendo uma focagem mais centrada, um desenvolvimento mais aprimorado, entre a relação âmbigua de Fong e Ling.

Lin Ching-Hsia está deslumbrante uma vez mais, num papel mais complexo do que se poderia supôr, em conflito entre "amor e glória". O relacionamento de Ásia, a Invencível com Ling é problemático, no mínimo. Ele não tem falta de pretendentes, como a "irmã" mais nova (Michele Reis/Lee, de ascendência mista portuguesa e chinesa, vista nas nossas salas em «Fallen Angels», de Wong Ka-Wai) e Ying, mas o destino vai ligá-lo precisamente ao seu inimigo, não podendo imaginar que este assumia as feições de uma mulher. Fong transmuta-se em busca do poder cego, não prevendo a transformação da sua sensibilidade e a possibilidade de se apaixonar por um homem, para desgosto da amante, CiCi, que há muito se perguntava porque é que não dormiam juntos.

Os ex-aliados de Ásia Invencível.

A confusão de géneros é frequente no cinema chinês e o tema não é recente, mas «Swordsman II» é um dos mais importantes filmes onde este tópico se explora. O sucesso levou à produção de «East is Red/Dung Fong Bat Baai 2: Fung Wan Joi Hei», no ano seguinte, com o único fundamento de dar maior destaque ao personagem de Ásia, a Invencível, que, como não podia deixar de ser, é novamente interpretado por Lin Ching-Hsia, agora acompanhada por Joey Wong Cho-Yin, célebre pelo papel principal em «A Chinese Ghost Story/Sin Nui Yau Wan».