Fantasporto 2006 — 26º Festival Internacional de Cinema do Porto
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I — Introdução
II — Filmes
1. Europa
2. Ásia
3. Roman Porno
Adam's Apples,
Angel Guts,
Crash Test Dummies,
Dumplings,
The Echo,
Frostbiten,
Good Night, and Good Luck,
Incautos,
Johanna,
La Monja,
One Missed Call 2,
The Other Half,
Street of Joy,
Sympathy for Lady Vengeance,
Three Extremes
III — Curtas
IV — Palmarés
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I - Introdução
A XXVIª edição do Festival Internacional de Cinema do Porto decorreu entre 20 de Fevereiro e 5 de Março de 2006. O programa muito diversificado deste ano incluiu as seguintes retrospectivas: Cinema Húngaro, Expressionismo Alemão, Bollywood, Bill Plympton, curtas belgas, Shaw Bros., uma selecção da Casa da Animação com curtas portuguesas e filmes do Black and White Fest.
Este ano foi criada a secção Love Connection, constituída em boa parte por títulos da produtora nipónica Nikkatsu, sob a denominação “roman porno”, expressão que se associa a sexploitations que não deixam de se levar a sério em termos “dramáticos”. Incluíram-se também filmes da Alemanha, Suécia e Hungria. (O neozelandês «Rain» e «I.K.U.», do Japão, já tinham sido projectados anteriormente no festival.)
Apesar de se ter apresentado muita animação — sobretudo curtas-metragens —, a Secção Anima-te, inaugurada o ano passado, não foi expandida. Na verdade, parece ter-se esvanecido, pelo menos considerando o conceito de selecção de longas-metragens de animação de produção recente. Ainda assim, foi apresentado em antestreia «Innocence: Ghost in the Shell 2», de Oshii Mamoru, que estrearia dias depois em Vila Nova de Gaia.
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O Rivoli durante o Fantasporto de 2006 e a vitrine dos posters, na entrada do edifício (clique a segunda imagem para ampliar). |
II - Filmes
A análise corresponde apenas a quatro dias de festival, da primeira sexta-feira da competição, até à segunda seguinte. Tal não permite, naturalmente, tecer uma apreciação às selecções principais no seu todo — ainda que tenha acabado por ver os dois prémios principais.
O cinema fantástico, que tem sido o principal chamariz de muitas das pessoas que regressam ao “Fantas” ano após ano, marcou presença com vampiros, lobisomens, fantasmas e outros monstros, mas ficámos por registar algo que impressionasse. Um par de títulos pareceu deslocado da SOCF: «Johanna», da Hungria, e «The Other Half», do Reino Unido. O primeiro é ópera e o segundo uma comédia ligeira.
Não há dúvida que o fantástico existia (e enquanto o festival se chamar Fantasporto, vamos continuar a esperá-lo) e estava lá, mas muitos espectadores manifestavam alguma desilusão quando o não encontravam — algo que se prende com a arrumação dos horários de exibição.
As sessões da noite no Grande Auditório não pareciam ter sido programadas tendo em conta as secções onde se inseriam, i.e., não se apresentaram aí os títulos mais “fortes” (nos dois sentidos do termo) da SOCF ou da SOCR. «The Nun» e «Three... Extremes» são, quanto a nós, adequados para uma projecção à uma da manhã, mas o horário parece ter sido casual.
Projecção e Salas
Consciente que estes textos têm uma certa tendência para a repetição, não posso deixar de referir que persistem problemas de projecção nas duas salas do Rivoli — os mesmo que já têm sido mencionados desde há vários anos. Projectam-se filmes em full frame quando não se encontram mattes na película, distorcendo a composição original e, por vezes, revelando microfones e outros elementos que se deviam confinar aos making ofs.
Não assisti ao que foi, possivelmente, o pior caso («Three»), no Grande Auditório, mas a descrição que me fizeram lembra projecções de anos anteriores: microfones, com girafa e tudo, e actores vestidos quando supostamente deveriam estar nus. No Pequeno Auditório, o problema é diverso: usa-se uma máscara de projecção com um formato demasiado fechado (cerca de 2:1). Na prática cortam-se cabeças ou legendas (quando existem). E a audiência, por vezes, tem de assistir a um sobe e desce da imagem que pretende corrigir algo que só se resolveria com a utilização da janela adequada.
