Num hospital coreano, Soo (Cha) um jovem neurocirurgião levanta suspeitas quando pelas suas mãos passam uma série de casos aparentemente perdidos, que culminam em recuperações sem explicação. Kim (Kim Hae-Soo), anestesista, tenta sem sucesso aproximar-se de Soo, acabando, no entanto, por descobrir o segredo dele: o médico é simultaneamente um "shaman".
Tony Rayns referiu-se-lhe como "uma resposta coreana aos "X-Files"", mas essa referência a «Doctor K» pode sugerir um filme completamente diferente. Kwak, nesta sua segunda longa-metragem, não demonstra preocupações com o mistério, apresentando desde logo o personagem dividido entre a ciência e o espiritismo, nem sequer explora a componente de espectáculo que facilmente se poderia extrair destes elementos. As sessões rituais na seita e as próprias curas miraculosas são filmadas do modo mais banal possível, sem malabarismos de câmara ou efeitos especiais espalhafatosos. Em vez disto, o realizador dá espaço ao desenvolvimento da amargura dos personagens. Gradualmente, apresenta-se-nos a tragédia que marcou Soo, afastando-o de tudo e todos, em particular de Kim. Esta tem um papel de mera observadora, amando-o a uma distância que tenta infrutiferamente encurtar.
Para expandir a teia de relacionamentos e para forçar o médico a revelar-se e a tomar opções decisivas, no final, há um terceiro elemento: Seh (Kim Ha-Neul), uma jovem e rica paciente, que padece de uma doença provavelmente fatal e que ocupará o quarto VIP do hospital.
O teor clínico do filme é tratado com aparente rigor, consequência da passagem do realizador pela faculdade de medicina, mas é a espiritualidade que se virá a impor, mas nunca na vertente de "thriller" ou de espectáculo visual; quem esperar uma variante dos "X-Files" certamente que sairá decepcionado da sala. Destaque também para o trabalho de fotografia de Park Hee-Ju.
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