Death Note, Death Note 2: The Last Name
デスノート (desu noto)
Realizado por Kaneko Shusuke
Japão, 2006 Cor – 126, 140 min.
Com: Fujiwara Tatsuya, Matsuyama Kenichi, Seto Asaka, Hosokawa Shigeki, Toda Erika, Fujimura Shunji, Kaga Takeshi, Kashii Yu, Nakamura Shido
drama crime thriller fantástico
Posters japoneses.
(Passe com o rato sobre a imagem.)
«Death Note»: Yagami Light (Fujiwara) é um estudante de Direito que encontra um peculiar livro de notas, que pertence a um Deus da Morte. O "Death Note" contém instruções detalhadas sobre o seu modo de utilização: o princípio básico é que escrever o nome de alguém provoca a sua morte, passados alguns segundos, mas, conforme Light irá descobrir, é possível criar todo um cenário em redor dessa mesma morte. Frustrado com a ineficácia da Lei e da polícia para punir criminosos, o jovem decide livrar o mundo de todos aqueles que conseguem fugir por entre as malhas do sistema judicial. Essa “moralidade” irá ser ajustada quando a polícia, auxiliada por um génio investigador conhecido apenas como “L”, procura descobrir a identidade do justiceiro “Kila”.

«Death Note 2»: Depois de pôr em prática um complexo esquema para afastar as suspeitas de que ele é “Kira”, Light conhece uma fã que durante algum tempo concorre consigo, a eliminar criminosos. A jovem apresentadora de televisão Amana Misa (Toda), também recebe de um Deus da Morte um livro com poder para matar.

Com base nas histórias de banda desenhada da autoria de Ohba Tsugumi e Obata Takeshi, publicadas em fascículos e compiladas em 12 volumes, a adaptação de «Death Note» (em inglês, no original), foi planeada ab initio para dois filmes, que viriam a estrear com alguns meses de diferença, em 2006. O primeiro chegou às salas em Junho e destronou «The Da Vince Code» do Nº 1 das bilheteiras, mantendo essa posição durante duas semanas; «Death Note 2: The Last Name» estreou em Novembro e foi Nº 1 por quatro semanas consecutivas.

O surpreendente sucesso dos filmes, que viriam a render 8 mil milhões de ienes 1 nas bilheteiras japonesas levou a que depressa fosse anunciada a produção de um spin off, com base na personagem de L. Nakata Hideo, que tem estado nos EUA a traduzir horror japonês para as audiências americanas, foi chamada para dirigir. Os dois filmes foram editados em DVD no Japão com um número recorde de um milhão de cópias a ser lançado inicialmente no mercado.

Fujiwara Tatsuya
Fujiwara Tatsuya.
Matsuyama Kenichi
Matsuyama Kenichi.
Toda Erika
Toda Erika: a personagem Amana Misa é apresentada no primeiro filme, mas desenvolvida apenas na sequela.
A acção do segundo filme inicia-se imediatamente após os acontecimentos do final do primeiro, seguindo-se a uma breve montagem destinada a avivar a memória do espectador. Os filmes foram planeados como uma única unidade narrativa, pelo que optei por tratá-los desse modo. Não existem particularidades, no âmbito técnico ou artístico, que me pareçam exigir uma análise separada. Se o leitor tiver a oportunidade – e quatro horas e meia disponíveis –, recomenda-se uma sessão dupla.

Para apreciar «Death Note» é preciso entrar no espírito manga que se tenta capturar – no ritmo, na representação, sobretudo física, atitudes das personagens e nas respectivas caracterizações. Que não se fique com a impressão, no entanto, que se trata de uma reprodução da estética cartoon da manga que poderá estar na mente de muitos que lêem este texto.

Nesse âmbito, os deuses da morte, por exemplo, são criaturas digitais, num estilo que não procura ser realista, mas se mantém mais próximo da animação. A início, pode parecer que não se integram com a imagem real, mas assim que aceitamos que escrever um nome num livro pode provocar a morte dessa pessoa, também deixamos de ter problemas com eventuais incoerências plásticas.

O melhor de «Death Note» decorre do entusiasmo com que os cineastas exploram as regras do jogo, tornando a intriga cada vez mais complexa, mas também mais interessante. O entusiasmo é partilhado pelo espectador que se deixar prender pela premissa. Este aspecto é satisfatório, por comparação com aqueloutras fantasias em que, chegado o final, ficamos a pensar que muito mais se poderia ter feito com o universo que nos foi apresentado. Aqui, sentimos que a lógica do Livro da Morte e as suas múltiplas regras é algo que se desenvolve com agilidade e sem forçar a lógica interna do filme, com vista à produção de surpresas artificiais. Para tal poderá ter ajudado o facto do autor da manga original não ter permitido que se improvisassem regras novas ou se alterassem as que por si foram criadas.

A ambiência de banda desenhada corresponde a uma certa atmosfera “juvenil” (ou light), mas sem que existam simplificações morais ou se deixe de apresentar alguma violência quando tal é requerido pelo guião. Não se trata de um filme de “terror”, mas a premissa – a facilidade com que se determina a morte de alguém e a verdadeira narrativa que é possível criar em redor desse acontecimento – deixa-nos imaginar a facilidade com que se produziria uma variante que assentasse no gore e na violência extrema. Mas perante filmes recentes que se concentram na violência pura, com textos que se limitam a servir a exposição do gore, como é o caso da série «Saw», «Death Note» é uma agradável brisa de ar fresco. O body count é extenso, mas a câmara não está preocupada com a estética do sangue e das mutilações. Mais do que isso, a maioria das mortes decorre de um muito pouco "cinemático" ataque cardíaco.

O filme conta também com uma curiosa personagem central. Light – interpretado por Fujiwara Tatsuya, protagonista de «Battle Royale» (2000) – não pára para reflexões morais. À medida que sente o gosto do poder, faz tudo para mantê-lo, não hesitando perante a opção de matar pessoas próximas, se tal for requerido para permanecer livre e continuar a aplicar a sua “justiça divina”. Light acaba por sentir a adrenalina e o fascínio pelo desejo de vencer o jogo do gato e do rato com a polícia e L, e tal virá a revelar-se mais importante do que a motivação original de servir a Justiça aos que se julgavam para além dela.

Death Note
Fujiwara não tem muito carisma, mas a sua inexpressividade assenta bem na personagem fria e calculista. Mais interessante é a composição de Matsuyama Kenichi como L. Em todo o caso, personagens e interpretações não devem deixar de ser vistas à luz do estilo do filme, nascido na manga.

O realizador Kaneko Shusuke dirigiu vários filmes da série «Gamera», «Godzilla, Mothra and King Ghidorah: Giant Monsters All Out Attack» (2001), «Azumi 2» (2005) e um segmento de «Necronomicon» (1993), ao lado dos de Christophe Gans e Brian Yuzna.

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1 Conversão à data da publicação: 47,657,286.79 EUR.

Disponível no Japão, na Coreia do Sul ou na edição mais acessível de Hong Kong: três discos, um para cada filme, mais um de extras (legendados em inglês). R3 é de esperar em DVDs japoneses editados em Hong Kong. Dada a popularidade dos filmes, é de prever edições europeias e americanas para breve.

publicado online em 18/7/07

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