Uma vez mais, avisava-se que a maioria das sessões no Pequeno Auditório seriam em suporte vídeo. Como continua a não haver informação sobre quais filmes seriam em vídeo e quais em película, optou-se por evitar essa sala. Deduzimos que seriam projectados em vídeo todos os filmes não incluídos nas secções principais exibidos nessa sala.
O ano passado ficámos com uma primeira impressão pouco positiva do Passos Manuel. No entanto, passámos por lá para ver duas sessões roman porno e o espaço não pareceu mau de todo, para exibições complementares ou alternativas. Não se registou grande afluência de público, o que pode estar relacionado com o facto de ser a primeira vez que se usava a sala para projecções diárias, mas também é natural que a maioria das pessoas prefira ficar pelo Rivoli. A única nota menos positiva foi o intervalo que, por alguma razão, foi inserido numa das sessões, para surpresa dos presentes. Num festival com os tempos por vezes cronometrados a surpresa pode revelar-se desagradável. |
Europa
O cinema espanhol costuma surpreender-nos, devido à diversidade de propostas, ao dinamismo e valores de produção dos filmes de género. Por outro lado, a Fantastic Factory, da Filmax, tem-se dedicado ao horror, mas os resultados têm sido consistentemente fracos — deixou de se justificar usar o termo “decepção”.
O Rivoli de cima a baixo |
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5º Piso - Piano Bar |
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3º Piso - Bar |
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1º Piso - Hall |
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«La Monja» ou «The Nun» (distribuído em Portugal, pouco depois do festival terminar, sob o vaguíssimo título «O Segredo») foi mais um exemplo de como ainda se fazem filmes dentro desta onda sem pensar que vale a pena admitir que os espectadores tenham um mínimo de exigência. O filme é uma tolice total, assente numa banal história de vingança de um espírito digital, com um twist disparatado, a culminar uma sequência de eventos improváveis, em que umas personagens vão para ali e outras para o outro lado à laia de “estrutura” narrativa que visa organizar os quadros das várias mortes. Já se sabe que em caso de ameaça mortal, um grupo deve separar-se o mais depressa possível e depois voltar a correr aos gritos para encontrar os cadáveres dos amigos. Com base numa ideia de Jaume Balagueró enviada por SMS (74 caracteres).
O outro espanhol que vimos, «Incautos» (Secção Oficial Semana dos Realizadores), caiu num género diferente: o filme de golpe, ao estilo Mamet, com muitos pontos de contacto com inúmeras obras, incluindo (o que temos mais fresca na memória) «Confidence» (2003), de James Foley. Ainda que não seja uma nulidade como «La Monja», «Incautos» padece do Síndrome do Artificialismo.
A necessidade de criar enganos dentro de enganos e confusões de confianças e traições “complexas” leva o filme para lá do improvável. O exemplo de como se esquece de testar o argumento no mundo real é o agregar de pormenores usados para um golpe, como esperar que um incauto olhe para o balcão de um bar no momento certo em que alguém, de costas, ergue uma mão para o barman. É a “realidade” do texto e da montagem que nos quebra a suspensão da descrença. Não podia falhar um t-t-t-twist muito “surpreendente”.
O vencedor da Secção Oficial Cinema Fantástico viria a ser «Frostbiten», do sueco Anders Banke. É uma comédia de vampiros ligeira, com algumas ideias e muitos clichés; alguns tiros certeiros e apartes que não chegam a ter graça. Divertido, mas não material para um grande prémio. Os efeitos visuais digitais e de maquilhagem funcionam muito bem. Em termos narrativos, criam-se demasiadas situações paralelas e estabelecem-se relações entre personagens que acabam subaproveitadas. A “matança” numa festa, em particular, podia funcionar muito melhor. Os momentos de tensão no hospital também. E quase se sente que seria mais interessante que se desenvolvesse a introdução, que vem a redundar num tipificado segmento pré-créditos que “justifica” a acção, mas que nem fazia falta. Em suma, ideias e possibilidades para mais do que um filme, com resultados limitados depois de feita a misturada.
