Pumhaeng Jero [Conduct Zero]
Manner Zero, No Manners
품행제로
Realizado por Jo Geun-sik
Coreia do Sul, 2002 Cor – 99 min. Anamórfico.
Com: Ryu Seung-beom, Im Eun-gyeong, Kong Hyo-jin, Kim Gwang-il, Bong Tae-gyu, Choi U-ik, Lee Chang-wan, Geum Bo-ra
comédia acção
Poster
Park Jung-pil (Ryu) é o “rei” de um liceu sul-coreano, nos anos 80. A sua bravura e habilidade física para o pugilato são lendárias e usa o seu poder de intimidação para extorquir dinheiro dos alunos mais novos. A ex-namorada, Jang Na-young (Kong), lidera uma espécie de gang feminino num liceu próximo e tenta fazer a vida negra a outra aluna, Choi Min-hui (Im), uma menina bem-comportada que se sente atraída pelo “mau rapaz”, Jung-pil. Entretanto, outro “duro”, Sang-man (Kim), candidata-se ao lugar do “rei”.

A sinopse de «Conduct Zero» não promete muito de novo e é um facto que o texto segue estereótipos dos filme passados em liceus e protagonizados por adolescentes, onde não faltam as personagens mais ou menos tipificadas. A situação central, a relação entre o rebelde do liceu e a menina (aparentemente) frágil e boa aluna também não denota particular originalidade. No entanto, as personagens são bem delineadas, os actores estão à altura e o realizador Jo Geun-sik gere bem a mistura entre a comédia mais tola e um tom sério, mais vincado no final do filme.

O argumento é assinado por quatro autores nascidos no início dos anos 70, significando que fizeram o liceu na altura em que decorre a acção e terão atenção aos pormenores na recriação do ambiente da época, numa altura em que a Coreia do Sul estava ainda sob o jugo da ditadura militar. Lee Hae-jun e Lee Hae-yeong, têm trabalhado juntos noutros guiões, incluindo no recente «Like a Virgin» («Cheonhajangsa Madonna»), também a sua primeira longa-metragem, em co-realização 1. Lee Hae-jun também colaborou na escrita do argumento de «Antartic Journal» («Namgeuk Ilgi», 2005), com o realizador Im Pil-seong e Bong Jun-ho. Os outros dois argumentistas são Lee Ji-yeong e Jeong Jin-wan, este último co-argumentista de «No Blood no Tears», com o realizador Ryu Seung-wan (irmão mais velho do actor Ryu Seung-beom).

Na-yeong (Kong Hyo-jin) continua a procurar aproximar-se do ex-namorado, Jung-pil (Ryu Seung-wan).
É nos momentos finais que «Conduct Zero» — o título coreano é idêntico ao de «Zéro de Conduite» (1933), de Jean Vigo — mais diverge do convencionalismo que pontua obras similares, surpreendendo-nos com resoluções “realistas”, que evitam optar por uma de duas saídas em relação ao destino das personagens, ainda que o posfácio não deixe de ser apresentado com um tom de humor tolo e espalhafatoso. É com esse registo que o filme arranca, com cenas de acção que recorrem a efeitos digitais exagerados, similares a «Asterix et Obelix» (1999) ou «Shaolin Soccer» (2001), mas a atitude não é similar à desses títulos, porquanto a acção CGI mais exagerada surge apenas no âmbito dos relatos dos feitos de Jung-pil e Sang-man, dando ênfase ao modo fantasioso como algumas “lendas” são criadas.

O revivalismo dos nos 80 não poderá funcionar tão bem perante o espectador ocidental, devido a referências culturais específicas, por exemplo a música popular coreana da época, mas não deixam de surgir ícones mais universais, como quando Min-hui e Jung-pil manuseiam “Purple Rain” de Prince — ela comenta o facto do LP não parecer estar censurado. A tradução nem sempre funciona, mas o único momento que nos faz exclamar “como?!” é quando a legendagem parece sugerir que o protagonista não sabe contar até 10. Em coreano, a contagem é feita por via de trocadilhos, usando-se termos (como nomes de pratos) com fonética similar aos números, mas no inglês escreve-se apenas “1, 2, 3,...”, o que torna a cena algo ridícula 2.

Na-yeong tenta afastar Min-hui (Im Eun-gyeong) de Jung-pil.
Como comédia, «Conduct Zero» tem os seus momentos, mas conseguimos apreciá-lo pela ambição e capacidade de transcender o género, onde a interacção entre os actores principais acaba por ser um elemento estabilizador da narrativa.

Ryu Seung-beom e Kong Hyo-jin eram um casal na altura da rodagem e tal parece fazer sentido também no filme, ficando por apresentar razões para que os dois não estejam juntos, mesmo antes da concorrente entrar em cena. Curiosamente, em «Family Ties» (2006), de Kim Tae-yong, Ryu interpreta também o ex-namorado de Kong (numa altura em que já o eram também na vida real).

Im Eun-gyeong, que protagonizou «Resurrection of the Little Match Girl» (2002), de Jang Seon-u, e interpretou uma boneca (Mi-na) em «Puppetmaster» (2004), transporta uma aura de mistério; dócil e inocente, mas sugerindo ocultar uma personalidade diferente.

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1 Apesar dos nomes o sugerirem, com um mesmo segundo caracter de geração e apenas o terceiro diferente, os dois não são irmãos, mas apenas amigos e colegas.

2 Por exemplo, “ojineo” (lula) e “yukgaejang” (sopa picante de carne de vaca) surgem na contagem em vez de cinco (o) e seis (yuk).

DVD sul-coreano Metro/KM (R3) relançado a preço promocional. Dolby 5.1 e dts, 2.35:1 anamórfico (a capa está errada ao dizer 1.85:1). Também disponível nos EUA e Reino Unido pela ADV Films, com alguns extras legendados (ao contrário da edição coreana, como é normal), mas com pista de dobragem 5.1 por default e pista original 2.0.

publicado online em 14/1/07

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