Um grupo de elite, dedicado a roubar segredos industriais de grandes corporações internacionais, vê-se forçado a trabalhar para os serviços secretos de Hong Kong, numa missão forçosamente não-oficial: roubar placas perfeitas para imprimir libras falsas. Num cenário muito high-tech, os intervenientes são múltiplos: para além do governo de Hong Kong, está no tabuleiro de jogo o MI5 Britânico, elementos dissidentes em ambas as entidades (incluindo os que fingem fingir que são outra coisa qualquer) e vários espiões que trabalham por conta própria em cenário doméstico, mas com escapadas na Europa.
«Dowtown Torpedoes» é uma variante do género «Missão: Impossível» e «007», com a diferença mais notória de usar mais do que um super-espíão (quem viu M:I recordar-se-á que não há grande diferença para o método Bond, de um homem só, em particular pelo tempo requerido para a estrela, Cruise, estar no écran). Aqui começamos com quatro elementos, onde o líder é inicialmente desconhecido pelos outros. Kaneshiro e Yeung fornecem o conteúdo romântico, Chan é mais o duro e impiedoso dos operacionais, Fong é algo decadente, devido ao abuso do álcool. Um quinto elemento é adicionado quanto se requer o acesso a satélites da NASA - entre outras trivialidades - a partir de um camião móvel, base do personagem de Lee Yi-Hung, que é, de entre os cinco, quem menos tempo de écran tem e que forma com Fong um par de elementos meramente funcionais para o avanço da história, secundarizados perante o trio principal.
Um filme de acção baseado em gadgets tecnológicos, reais ou imaginários (que interessa?), cria sempre um certo fascínio perante uma faixa da audiência. É o síndroma "onde é que ele vai buscar tantos brinquedos bonitos?", do «Batman» de Tim Burton. A tecnologia é, conscientemente, ou talvez não, apresentada como solução para tudo e mais alguma coisa, sendo subserviente do intuito de entreter a audiência, i.e., tudo o que surge é como solução para mais um momento de acção mais ou menos emocionante. Para transportar um objecto de um edifício, por exemplo, usam-se cabos que o recolhem para outro edifício, de onde alguém o transporta de asa delta (!), para outra pessoa que, de moto, se atira no mar onde a entrega será feita. Estão a ver o género? Noutro momento de brilhante fluxo de consciência quase pythonesco, sem que para isso exista muita lógica, o grupo analisa um pedaço de pele na residência de um suspeito, cruza-o com o correio do dito senhor, que os leva a um cirurgião plástico, onde defrontam um assassino, que tem um documento com um texto escrito com tinta invisível (sustenham o riso), com um endereço na world wide web (o qual é, em princípio, impossível) onde se encontra - puf puf! - um jogo de palavras cruzadas, cuja resolução os levará a mais outro cenário…
Na perspectiva do puro divertimento, não se levando a sério toda a parafernália técnica - e o fascínio pelos computadores e os "mais recentes" acessórios tecnológicos, dificilmente será assim tomado pelo realizador e pelos actores - «Downtown Torpedoes» cumpre a sua função. Fracassa, no entanto, nos personagens que tenta credibilizar, sem que para isso exista tempo suficiente. No caso em questão, se se dedicasse ainda menos tempo ao factor humano talvez se ficasse a ganhar. A acção sugestiva, em particular quando reforçada pela improbabilidade de algumas soluções e a presença de Charlie Yeung Choi-Nei, são a compensação da exagerada tecnofagia e da subnutrição dramática.
Por outro lado, este filme tem todos os ingredientes para uma distribuição "comercial" na Europa e nos EUA (onde o lançamento foi considerado) e sempre é mais divertido e lida melhor com a auto-consciência do ridículo que a «Missão: Impossível» de De Palma.
Vd. Mostra de Cinema de HK, Lisboa 1999
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