Banke esteve no Porto com o seu produtor. Este afirmou ser um prazer viajar mais para o sul, apesar da chuva, depois de terem rodado um filme sob temperaturas à volta dos 27 graus negativos. O realizador disse: “Não vou falar muito, apenas chamar a atenção para o facto de que não se trata exactamente de um filme sério. É uma comédia de horror, por isso fãs ferrenhos de gore podem sair já se quiserem. Mas espero que o apreciem de qualquer forma.”
Catálogo
O catálogo do Fantasporto nunca foi exemplo de grande arrumação. Tenho uma dúzia numa prateleira que preciso de tirar para poder identificar, pois a lombada é completamente branca (estão por ordem, o que ajuda). Desde há uns anos, passaram a ter a identificação do festival na lombada. Só a identificação do festival. Ou seja, quatro ou cinco catálogos são apenas "Fantasporto". Neste último já se introduziu o ano ("Fantasporto 2006"), de modo que é de prever que os segundos 25 anos de catálogos fiquem mais bem organizados nas prateleiras.
Continua a faltar paginação; numeração nas páginas e índices alfabéticos que permitam chegar à ficha de cada filme rapidamente. Também se dispensava a repetição dos mesmos textos só porque um filme está em várias secções. |
Ainda dentro da SOCF, mas, como referimos, fora dela tematicamente, foi possível ver dois outros títulos: «Johanna» e «The Other Half». Este último foi um início de sábado pouco apetecível, ainda que tivéssemos uma ideia razoável daquilo que nos esperava. A decepção prende-se com a falta de títulos mais sumarentos — não necessariamente fantásticos — num sábado de festival no Grande Auditório, mas o filme em si também deixa muito a desejar. Não demora muito até percebermos que as “mentiras inocentes” da personagem principal (que vai para Portugal de lua de mel com a mulher, pretendendo assistir ao Euro 2004 sem que ela dê por isso) vão ser tratadas de forma muito branda quando for preciso pôr fim ao filme. Será mais apreciado pelos fãs die hard de futebol, que concordam que há situações em que o desporto pode ser mais importante do a sinceridade numa relação matrimonial. Mas é uma comédia ligeira e nada de errado quanto a isso.
«Johanna» era descrito numa sinopse como “operático”. O catálogo, no entanto, era mais específico e revelava a natureza de filme de ópera. Tendo em conta a reacção do público — uma boa parte (metade?) da sala esvaziou-se, e muitos dos que ficaram, fizeram-no porque acharam o conceito “hilariante” (eles cantam, percebem?) É uma obra interessante, apreciada depois de ultrapassarmos o artificialismo assumido pela linguagem narrativa. A apreciação por parte da audiência não pode deixar de nos levar a questionar se um filme com estas particularidades não deveria estar incluído numa selecção mais específica.
De outras proveniências europeias, «Crash Test Dummies» (Áustria) e «Adams Æbler» (Dinamarca), não nos desiludiram.
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Luis de la Madrid, acompanhado pela produtora de «La Monja» (não apresentada): "Já é muito tarde. Creio que quando chegar ao fim do filme se estiver alguém acordado, para mim será um êxito e ficarei muito contente." |
«Crash Test Dummies» usa a imagem dos bonecos usados em testes de colisão automóvel para desenvolver comentário social. A história segue um casal de romenos que vai à Áustria para regressar ao volante de um carro roubado. As coisas não correm bem (com o transporte e com a relação) e eles vão ter de se desenvencilhar, sem dinheiro e sem dominar a língua. Os seus movimentos cruzam-se com um segurança de supermercado e a companheira de quarto, viciada em drogas e um verdadeiro “crash test dummy” humano. Ainda que o final possa parecer um pouco preguiçoso e aligeire um pouco a gravidade de todos os factos — mas o filme é, em parte, também comédia —, no global é uma obra equilibrada. A projecção do Pequeno Auditório, num formato próprio da sala, demasiado fechado verticalmente, cortava cabeças com regularidade.
«Adam's Apples», submetido pela Dinamarca ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é dirigido por Anders Thomas Jensen, dois anos depois de «The Green Butchers». Coincidências: ambos ganharam Melhor Filme da Semana dos Realizadores e são distribuídos pela New Age Entertainment.
