H
H: Murmurs
에이치 (eiji)
Realizado por Lee Jong-hyuk
Coreia do Sul, 2002 Cor – 107 min. Anamórfico.
Com: Yeom Jung-a, Chi Jin-hi, Jo Seung-wu, Seong Ji-ru, Min Wung-ki, Park Yong-su, Kwon Hyuk-pung
horror crime serial killer thriller
Poster
Os detectives Kim (Yeom) e Kang (Chi) investigam crimes violentos que seguem o modus operandi de Shin Hyun (Jo), um assassino em série já preso, julgado e condenado à morte, depois de se ter entregue voluntariamente. Mulheres jovens são castigadas devido à prática de actos sexuais fora do casamento: um dos corpos grotescamente mutilados apresenta o ventre cortado, acompanhado por um feto morto (uma imagem cobiçada para os panfletos mais moderados de algumas campanhas anti-aborto nacionais). Os detectives investigam e interrogam, na prisão, o psicopata, tentando apurar o seu envolvimento num conjunto de crimes que as chefias policiais preferem rotular de simples imitações (“copycat”, em estrangeiro).

Referido como um “hard-gore triller” na veia de «Tell Me Something», «H» tenta fugir aos mecanismos narrativos característicos do género. Infelizmente acaba por se limitar a replicar elementos já usados por filmes que tentaram fugir aos mecanismos narrativos característicos do género. «Tell Me Something», de Chang Yun-hyon – que contava igualmente com a presença de Yeom Jung-a, num papel secundário – não apagava completamente os rastos de outros thrillers que o influenciaram, mas sustentava a tensão num argumento bem confeccionado e no desenvolvimento cuidado das personagens principais. Por aqui não há nada de novo, sorvendo-se largamente filmes como «Se7en» (1995) (a atitude de Shin e o seu sentido de “missão”), «Silêncio do Inocentes» (1991) (o psicopata veterano usado como “consultor”) ou até o japonês «Cure» (1997), de Kurosawa Kiyoshi. Ao contrário do que poderá parecer, «Copycat» (1995), de Jon Amiel, não é uma fonte de inspiração relevante.

É difícil de criar um argumento inteiramente original nos dias que correm, mas, para que um filme funcione, alguma coisa tem que se feita para que retenhamos algo mais que a sensação de déjà vu. Tal pode passar pela criação de uma atmosfera que envolva e prenda o espectador ao ecrã ou pela credibilização das personagens. Nada que funcione muito bem em «H». O par de detectives mantém o obrigatório equilíbrio entre um experiente e ponderado e outro mais verde e impulsivo, mas a personagem de Yeom, afectada pelo suicídio do namorado, limita-se a passear a sua apatia de um lado para o outro. O que nos é apresentado sobre Kang não chega para que sintamos algo pelos seus dramas ou entendamos as suas constantes explosões de fúria. O problema não é dos actores; bastará ver Yeom Jung-a em «A Tale of Two Sisters» (2003) para ver o que a actriz pode fazer com um bom texto e uma boa direcção. Não basta que Jo Seung-wu mantenha um ar indiferente e sempre-em-controle, enquanto se apoia nas citações de Nietzsche mais usadas em thrillers, para que nos convençam que estamos perante um homem perigoso, capaz de cometer os actos hediondos que lhe são atribuídos. Jo poderia ter gravado o seu papel entre takes para o drama romântico «The Classic» (2003), sem que precisasse de muito esforço para se colocar numa e noutra personagem.

Apesar de uma fotografia e design de produção denotando algum cuidado (pena a má focagem no Rivoli, no Porto) e de imagens graficamente violentas a despontarem na noite quase eterna, o modo como Lee Jong-hyuk filma actores e cenários é contido, frio, indiferente, não conseguindo compensar pela falta de originalidade do texto. De uma revelação até outra, chegamos a um final que, à falta de conseguir ser surpreendente, se tenta tornar “chocante”. E temos dificuldade em deixar de pensar que há ali uma citação trapalhona a um dos filmes citados no texto acima, sem a carga emocional que encurrala a personagem e justifica os seus actos. Se algo de original existe aqui é no modo como o título do filme é explicitado antes da entrada dos créditos finais, se bem que tal acaba por se reter como uma simples curiosidade.

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Fantasporto 2004. Disponível em DVD coreano (anamórfico, Dolby 5.1).

publicado online em 8/3/04

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