Este foi, ao lado de «Sympathy for Lady Vengeance», o melhor filme que pude ver nesta edição do Fantasporto (no meio de apenas uma quinzena de obras, note-se), apesar do final ser um pouco decepcionante, ou melhor, de ter cinco minutos a mais. Dispensava-se aquele epílogo. Sinopse: um padre com mais do que alguns problemas emocionais recebe condenados em fim de pena, procurando ajudá-los a reintegrarem à sociedade. A dinâmica do filme assenta num choque de convicções entre Adam, um neo-nazi, e o padre Ivan, que não acredita que existam pessoas más no mundo e está sempre preparado para dar a outra face.
Thomas Jansen não cai na facilidade de fazer um filme sobre um nazi que tem de perceber que é errado ser um nazi, preferindo destacar questões relacionadas com a solidez da fé. Não só religiosa, mas é o sadismo do Livro de Job que dá o mote: Deus submete Job a toda a espécie de provações para provar a Satanás que ele continuará a ser crente. O nazi parece querer provar a Ivan que a sua fé não resistirá a todas as provas. Há muita violência gráfica, um humor negríssimo e uma excelente galeria de personagens.
Ásia
«Sigaw» [«The Echo»] é horror filipino com alguma habilidade para criar momentos de tensão, mas que cedo falha em suster a atmosfera. O texto parece apto para uma curta-metragem e a meio do filme já não conseguimos evitar alguns bocejos. O problema é que há um mistério que se adivinha, se retém, se ultrapassa, mas ainda falta metade do filme. A montagem é repetitiva e parece que se está apenas a fazer tempo. Mal projectado, em full frame (a certa altura as legendas foram até ao meio do ecrã). O público achou muita graça ao tagalog. (Descobrimos uma nova língua para nosso entretenimento, yupee.) Esperemos que o Fantasporto traga mais alguns títulos filipinos para o público se ir habituando.
Também demasiado longo e sem saber bem para onde se dirigia, foi «One Missed Call 2». A maioria das sequelas, já se sabe, são inúteis e limitam-se a espremer o êxito do filme original. Este não só não é excepção como poderia ser usado como exemplo emblemático do procedimento. O filme de Tsukamoto Renpei, que já havíamos dispensado quando passou no FEFF de 2005, pega na base do original de Miike, e tenta levá-lo para outras origens, prolongando a génese da maldição até Taiwan.
Bem melhores, os dois títulos distribuídos pela Ecofilmes — o primeiro deles, entretanto, já estreado —, «3... Extremos» e «Preciosa Iguaria».
«Three... Extremes», já comentado nestas páginas, proporcionou a oportunidade de desfrutar do talento de três realizadores, dirigindo segmentos de tom e sensibilidade muito diversos. O filme de Fruit Chan, em particular, é invulgarmente cru e pouco recomendado para almas sensíveis que se fiam na protecção do politicamente correcto.
«Dumplings» tem uma montagem em versão longa-metragem, onde a história segue desenvolvimentos diversos. Ambas as versões funcionam muito bem, sendo de registar que aquilo que se mantém com algum suspense no início da versão mais curta é logo despachado nos créditos da montagem de 90 minutos de «Preciosa Iguaria».
Outro título que também já por aqui abordámos — mas não quisemos perder a oportunidade de ver em grande ecrã — é «Chinjeolhan Geumjassi» [«Sympathy for Lady Vengeance»], de Park Chan-uk, um dos filmes mais fortes a passar por esta edição, mas concorrendo apenas na secção Orient Express.
Roman Porno
O Fantasporto e os Media
No final do Fantasporto, o director Mário Dorminsky criticou a indiferença dos media nacionais perante um evento desta dimensão e importância. Uma cobertura considerada muito limitada e conferências de imprensa pouco ou nada frequentadas motivaram as críticas.
Veja-se a ironia: o “Público”, jornal oficial do festival este ano, precisou de citar a Agência Lusa para compor a notícia que refere os comentários de Dorminsky sobre o desinteresse dos media. A execução da peça ilustra as palavras do director do festival.
Ainda que, por vezes, soem um pouco excessivas as constantes e empolgadas referências à grande repercussão do festival no estrangeiro (*), não podemos deixar de concordar que a imprensa nacional só parece considerar realmente relevantes os três grandes festivais de cinema europeus (Cannes, Veneza e Berlim).
O Fantasporto não se pode comparar a esses eventos, mas é o maior festival de cinema nacional e, só por isso, merece uma cobertura digna desse nome nos meios de comunicação.
(*) Anotámos que o Fantasporto foi considerado pela Variety “um dos 20 festivais de cinema mais importantes a nível mundial”, “um dos sessenta mais importantes festivais do mundo” e “um dos 25 mais...” Talvez as referências correspondam a anos diferentes, mas desconhecemos se se referem a uma classificação que a revista elabora regularmente ou a referências isoladas feitas por jornalistas. |
A terminar, um par de títulos roman porno inseridos na nova secção Love Connection, sob o mote “Estranhos Prazeres”: «Akasen tamanoi: Nukeraremasu» [«Street of Joy»] e «Tenshi no Harawata: Akai Kyoshitsu» [«Angel Guts: The Darkest Memories»], produções do estúdio Nikkatsu de, respectivamente, 1974 e 1979.
«Angel Guts» faz parte de uma série protagonizada por uma personagem chamada Nami. A actriz não se mantém de filme para filme e a personagem também não pretende ser a mesma. Este é o segundo de uma série de cinco filmes (produzidos pela Nikkatsu, existindo outras entradas não “oficiais”), disponíveis numa caixa de DVDs nos EUA pela Artsmagic.
Os filmes baseiam-se nas mangas de Ishii Takashi, que assina alguns argumentos e a direcção do último. Aquele que foi exibido no Fantasporto é mais conhecido pelo título inglês «Angel Guts: Red Classroom» (que creio ser também o título no ecrã), sendo referido como um dos melhores da série.
Em «Red Classroom» seguimos o trabalho de um pornógrafo que, a dada altura, se vê obcecado pela modelo de um filme para adultos e tudo faz para a levar a trabalhar para ele. A rapariga, Nami, revela-se algo instável, devido a um trauma sofrido anos antes. Com nudez e sexo q.b., este filme dirigido por Sone Chusei, nunca deixa de se levar a sério no plano dramático.
«Street of Joy», de Kumashiro Tatsumi, é de impacto mais reduzido, tanto ao nível dramático, quando no que toca ao que, no fundo, é o chamariz principal destes títulos: a componente erótica, o sexploitation. Registe-se a curiosidade de a maioria das cenas de sexo terem mattes laterais, como se o filme passasse de scope a full frame. A intenção é provavelmente tapar melhor as “zonas proibidas”, mas ficamos por saber se foi uma opção artística ou destinada a ter menos problemas com os censores.
O pendor quase documental da história, sobre o percurso de várias prostitutas na Tóquio dos anos 50, tem força para suster o nosso interesse. Pelo prisma do sexploitation puro, existem outros títulos da mesma altura que chamarão mais a atenção.
Para além dos títulos Europeus e Asiáticos visionados, vimos em antestreia «Good Night, and Good Luck», de George Clooney, que alguns dias antes do festival começar era “filme surpresa”, mas perdeu o estatuto rapidamente e já todos sabiam o que poderia ser visto na sessão da 1h15 de domingo. Estreou comercialmente pouco depois da passagem pelo Fantasporto.
III - Curtas
Antes dos zombies suecos de «Frostbitten» foi projectada a curta espanhola «La Leyenda del Espantapájaros», de Marco Besas, vencedora do Prémio DAMA na Semana de Cinema Fantástico e de Terror de San Sebastian, e que venceria, no Porto, o Méliès d'Argent para melhor curta. A história triste de um espantalho que quer ser amigo dos pássaros pareceu demasiado familiar, mas a arte e técnica, onde se mistura 2D e 3D, justificam o visionamento. Besas esteve presente e explicou a génese do filme. “A ideia tive-a há cinco anos no aniversário da minha namorada e decidi fazer um conto. Passados cinco anos, o conto transformou-se numa curta de animação e casei com a minha namorada.”, disse. Acrescentou, motivando mais alguns aplausos: “Na noite passada descobri também que ela estava grávida”.
«Entrega a Domicilio» ou «Home Delivery», de Elio Quiroga, originário das Canárias, é uma curta espanhola de animação que justificava alguma expectativa, por se tratar de uma adaptação de um texto de Stephen King e por vir com o rótulo “Guillermo del Toro apresenta”. Não se pode dizer que o filme não tenha os seus méritos ao nível de execução técnica, mas o grafismo é um tanto ou quanto demasiado visto, com bonecos 2D por vezes a lembrar uma versão de linhas mais simples dos Gorillaz, sobre cenários e outros elementos 3D. A história é entertaining q.b. Venceu o Prémio para a Melhor Curta-Metragem da SOCF.
Foi ainda possível ver no Grande Auditório uma das mais recentes curtas-metragens do homenageado Bill Plympton, «The Flower and the Fan». O estilo gráfico é diferente do que associamos ao autor, algo que se justifica por ter sido escrita e produzida por outra pessoa, Dan O'Shannon. Uma história simples, sobre o amor impossível entre uma ventoinha e uma flor. Agradável de se ver também pelo uso “refrescante” (tendo em conta o actual panorama) de técnicas de animação tradicionais e um aspecto gráfico básico, a preto e branco. Narrado por Paul Giamatti.
IV - Palmarés
Filmes com ditribuidor
(Com base no catálogo do festival ou informação directa)
Cinema Novo: «A Trunfa/Hair High» (EUA), «Dias Memoráveis/Pleasant Days» e «Joana, a Salvadora/Johanna» (Hungria), «The Last Horror Movie», «Euro 2004 – Amor e Futebol/The Other Half» (Reino Unido), «Mundos Paralelos/Wonderful Days», «História de Duas Irmãs/A Tale of Two Sisters», «A Espada do Poder/Sword in the Moon» e «O Arco/The Bow» (Coreia do Sul).
Lusomundo: «Fragile», «Cidade Assombrada 2: A Inocência/Innocence: Ghost in the Shell 2», «O Segredo/La Monja», «Animal», «Death Tunnel».
Ecofilmes: «3… Extremos/Three… Extremes», «Preciosa Iguaria/Dumplings», «Shooting Dogs».
LNK: «Spirit Trap», «Dead Meat», «Three», «Samaritan Girl»
Columbia Warner: «Hostel»
New Age Entertainment: «Adam's Apples»
Indie Filmes: «Sigma»
NLC: «Domino», «Edison». |
Secção Oficial Cinema Fantástico
Grande Prémio: «Frostbiten» (Suécia), Anders Banke
Prémio Especial do Júri: «Johanna» (Hungria), Kornél Mundruczó
Melhor Realizador: Robin Aubert, «Saints Martyrs des Damnés» (Canadá)
Melhor Actor: Jaume Garcia Arija, «Zulo» (Espanha)
Melhor Actriz: Orsi Tóth, «Johanna»
Melhor Argumento: Roselyne Bosch, «Animal» (Portugal/França/Reino Unido)
Melhor Fotografia: Manuel Mack, «A Quiet Love» (Alemanha)
Melhor Curta-metragem: «Home Delivery» (Espanha), Elio Quiroga
Menção Honrosa Curta-metragem: «Shadow Man» (EUA), David Benullo
Secção Oficial Semana dos Realizadores
Melhor Filme: «Adam's Apples» (Dinamarca), Anders Thomas Jensen
Prémio Especial do Júri: «Be With Me» (Singapura), Eric Khoo
Melhor Realizador: «Offscreen» (Holanda), Pieter Kuijpers
Melhor Actor: Ulrich Thomensen, «Adam's Apples»
Melhor Actriz: Victoria Abril, «Incautos» (Esp/Spa)
Melhor Argumento: Anders Thomas Jensen, «Adam's Apples»
Secção Oficial Orient Express
Grande Prémio: «Sympathy for Lady Vengeance» (Coreia do Sul), Park Chan-uk
Prémio Especial do Júri: «The Bow» (Coreia do Sul), Kim Ki-duk
Mélies de Prata
Longa-metragem: «Animal», Roselyne Bosch
Curta-metragem: «La Leyenda del Espantapájaros», Marco Besas
Cinematografia homenageada: Cinema Húngaro.
Prémio do Júri da Crítica: «A Quiet Love», Till Franzen
Júri do Público/Prémio Jornal Público: «The Other Half» (Reino Unido), Marlowe Fawcett e Richard Nockels
Prémio Norteshopping A Tua Curta no Fantasporto: «Estranhos Casos Ocorrem», Luis Pato, Fernando Braga, João Marques e Daniel Marques
Prémios Carreira: Manoel de Oliveira, Christiane Torloni e Bill Plympton
28/03/06
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